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Juros bancários voltam a subir em maio, aponta Anefac

Os financiamentos bancários escalaram pelo sexto mês consecutivo, em maio, de acordo com a pesquisa mensal da Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade). O acréscimo no custo de dinheiro voltou a pesar em todas as linhas de crédito sondadas, e novamente mais sobre as pessoas jurídicas (+1,63%) do que para as físicas (+1,38%). A entidade prevê novas altas, em face dos aumentos da Selic e da inadimplência, entre outros motivos.

Divulgada nesta terça (22), a ata do Copom (Comitê de Política Monetária) sinaliza um novo reajuste de 0,75 ponto percentual na taxa básica de juros, na próxima reunião, marcada para os dias 3 e 4 de agosto. As estatísticas mais recentes do Banco Central, por outro lado, apontam houve elevação no nível de inadimplência das operações de crédito do SFN (Sistema Financeiro Nacional) em todo o país, em abril, tanto para consumidores, quanto para empresas. Em paralelo, o volume de concessões recuou, em ambos os casos. 

De acordo com a Anefac, as pessoas jurídicas amargaram o reforço de 1,63% na média dos juros para as linhas de crédito bancário destinadas a elas, reposicionando a taxa do empréstimo de 3,07% para 3,12% mensais – o patamar mais elevado desde março de 2020. Para as pessoas físicas o incremento foi de 1,38%, passando de 5,80% (março) para 5,88% (abril) ao mês – o maior valor desde dezembro de 2019. As respectivas taxas anuais ficaram em 44,58% e 98,50%.

Em material divulgado pela assessoria de imprensa da Anefac, o vice-presidente de estudos e pesquisas da entidade, Miguel José Ribeiro de Oliveira, atribuiu os números novamente às escaladas dos juros futuros e da Selic. As elevações da alíquota de CSLL (Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido) para instituições financeiras e da inadimplência – favorecida pelo fim das carências nos empréstimos, desemprego, inflação e maior seletividade dos bancos – também foram listados. Oliveira avalia que a tendência dos próximos meses ainda é de trajetória de expansão para os juros. 

“Pressão inflacionária”

Por enquanto, o BC demonstra que a tendência de curto prazo para os juros ainda é de alta. Uma semana após elevar a Selic de 3,5% para 4,25% ao ano, o Copom informou, em sua ata que ainda vê “persistência da pressão inflacionária”, mas já identifica tendência de melhora na economia do país. “Adicionalmente, a lentidão da normalização nas condições de oferta, a resiliência da demanda e implicações da deterioração do cenário hídrico sobre as tarifas de energia elétrica contribuem para manter a inflação elevada no curto prazo, a despeito da recente apreciação do real”, frisou o texto da ata.

No cenário externo, a ata registra que estímulos fiscais e monetários em países desenvolvidos promoveram “recuperação robusta” da atividade, corroborando para cenários mais otimistas. “No cenário básico, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio partindo de US$ 5,052, e evoluindo segundo a paridade do poder de compra, as projeções de inflação do Copom situam-se em torno de 5,8% para 2021 e 3,5% para 2022”, assinalou, acrescentando que as respectivas taxas de juros são 6,25% e 6,5% anuais.

Para a próxima reunião do Copom, a expectativa do Banco Central é de “continuação do processo de normalização monetária com outro ajuste da mesma magnitude”. O comitê, no entanto, ressalta que uma deterioração das expectativas de inflação para o horizonte “pode exigir uma redução mais tempestiva dos estímulos monetários”.

Afunilamento nos empréstimos

As causas e efeitos da política monetária mais austera já podem ser vistos no afunilamento dos empréstimos. O BC ainda não divulgou os dados de maio, mas a inadimplência nas operações com recursos livres em todo o país saiu da estabilidade para a alta, em relação ao mês anterior. Para as pessoas físicas, ela passou de 4,11% para 4,14%, embora ainda se mantenha abaixo da marca de abril de 2020 (5,51%) – auge da primeira onda no país. O mesmo se deu para as pessoas jurídicas, com acréscimo entre o terceiro (1,65%) e o quarto (1,69%) mês de 2021, ficando ainda aquém do patamar de 12 meses atrás (2,38%). 

O mesmo BC indica que o saldo brasileiro das operações de crédito do SFN para as pessoas físicas de abril (R$ 171,207 bilhões) foi na direção contrária, sendo 0,68% menor que o de março (R$ 172,373 bilhões), mas 40,91% superior ao de março de 2020 (R$ 121,500 bilhões). Para as jurídicas (R$ 168,602 bilhões) o volume desabou 12,77% ante o mês anterior (R$ 193,289 bilhões), mas ainda se manteve 16,48% acima do combalido número do ano passado (R$ 144,752 bilhões).

“Viés de alta”

O presidente do Sindecon-AM (Sindicato dos Economistas do Estado do Amazonas), Marcus Evangelista, reforça que a procura por crédito vem aumentando apesar do maior custo bancário e das restrições cadastrais, gerando menos volume de empréstimos. O economista, contudo, destaca o papel preponderante da Selic nessa dinâmica e avalia que o viés ainda é de alta para os juros, tanto os básicos, quanto os de mercado.

“Apesar de termos aumentos de energia e o câmbio pressionando os preços, há um consenso de que, enquanto a inflação não for controlada, a solução ainda é conter o consumo, que segue alto. Isso pode ser visto na procura por financiamentos imobiliários e, nos financiamentos para caminhões, também está elevada, mesmo que a entrega esteja programada apenas para outubro”, exemplificou.

Na análise do presidente do Sindecon-AM, o mercado está aquecido por estímulos, como os auxílios emergenciais e os adiantamentos de 13º salário, além de contar com mais confiança por conta do melhor ritmo de vacinação. “O marco divisor será a imunização. Muitas pessoas estão achando que ela já está a caminho, mas creio que chegará apenas em novembro. Com isso, devemos ter melhora na economia e juros menores em fevereiro de 2022, que deve ser um ano muito bom”, arrematou. 

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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