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JC acompanha transformações há 118 anos

Muita coisa mudou nos últimos 118 anos. Quantas descobertas, quantas inovações, quantos acontecimentos marcantes. A sociedade passou por profundas modificações. O Jornal do Commercio de Manaus, que hoje faz aniversário, acompanhou de perto essas transformações, tornando-se um documento vivo de nossa História entre os séculos XX e XXI.

Quando foi fundado, em 02 de janeiro de 1904, vivia-se um contexto de avanço industrial, de expansão do capitalismo nas mais vastas áreas do globo. O comerciante Joaquim Rocha dos Santos, a par dessas transformações, que se processavam com bastante intensidade do Amazonas, que via sua economia crescer graças à exportação da borracha, decide criar o Jornal do Commercio, folha especializada na atividade comercial. Assim se expressou em sua primeira edição:

“Fazendo-se orgão do principal elemento de ordem e de progresso, que é o commercio, este jornal vem, innegavelmente, satisfaser a uma das mais palpitantes necessidades de nosso meio social e supprir uma lacuna que, já ha muito, se recente a vida manauense – um diario que preferentemente advogue e defenda os interesses comerciaes d’ esta vasta e rica região do Brasil”.

O jornal era impresso em uma tipografia localizada em sua sede, na Avenida Eduardo Ribeiro. A partir de 1912, agora sob a direção do advogado, jornalista e teatrólogo carioca Vicente Torres da Silva Reis, passou a ser impresso em três máquinas de linótipo importadas dos Estados Unidos. Elas foram montadas pelo engenheiro norte-americano Mariano Alfredo Walderrama. As páginas ganharam mais qualidade gráfica, com a introdução de xilogravuras e posteriormente fotografias. Era a modernidade que chegava a Manaus.

Notícia sobre início da Primeira Guerra na edição de 29 de julho de 1914/Crédito: Acervo JC

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Com correspondentes em Portugal, o Jornal do Commercio foi um dos primeiros a noticiar o início da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). A Áustria declarou guerra à Sérvia em 28 de julho de 1914. No dia 29 o jornal já noticiava: “Está declarada a guerra entre a Áustria e a Sérvia”. Em 1930, quando Getúlio Dornelles Vargas chegou ao poder através de um golpe militar, coube ao jornal noticiar a queda do governo federal e a deposição do Governador do Amazonas, Ephigênio Ferreira Salles: “O Povo Soberano, usando do direito da revolução, confraternisa com as forças armadas e faz victoriosa a causa nacional. A ira popular manifestou-se contra os remanescentes do ephigenismo que formava a “entourage” do governo decahido”.

Rendição do Eixo nas páginas do JC do dia 2 de setembro de 1945/Crédito: Acervo JC

No final da década de 1930 tinha início mais um conflito que tomaria proporções mundiais, e o JC informava: “Allemanha e Polonia degladiam-se”. O Jornal do Commercio também noticiou a partida de amazonenses para os campos de batalha na Itália e a derrota do Eixo em 1945. Ambos os conflitos eram fruto da avidez por novos territórios a serem explorados, pelo desejo de se estabelecer uma hegemonia econômica e bélica. Em 1918, além dos conflitos bélicos, ganharam as páginas do JC o surgimento de uma doença que estava vitimando milhares de pessoas na Europa e na América do Norte: a Gripe Espanhola, ou Hespanhola, como se noticiava. Diariamente o Jornal do Commercio informava as medidas tomadas pelas autoridades públicas, o número de vítimas e, finalmente, no final de 1919, a diminuição dos casos.

