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Juros bancários caem em outubro

Juros bancários caem em outubro

A despeito da interrupção de cortes dos juros da Selic, por parte do Copom (Comitê de Política Monetária), os juros dos financiamentos bancários seguem caindo na ponta e emendaram sua sexta retração consecutiva, em outubro. O movimento se deu em todas as linhas de crédito, para pessoas físicas e jurídicas analisados pela Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade). 

As baixas seguiram em sintonia com o aumento das concessões de crédito e a redução da taxa de inadimplência nos bancos, detectado no mês anterior, pelo Banco Central. A Anefac, contudo, reforça que as condições econômicas para a manutenção do custo do dinheiro em patamares cadentes seguem em deterioração, ante um cenário de crescente endividamento público e falta de uma solução de continuidade para as políticas anticíclicas para a crise da covid-19. 

Segundo a Anefac, o custo do dinheiro para pessoas físicas retrocedeu 0,36% e passou de 5,56% (setembro) para 5,54% (outubro) ao mês – o menor valor desde agosto de 2013. O decréscimo percentual para a média dos financiamentos a pessoas jurídicas foi bem maior e chegou a 1,04%, reduzindo a taxa de 2,89% para 2,86% mensais – o patamar mais baixo da série histórica. As respectivas taxas anuais ficaram em 90,99% e 40,27%.

Os cortes, contudo, foram bem mais tímidos do que os da Selic. Consideradas todas as elevações e reduções promovidas pelo Banco Central desde março de 2013, o juros básicos sofreram decréscimo de 5,50 pontos percentuais (ou 72,41%), passando dos 7,25% de mais de sete e meio anos atrás para os 2% atuais. No mesmo período, a taxa média para pessoas físicas avançou 3,02 pontos percentuais (+3,43%), de 87,97% para 90,99% ao ano. No caso das pessoas jurídicas, os juros caíram 3,31 p.p. (-7,60%), com 40,27% (2020) contra 43,58% (2003).

Oferta e inadimplência

Por enquanto, o saldo das operações de crédito do Sistema Financeiro Nacional no Amazonas tem sido crescente, segundo os dados mais recentes do Banco Central. Para as pessoas físicas, setembro (R$ 19,251 bilhões) foi 1,29% melhor do que agosto (R$ 19,005 bilhões) e 12,87% superior ao saldo registrado 12 meses antes (R$ 17,055 bilhões). Para as jurídicas, o resultado foi ainda melhor: o volume (R$ 14,021 bilhões) cresceu 7,32% sobre o mês anterior (R$ 13,065 bilhões) e subiu 36,58% em relação a setembro de 2019 (R$ 10,266 bilhões).

Em paralelo, a mesma base de dados do BC indica que a trajetória da inadimplência nas operações de crédito no Sistema Financeiro Nacional vem sendo descendente no Amazonas. A taxa das pessoas físicas apresentou seu quarto recuo seguido desde maio, ao passar de 3,85% (agosto) para 3,57% (setembro), além de retroceder também no confronto com o mesmo mês de 2019 (3,82%). No caso das pessoas jurídicas, a variação mensal da taxa caiu de 1,02% para 0,94%, na quinta baixa consecutiva desde abril e não chegou nem à metade do número de 12 meses atrás (2,04%). 

Risco e repique

Diretor executivo de estudos e pesquisas da Anefac, Miguel José Ribeiro de Oliveira, reafirmou, no texto distribuído pela assessoria de imprensa da entidade, que a rebaixa nos juros se deve à redução dos depósitos compulsórios, operações de crédito com juros baixos e aportes do governo para pagamento das folhas das empresas pequenas e médias. O dirigente, que também é o responsável pela sondagem, aponta ainda outros fatores, como a renegociação de dívidas com remunerações menores e o cuidado dos bancos em não agravar o quadro de inadimplência e solvência dos tomadores.

Oliveira considera, no entanto, que o horizonte para juros baixos continua fechando, em decorrência da deterioração do cenário econômico pela crise da covid-19 e a percepção de risco de crédito e de elevação da inadimplência. A tendência, segundo o diretor executivo de estudos e pesquisas da Anefac, é de um repique, nos próximos meses. “Mas algumas ações do BC podem amenizar estas altas, como redução de impostos, compulsórios e reduções da Selic”, encurtou.

Fintechs e flexibilização

O presidente do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Estado do Amazonas), Francisco de Assis Mourão Junior, voltou a discordar da avaliação da Anefac. Para o economista, as forças de mercado, materializadas pela queda da Selic, inflação ainda sob controle, elevação de demanda gerada pela flexibilização econômica na pandemia e aumento da concorrência das fintechs, ainda apontam para uma tendência de baixa prolongada nos juros – ou pelo menos uma estabilização em níveis baixos.

“Os bancos digitais estão operando uma verdadeira revolução em um mercado que sempre foi muito concentrado. É o caso até das maquininhas de crédito, que antes tinham de ser compradas e agora são oferecidas de graça ao correntista interessado em empreender. As pessoas ainda estão buscando crédito e a juros mais baixos, sendo que a própria cautela ajuda nessa queda de juros”, apontou.

Indagado sobre o horizonte da continuidade da retração do custo do dinheiro na ponta, o presidente do Corecon-AM assinala que só vê possibilidade de reversão dessa tendência, em caso de um aumento na Selic e de uma redução dos empréstimos compulsórios, por parte do BC. Isso geraria uma pulverização no mercado de capitais, com o volume de recursos destinados aos empréstimos sendo reduzido em favor de capital para outras aplicações, mas o economista descarta essa mudança brusca de cenário, no curto prazo. 

“Em função da pandemia e de seus impactos econômicos, o governo vêm priorizando o capital produtivo, em detrimento do especulativo em um movimento que reduz a dívida pública no curto prazo, embora aumente no longo prazo. Só haveria essa alta da Selic, em caso de descontrole inflacionário, algo que o mercado sinaliza não acreditar, apesar da alta momentânea de alguns produtos e a valorização do dólar, que vem ocorrendo no mundo todo”, arrematou. 

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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