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La puente

A ponte que o governo estadual promete construir li­gando Manaus ao município de Iranduba já existe, por ela passam diariamente milhares de carros, só que está localizada sobre o rio Orinoco, na Venezuela. Pelo menos é o que nos faz supor o projeto apresentado pelo governador Eduardo Braga e explorado em outdoors pelo deputado Francisco Souza, que se intitula um dos pais da ponte.
A semelhança do projeto com a ponte venezuelana é tanta que a nossa parece mais uma fotografia daquela, por sinal uma magnífica obra. Para quem pensou já ter visto todos os tipos de malandragens políticas esta é a uma superação: apresentar uma foto de uma ponte já construída como se fosse um projeto inovador para solucionar o problema de transporte dos municípios localizados a leste de Manaus.
Na realidade, a decisão de construir uma ponte sobre o rio Negro foi tomada mais como ato de pirotecnia do que como projeto de infra-estrutura, até porque a demanda dos carros que hoje atravessam o rio, pelas balsas, não exige uma obra de tal envergadura. No entanto, a idéia foi lançada e logo ganhou corpo, ganhou um pai: o governador Eduardo Braga, e também outro pai: o deputado Francisco Souza, que se apresenta como autor intelectual do projeto. Mas faltava o principal, no caso um projeto real sobre o qual possa se assentar o sonho de ligar Manaus ao Cacau Pirera. Então, aproveitou-se a visita do presidente Lula à Venezuela, ano passado, para inaugurar, ao lado do presidente Hugo Chávez, esta nova ponte sobre o rio Orinoco, e transportaram para o Amazonas a foto da obra, apresentando como se fosse o projeto da ponte que deve ser construída aqui.
Claro que uma ponte pode ser semelhante à outra, ainda mais quando ambas apresentam as mesmas características, mas a similaridade entre a que já existe com a maquete da que deve ser construída é grotesca. Neste ponto cabem uns questionamentos: Será que o projeto da ponte sobre o rio Negro será assinado pelo mesmo autor da ponte venezuelana? Quais modificações serão feitas para adaptar a obra ao nosso rio? E quando iniciará mesmo a construção da ponte? Tomara que aqui não se repita a mesma história da BR 319, cuja recuperação foi anunciada como a redenção para o Amazonas, mas até agora nenhum carro circula pela estrada, e não se sabe sequer se as obras continuam, porque as notícias sobre sua conclusão são contraditórias. O ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, já disse que a estada deve ficar pronta somente lá pelo ano de 2012, quando o governo Lula já estiver acabado e, muito pro­vavelmente, Alfredo já estará ocupando outro cargo na República.
Obras de grande vulto são demoradas, mas todas começam com um projeto. Com relação à ponte sobre o rio Negro falta este projeto, porque a concorrência ainda está aberta e ninguém sabe como será sua estrutura e muito menos sua arquitetura. Estudos devem ser feitos para avaliar estas questões. Mas como construir obras virtuais é mais fácil, a propaganda se antecipou e apresentou um modelo que impressiona. Foi tudo muito rápido, do anuncio da vontade de construir a ponte até a apresentação do projeto se passaram meses e, dias depois, outdoors foram espalhados pela cidade com a fotografia da obra. A rapidez na concepção do projeto só poderia indicar algo de errado que um mês de férias na Venezuela revelou: a ponte que anunciaram para o rio Negro já existia e é o melhor caminho para se chegar à Margarita, destino de mi­lhares amazonenses neste início de ano.
Férias em Margarita se mostraram reveladoras, não apenas pelo truque desvendado da ponte, mas também pela constatação fatalista de que a BR 174 é uma tragédia em termos de engenharia. A estrada é uma buraqueira já conhecida por todos, mas outra vez aqui volta-se ao ministro Alfredo Nascimento, que sequer providenciou obras de tapa-buraco para aliviar o sofrimento de milhares de amazonenses que se dirigiram para a Venezuela, como se faz todo ano. Alfredo, aliais, deveria fazer esta viagem também, de carro, para conhe

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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