Notícia sobre a gripe espanhola na edição do dia 26 de outubro de 1918/Crédito: Acervo JC

Com a crise da economia gomífera, acentuada na década de 1920, o Amazonas entrou em um período de estagnação. Vicente Torres da Silva Reis, proprietário do Jornal do Commercio desde 1907, decide vendê-lo em 1943 para os Diários Associados, à época o maior conglomerado de mídia da América Latina, fundado por Francisco Assis Chateaubriand de Mello (1892-1968). A Rádio Baré também é comprada. Em 1945, o diretor João de Medeiros Calmon (1916-1999) comprou uma rotoplana (prensa planorrotativa) de segunda mão no Rio Grande do Sul. Dava-se adeus às máquinas de linotipo implantadas em 1912.

Notícia sobre a idealização da ZFM no dia 31 de julho de 1957/Crédito: Acervo JC

Como contornar a crise que se abatia sobre o Estado? Pensou-se em uma zona de livre comércio que incentivasse a instalação de empresas na capital. Em 1957, o Deputado Federal Francisco Pereira da Silva idealiza a Zona Franca de Manaus, à época um Porto Livre, através da Lei N° 3.173 de 06 de junho de 1957. Nesse mesmo ano, estampou a primeira página da edição do dia 31 de julho a matéria “Zona Franca em Manaus na ordem do dia”, que discorria sobre as expectativas que a medida gerava nos empresariados local, nacional e internacional, interessado nas importações e exportações”. 10 anos depois, em 1967, a Zona Franca de Manaus é oficialmente criada através do Decreto Lei N° 288, de 28 de fevereiro. No dia 01 de março daquele ano era publicada na primeira página do Jornal do Commercio a matéria “Nova fase para o Amazonas. Manaus dentro da Zona Franca”, em que o autor afirmava que “A transformação da cidade de Manaus em Zona Franca provocou justificado entusiasmo nos circulos administrativos, industriais, comerciais e, enfim, em todos os setores das mais diversas atividades, sendo saudada com a maior euforia”.

Manaus com ZFM na edição de 1 de março de 1967/Crédito: Acervo JC

Em 1959 assume a direção do jornal o jornalista Epaminondas Corrêa Barahuna. A administração de Epaminondas Barahuna foi marcada pela modernização. Na edição de 01 de janeiro de 1970, em nota sobre o aniversário do periódico, foi registrado que “este último timoneiro, que ora se desdobra no afã de reequipar de material moderníssimo o órgão decano da imprensa amazonense, dar-lhe-á a feição nova com que muito em breve – dentro de 60 ou 90 dias – reafirmará a sua tradicional supremacia”.

No dia 27 de junho de 1970 foi inaugurado na oficina do jornal a rotativa ‘Goss Community’ de impressão ‘off-set’ (impressão indireta, com maior custo-benefício e qualidade, pois impedia a danificação do papel pela tinta). Garantindo a impressão de 14.000 mil exemplares por hora, foi a primeira da região Norte e uma das primeiras do Brasil, ao lado da instalada no Correio Brasiliense, também dos Diários Associados. A primeira edição impressa em ‘off-set’ foi publicada no dia 28 de junho, com grande repercussão pela cidade e se esgotando rapidamente, impressionando os leitores com o novo padrão de impressão e reprodução de imagens.

Visita do papa João Paulo 2 na edição de 11 de julho de 1980/Crédito: Acervo JC

Uma das visitas mais ilustres que já ocorreu no Amazonas, a do Papa João Paulo II, foi amplamente divulgada: “Manaus acolheu peregrino de Deus em clima de apoteose e entusiasmo”. 04 de dezembro de 1984 marca o início de uma nova fase: Depois de mais de 40 anos como propriedade dos Diários Associados, o jornal é comprado pelo empresário amazonense Guilherme Aluízio de Oliveira Silva (1937-2019), que também adquiriu a Rádio Baré. Era um sonho antigo de Guilherme ter o seu próprio jornal, pois entre 1955 e 1960, ele foi repórter e redator do jornal A Gazeta. Foi com Guilherme Aluízio que o jornal ficou restrito ao tripé economia, política e entretenimento, afastando-se de aspectos comuns em outros periódicos, como as páginas policiais, circulando principalmente através de assinaturas mensais e anuais. 

