O início de toda carreira profissional é marcado por um misto de insegura e ousadia. Afinal de contas, não sabemos se aquilo que aprendemos nos bancos escolares e universitários é suficiente para exercermos, com excelência, a função que nos preparamos de corpo e alma por anos e anos. Apesar de incerteza inicial, seguimos a caminhada na fé.
O magistério é uma vocação quase sacerdotal. Não basta saber muito ou ter notório saber de causa. É preciso ter alguma coisa a mais e o nome disso é vocação. Tornar-se professor é uma experiência fenomênica que pode modificar a nossa vida pessoal e a de outras pessoas. Por isso, é um compromisso social e uma imensa responsabilidade que temos.
Esta relação constante e afetuosa de alteridade é mediada sempre pelo objeto de estudo. Ou seja, professores e estudantes encontram-se para meditar em conjunto a respeito do objeto do conhecimento, como um bom técnico do saber prático.
Antes de me tornar professor já fui aluno. Estudante mediano, porém esforçado. E ao longo de toda essa trajetória é certo que encontramos aqui e acolá os nossos mestres ou modelos exemplares de como ser um bom professor.
Na escola, não consigo me esquecer do prof. Gerson Brelaz, um esgrimista nas aulas de Geografia. Não eram apenas aulas, mas a transmissão de um conjunto de emoções capaz de deixar uma turma polvorosa em estado de permanente concentração.
Prof. Adison conseguiu o impossível: ensinar-me a gostar de matemática. Não que eu tenha aprendido como deveria, mas só o fato de eu ter me inspirado para um assunto tão distante dos meus interesses juvenis já foi alguma coisa.
A minha experiência universitária foi mais proveitosa. Lá tive contato com grandes professores amigos. Professores como Paulo Monte (Paulão), Arnóbio Alves Bezerra, Antônio Carlos Witkoski, Almir Menezes, Renan Freitas Pinto, Selda Vale. Tive sorte e peguei uma ótima temporada professores de Ciências Sociais.
No mestrado não foi muito diferente. Em outra cidade do país, iniciei uma nova caminha com novos mestres, dentre os quais destaco os professores Roberto Corrêa, Luzia Miranda, Alberto Teixeira, Celso Vaz, e tantos outros.
O ato de ensinar é um ato de admiração. É fazer de toda a sua experiência cognitiva e intelectual uma forma de diálogo com os alunos e o mundo. Assim, transformamos o desejo em projeto e em realidade.
Para além da admiração que tenho até hoje por todos os meus professores, raros foram aqueles que me ensinaram a ensinar. Eis aí uma árdua tarefa.
A profa. Jussará tem um talento especial para ensinar a ensinar. A mestra dos professores da Faculdade La Salle sempre nos brindou com a sua experiência profissional aliada a uma sólida formação acadêmica. A professora dos professores foi a responsável direta pela formação pedagógica continuada de uma geração de profissionais na cidade de Manaus.
Tanto nos momentos de Reflexão diária antes das aulas, quanto na Semana Acadêmica, no início de todo semestre, a profa. Jussará promovia o encontro entre os mais avançados métodos educacionais com a vivência docente iniciada por São João Batista de La Salle no século XVII.
As mudanças na carreira magisterial não são tão animadoras: achatamento da massa salarial, déficit de autoridade em sala de aula, lotação das salas de aula e expansão do ensino a distância (EAD) que inevitavelmente substituirá o professor presencial pelo professor virtual. O capitalismo 4.0 mudará definitivamente a forma como ensinamos e aprendemos. Apesar de tudo, precisamos manter vivos o ânimo da profissão e a força de vontade da vocação magisterial. De todas as lições da profa. Jussará talvez esta seja a mais importante.
A brilhante carreira profissional da profa. Jussará na Faculdade La Salle ajudou a imprimir a excelência na qualidade de ensino. E certamente este será o seu maior legado na instituição. Prosseguiremos o seu trabalho, professora.
Deixo o leitor com o ensaio poético do professor Daniel Nava**, meu colega de trabalho, que soube como ninguém homenagear a profa. Jussará.
“Senhora Professora Jussará Lummertz
Minha nossa Professora
Nasce no Sul do Brasil
Numa Terra de Gerreiros
De Anas, Marias, Getúlios
Um Céu de Estrelas, montanhas
Desejos, desejos mil
Sonhos e sonhadores verdejantes
Guris e gurias 10 a 0
Sorriso sincero varonil.
Em uma trova de Zarur
Ouvi muita semelhança
"Marcharemos no Sul e no Norte,
Ninguém pode essa Marcha deter.
Pois se nós não tememos a morte.
A quem é que nós vamos temer?"
Presente, presentes crianças
Jovens, Adultos, Velhinhos
Suas mãos mostraram caminhos
De pedras, desafios, espinhos.
Na Arte da Educação.
Nasceu num dia Grandioso
Feriado Nacional
Um mês depois de outubro
De Francisco, Maria, crianças, professores
Nos fazendo todos Autores e Autoras
De caminhos, esperança e novelas divinais.
Numa Sociedade machista ciumenta
Destaca se pela generosidade
Uma general 1000 estrelas
Uma Mãe professora de
Todos Nós.
Cresci e me tornei Doutor
Chorei muito em seus braços
Desejei, ressignifiquei conceitos
Gerei categorias, É fato
Mas nunca nos faltou
Seu toque, um sorriso sincero
Um abraço.
Eis que na curva do Caminho
Se despede,
15 anos foram pouco.
Mas a vida se renova.
Luteranos, Católicos, Ateus
O que importa?
A Educação dá trabalho
E ela gosta.
De dia, de tarde, madrugada
O que importa?
O mundo se renova
E bate a porta
Muitos se vão e sentimos falta.
Há muito o silêncio
A luz apagada da sala nos mostra
Que Maria se vai Linda e Majestosa
Levando Jesus em seus braços.
De certo, que a Inês é morta.
Qual será o destino da Professora?
Não sei, é fato, mas o que importa.
Será feliz na casa que abrir a porta.
Mães professoras nunca se aposentam,
Nos ensinam até o último suspiro,
Que é sempre dia de renovar nosso destino.
Cara Irmã Professora Jussará
Com carinho de um dos seus filhos poeta
Com amor e muito desejo.
De muitos almoços, jantares, vinhos e queijos.
Afinal nossas vidas continuam
Entrelaçadas.
Elos de uma Paixão e
Um Beijo enorme no seu coração.”
Educação é Trabalho
*Breno Rodrigo é professor e cientista político
**Daniel Nava é é professor e geólogo