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‘Liveiros’ precisam saber que há alguém do outro lado

‘Liveiros’ precisam saber que há alguém do outro lado

Nunca se ouviu tanto, e ainda está se ouvindo, a palavra live como agora durante o isolamento social. Tudo virou motivo para ser transformado numa live. Será este o futuro dos shows e eventos culturais, das aulas das escolas e universidades, das palestras, congressos e reuniões de empresas?

O Jornal do Commercio foi ouvir Matheus Jacob, autor dos livros ‘Homem que Sente’ (2016) e ‘Coragem de Existir’ (2019), um dos escritores mais lidos e comentados nas redes sociais, com mais de meio milhão de leitores. Em 2019, Matheus, que é formado em Economia pelo Insper, mestre em Filosofia pela PUC-SP, com educação executiva em Liderança e Comunicação pela Chicago Booth Business School e em Retórica e Persuasão pela Harvard University, fundou a Conte, empresa especializada no treinamento de empresas e líderes em habilidades de comunicação e liderança, como expressividade, influência e carisma. Leiam o que ele disse.

Jornal do Commercio: As lives vieram para ficar ou vão embora junto com a pandemia?

Matheus Jacob: As lives já eram um fenômeno presente, porém estavam restritas a algumas audiências específicas, principalmente no contexto dos influenciadores digitais. Com a pandemia, outras esferas de atuação e empresas enxergaram este movimento e fizeram a transição para esta nova oportunidade. Sem dúvida, é um movimento que fica, mesmo que em menor intensidade.

JC: Qual o segredo para uma live atrair público?

MJ: Conteúdos relevantes para audiências interessadas. Precisamos ter uma audiência interessada neste tipo de conexão e interação, porém precisamos ter a certeza de que levamos também um conteúdo relevante para aquele público. Senão, não conseguimos nos destacar em meio ao excesso de lives e conteúdos existentes.

JC: Durante o isolamento social fizeram (e estão fazendo) lives sobre tudo. Dá para saber quais as que mais têm atraído público?

MJ: As lives de maior sucesso neste momento são as que estavam conectadas com o isolamento social e inseridas dentro do contexto da covid-19. Podemos pensar esse movimento em duas frentes principais: lives educativas e informativas (sobre a covid-19, sobre a situação econômica, sobre formas de empreendermos), e lives de entretenimento (para trazer para as pessoas uma opção de lazer neste contexto). As que não souberam se conectar com o momento, acabaram não atraindo ou retendo a audiência.

JC: Muita gente se posicionou na frente do celular e começou a se filmar, mas não é por aí o caminho do sucesso, correto? Quais são as dicas para uma boa live?

MJ: Este é um caminho perigoso, principalmente se pensarmos em pessoas em cargos de influência ou maior exposição. Em um contexto informal e familiar, até poderia funcionar. Em contextos formais e profissionais, é fundamental termos preparo. Primeiro, é necessário focar no conteúdo. Saber o que dizer e o porquê. Depois, preparar o cenário, a qualidade do enquadramento, iluminação e afins. Por fim, ter um planejamento de divulgação e continuidade desta iniciativa.  

JC: Como na vida, os participantes de uma live só atrairão público se tiverem talento para o que se propõem? Como você analisa uma live que não teve sucesso e acabou tendo um efeito contrário?

MJ: As pessoas precisam ter três características fundamentais para as lives funcionarem bem: expressividade nos meios digitais, autenticidade e conteúdo relevante para sua audiência. As lives que pecam em um destes pontos são as que trazem o risco do efeito contrário. Podem, inclusive, trazer um dano de imagem à empresa justamente por esta aparência de mal sucedida.

JC: Live, como o nome já diz, é ao vivo, mas não é melhor gravar, editar, dar efeitos e só então jogar no ar?

MJ: Um dos fatores de tanto sucesso nas lives é a sensação de conexão. De estar ali presente com um autor, um cantor, um político. Traz uma sensação de proximidade e de disponibilidade. Com isso, conseguimos ler os comentários da nossa audiência, reagir a isso, ser mais espontâneos. Nos vídeos gravados, perderíamos isso. O ideal é aprender a usar o melhor dos dois mundos.

JC: E no caso das empresas, como preparar uma live de sucesso?

MJ: Todos os pontos relevantes para os indivíduos são importantes para empresas. Porém, neste caso, entram cuidados adicionais de pensar o posicionamento da marca neste cenário e qual é a melhor forma de se conectar com os consumidores. Em vários casos, por exemplo, talvez o presidente não seja a pessoa com mais intimidade para estas ferramentas. Vale inclusive treiná-lo e ter outra opção como porta voz. 

JC: Pode dar algumas dicas para uma boa live, tanto para empresas, quanto para pessoas físicas e influencers?

MJ: Tudo comunica. Ter um cuidado com a qualidade da conexão, da imagem, do áudio, além de saber ser assertivo e expressivo é o que nos faz construir um elemento de respeito e admiração pelas audiências. Meu conselho é tratarmos pessoas como pessoas, lembrando que há alguém do outro lado, e não menosprezarmos nenhum destes itens.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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