Em 1987 o Jornal do Commercio tornou-se o primeiro jornal da região Norte a ter um selo de garantia, o IVC, Instituto Verificador de Circulação, posteriormente conhecido como Instituto Verificador de Comunicação, entidade sem fins lucrativos que certifica o desempenho de veículos impressos e digitais. Após maciço investimento, o Jornal do Commercio foi, em 1989, o primeiro jornal da região Norte a possuir um sofisticado sistema de informática, com as matérias sendo produzidas em modernos computadores. Em 1990 é publicada a primeira edição a cores, com fotografias da Copa do Mundo daquele ano.

Manchete sobre o impacto do Plano Collor na economia regional no dia 22 de março de 1990/Crédito: Acervo JC

No dia 22 de março de 1990 o jornal publicava que a Zona Franca de Manaus estava sendo penalizada pelo plano de abertura comercial do Presidente Fernando Collor de Mello, que reduziu gradualmente as tarifas de importação, prejudicando o Polo Industrial e as lojas da região. Com a internet ainda dando seus primeiros passos no Brasil, é lançada em 1999 a primeira versão do Portal do Jornal do Commercio (Portal JCAM). Nos anos seguintes surgiram novas versões e melhoramentos, tornando-o bastante acessado pelo público.

Edição comemorativa de cem anos no dia 2 de janeiro de 2004/Crédito: Acervo JC

O Jornal do Commercio, após ser analisado em sua estrutura, conquista em 2000 a certificação ISO 9001, o que garantiu a operação da empresa com mais eficiência e maior reconhecimento nacional e internacional. 2004 ficou marcado como o ano do centenário. Foi publicada uma edição especial, contendo, entre outros depoimentos, uma importante mensagem de Timothy Balding, então Presidente da WAN (Associação Mundial de Jornais): “Guilherme, estou entusiasmado em enviar meus parabéns calorosos, em nome da Associação Mundial de Jornais e seus 18.000 membros em cem países, para o Jornal do Commercio no seu 100° aniversário. Este é verdadeiramente um marco magnífico na história da publicação e desejo a você tudo de bom por outro século de grandes serviços a seus leitores”.

É implantado, em 2007, um sistema de administração descentralizada, que consiste em dar mais autonomia aos departamentos do jornal no que diz respeito às finanças, mas, ainda assim, eles ficam submetidos à direção da empresa. Reconhecido como o jornal mais antigo e importante da região Norte, tendo coberto em mais de um século os principais acontecimentos da região, como o boom da borracha e sua crise, o Jornal do Commercio, para deleite de seus leitores e de pesquisadores das mais diferentes áreas do conhecimento, tem seu acervo digitalizado no ano de 2009.

Morte de Guilherme Aluízio repercutiu no Amazonas e no Brasil/Crédito: Acervo JC

Falece no dia 03 de junho de 2019 em São Paulo, aos 82 anos, o Presidente do Jornal do Commercio, Guilherme Aluízio de Oliveira Silva, sendo sepultado em Manaus, no Cemitério de São João Batista, no dia 05 de junho. Guilherme Aluízio comandou o jornal por 35 anos, dando início a uma série de transformações que tornaram a histórica folha reconhecida como umas das mais importantes do Brasil. Desde essa data, o Jornal do Commercio tem sido conduzido pelo seu filho Sócrates Bomfim Neto que, além do compromisso na continuidade do legado do presidente, busca ampliar as inovações no jornal para fazer frente aos novos tempos.

E assim, num piscar de olhos, passaram-se 118 anos. De Rocha dos Santos a Guilherme Aluízio, a trajetória do Jornal do Commercio foi marcada pelo importante compromisso de bem informar a população sobre as transformações que diariamente se operam na sociedade. Que venha mais um século…

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Fábio Augusto Carvalho

é historiador
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