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Lideranças classistas reprovam aumento da Selic

Assim como aguardado pelo mercado financeiro, e sinalizado com antecedência pelo BC (Banco Central), o Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu elevar pela terceira vez seguida a taxa Selic, nesta quarta (16). Deliberado por unanimidade, o novo reajuste veio calibrado em 0,75 ponto percentual e fez os juros básicos da economia brasileira passarem de 3,5% para 4,25% ao ano. Dirigentes de entidades classistas ouvidos pela reportagem do Jornal do Commercio também foram unânimes em reprovar a medida.

Em comunicado, o BC indicou que deve seguir vitaminando a Selic na próxima reunião, marcada para os dias 3 e 4 de agosto, com um novo ajuste “da mesma magnitude”, dependendo do cenário. “Uma deterioração das expectativas de inflação para o horizonte relevante pode exigir uma redução mais tempestiva dos estímulos monetários. O Comitê ressalta que essa avaliação também dependerá da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e de como esses fatores afetam as projeções de inflação”, destacou.

O BC salientou ainda que a pressão inflacionária está acima do esperado, especialmente na indústria, mas citou outros obstáculos. “A lentidão da normalização nas condições de oferta, a resiliência da demanda e deterioração do cenário hídrico sobre as tarifas de energia contribuem para manter a inflação elevada, no curto prazo, a despeito da recente apreciação do real. O Comitê segue atento à evolução desses choques e seus potenciais efeitos secundários, assim como ao comportamento dos preços de serviços, conforme os efeitos da vacinação sobre a economia se tornam mais significativos”, frisou.

“Medida temerária”

O presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas), Antonio Silva, lembra que a elevação havia sido sinalizada há algum tempo e já era aguardada por todo o mercado. Para o dirigente a retração do consumo dos brasileiros pela pandemia já deveria refrear os preços e, juntamente com a nova elevação da Selic, pode apresentar uma dosagem além do necessário. Ele reforça ainda que, independentemente disso, a alta da energia – que é um preço administrado – deve continuar pressionando a inflação.

“O Copom justifica que a inflação acima do esperado continua pressionando a elevação, em especial sobre os preços industriais. Fato é que a medida tende a encarecer o custo de empréstimos e financiamentos. A economia brasileira deu sinais de recuperação além do esperado, mas qualquer medida que encareça o custo do investimento neste momento de recuperação é temerária e pode impactar negativamente as operações fabris”, alertou.

O presidente da Faea (Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas), Muni Lourenço, concorda que a decisão do Copom de reajustar novamente o preço do dinheiro já era esperado, em vista da resiliência da inflação, mas também mostrou reservas quanto à medida. “O impacto principal desse novo aumento da Selic pode vir pelo encarecimento nas taxas dos empréstimos e financiamentos para a atividade rural. Esperamos que não persista essa alta nos juros, para que os investimentos produtivos e a retomada econômica não sejam comprometidos”, lamentou

Especulação e inflação

Na análise do presidente da Fecomercio-AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), Aderson Frota, o novo aumento da taxa Selic não tem apenas objetivo de conter a inflação, mas também a diretriz de estabilizar o real frente ao dólar. Embora considere que ambas as metas devem ser entendidas, o dirigente considera que a inciativa tem o efeito colateral mais grave de deslocar capital potencial de aportes produtivos para a especulação financeira.

“Na minha concepção, isso não é saudável para a economia, dentro dos padrões normais de investimento para que a gente possa gerar uma série de fatores, como desenvolvimento, renda, emprego, etc. Sempre que vejo o mercado especulativo crescendo acima dos limites da normalidade, me preocupo, porque sei que, quanto mais atrativo ele for, menos investimentos teremos na economia”, reforçou. 

Já o presidente do Sinduscon-AM (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Amazonas), Frank Souza, considerou que a medida do Copom pode ser traduzida com a imagem de um “cachorro correndo atrás do rabo”. Embora diga que não se trata de dizer que a decisão é acertada ou não, porque a inflação é preocupante, o dirigente salienta que não dá para compatibilizar o aumento da cadeia de suprimentos com um novo aumento dos juros, que tende a inibir a atividade e tornar seus preços mais elevados.

“Está subindo tudo e a taxa de juros vai acompanhar, como era previsto. Inclusive a previsão é que a Selic chegue ao fim do ano em 5,5%. Isso é ruim porque vai elevar o preço das prestações na ponta do consumo, e o crédito para investimentos também vai ficar mais caro, contribuindo para encarecer os imóveis. Com toda essa cascata de aumentos de materiais e de energia, a taxa está acompanhando. Tudo vai encarecer e vai ficar mais difícil de vender. Por outro lado, há uma expectativa de que a economia vá continuar gerando negócios. Se for assim, a coisa tende a equilibrar”, concluiu.  

Taxa retorna a patamar pré-pandemia

Com o novo reajuste, a taxa básica de juros voltou ao mesmo patamar de fevereiro do ano passado – em nível pré-pandemia – e continua em um ciclo de alta, depois de passar seis anos sem ser elevada. De julho de 2015 a outubro de 2016, permaneceu em 14,25% ao ano. Depois disso, o Copom voltou a reduzir os juros básicos da economia até que a taxa chegou a 6,5% ao ano, em março de 2018. Em julho de 2019, a Selic voltou a ser reduzida até alcançar 2% ao ano em agosto de 2020, influenciada pela contração econômica gerada pela pandemia de covid-19. Esse foi o menor nível da série histórica iniciada em 1986. Porém, a taxa sofreu repique, em março deste ano, passando para 2,75%. Na reunião seguinte, voltou a sofrer aumento, indo para 3,5% ao ano.  

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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