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João Melo lança ‘Campo das águas’, seu novo livro de poesias

Quem viveu os áureos tempos dos bumbás Garantido e Caprichoso, em Manaus, entre 1995 e 2000, certamente se maravilhou com as belas músicas e poesias compostas e escritas por parintinenses. A partir da década seguinte, novos compositores surgiram, aumentou a quantidade de cabeças pensantes mas, a qualidade das toadas, tanto músicas quanto letras, caiu vertiginosamente, prova é que ninguém as sabe e as canta como antes.

Um dos responsáveis por aquelas letras, verdadeiras poesias, foi o parintinense João Melo Farias, que neste sábado, 19, às 10h, na Biblioteca de Incentivo à Leitura Tenório Telles, localizada num container dentro do conjunto João Bosco, na av. Torquato Tapajós, irá lançar seu terceiro livro de poesias, ‘Campo das águas’.

Quem não lembra de ‘Vale do Javari’, 1996; ‘Morte do Sol’, 1997; ‘Continente perdido’, 1998; ‘Wat’amã’, 2000; ‘O dia da criação’, 2000; ‘Casa das flautas’, 2000; ‘Nações extintas’, 2001; ‘Yê Pá, a deusa da criação’, 2002, apenas para citar as que foram executadas à exaustão pelas rádios naquela época?

Apesar de ser torcedor do Garantido, curiosamente a primeira toada de sucesso estrondoso escrita por João Melo é ‘Vale do Javari’, defendida pelo Caprichoso. Uma das mais belas toadas de todos os tempos, gravada por Arlindo Júnior, a letra chegou às mãos do musicista Ronaldo Barbosa enviada por João e, na época, ele nem imaginava que seria transformada em música, e gravada.

“Em 1995, trabalhando na Funai, fui para Atalaia do Norte, onde está localizado o Vale do Javari. Um dia, numa canoa com motor de popa, no meio do rio, me veio a inspiração. Como não tinha papel, pedi a carteira de cigarros de um amigo que estava junto comigo e escrevi a poesia naquele papel da carteira. Na cidade, pelo fax, mandei a poesia para o Ronaldo Barbosa”, contou.

Cadê meu nome?

Muito tempo depois, já em Tabatinga, João Melo ouviu a toada ‘Vale do Javari’ numa rádio local e quando foi prestar atenção, a letra era a poesia que ele havia escrito no ano anterior. Maior surpresa teve quando, em Manaus, ao ter em mãos o CD do bumbá azul e branco, não constava seu nome como autor da letra.

“Entrei na Justiça e como tinha as provas de que a letra era minha (havia guardado o papel da carteira de cigarros), ganhei a causa e os CDs foram retirados das lojas, voltando novamente com uma nova capa onde constava meu nome. Por isso existem CDs por aí onde não aparece meu nome”, explicou.

Como todo parintinense que vem morar em Manaus, na época do Festival Folclórico João Melo voltava para Parintins. Aqui ele se formou em administração, em 1986.

“Todo ano ia a Parintins. Sou da época do tabladão, quando nem se sonhava com bumbódromo. Gostava de fotografar os bois e escrever, pra mim mesmo, sobre o que achava daquilo que entrava na arena. Enchia cadernos com estes escritos”, recordou.

Em 1992 João Melo começou a trabalhar na Funai, e foi designado para atuar em Parintins.

Desde a inauguração do bumbódromo, em 1988, o Festival Folclórico crescia ano a ano. Ronaldo Barbosa, então dentista da Funai, era a grande estrela das toadas do Caprichoso.

“Eu não tinha a pretensão de fazer toadas, mas escrever um livro de poesias. Quando ia a serviço, para o interior, o Ronaldo ia junto. Então eu mostrava as poesias para ele que, desde 1991, já fazia toadas pro Caprichoso”, contou.

Alguma coisa mudou

João Melo, volta à ideia inicial de quando começou a escrever poesias: publicá-las em livro – Foto: Divulgação

Em 1993 e 1994 duas toadas escritas por João Melo foram defendidas pelo Caprichoso, mas como ainda não eram gravadas em CD, não faziam sucesso em Manaus, tanto que ele nem reclamou pelo fato de seu nome não aparecer como letrista. Com o ‘estouro’ de ‘Vale do Javari’ foi diferente.

Ainda em 1996, João Melo passou a compor para o Garantido, agora com os irmãos Inaldo e Tony Medeiros, e os sucessos continuaram: ‘Morte do Sol’, ‘Continente perdido’, ‘Wat’ amã’, ‘O dia da criação’; com Fred Góes, ‘Casa das flautas’; e com Sidney Rezende, ‘Nações extintas’.

“Em 2002 foi gravada a minha última toada e, apesar de continuar a produzir e mandar minhas composições todos os anos para o Garantido, nunca mais nenhuma delas foi escolhida. Não sei o que aconteceu. Alguma coisa mudou na seleção das toadas, e não sei se foi para melhor”, lamentou.

João Melo passou, então, a se dedicar à ideia inicial de quando começou a escrever poesias: publicá-las em livro. O primeiro, de 2002, foi ‘Cismas do interior’, onde constam algumas de suas toadas famosas, depois veio ‘Aprendiz de poeta’, e agora ‘Campo das águas’.

“Campo das águas são as áreas de várzea, cobertas por canarana e mureru, como se fossem campos, mas com água embaixo, tudo muito bonito, principalmente nesse momento de cheia. O livro está dividido em três tempos: águas, cultura indígena e folclore de Parintins”, detalhou.

“Minha inspiração surge do que vejo na natureza, dos índios. Pesquiso em livros e junto aos próprios índios. Ainda trabalho na Funai. Conheço uns 30 povos indígenas, onde pego muita informação”, concluiu.

Quem quiser solicitar os livros de João Melo, pode ligar para o 9 9177-5274.

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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