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Jararaca, a mais perigosa das serpentes

Com apoio da Fapeam (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas), um estudo investiga o perfil clínico-epidemiológico-inflamatório de pacientes vítimas de acidentes provocados por picadas de serpentes, e atendidos na Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado, em Manaus. A pesquisa, coordenada pela doutora em Doenças Tropicais e Infecciosas pela UEA, Jacqueline Sachett, através do programa ‘Amazônidas – Mulheres e Meninas na Ciência’, pretende contribuir com a melhoria de protocolos adotados na assistência prestada ao paciente, conforme ela falou ao Jornal do Commercio, na entrevista a seguir.

Jornal do Commercio: Quais protocolos são adotados hoje, numa pessoa picada por serpente, e que melhoras sua pesquisa busca conseguir? 

Jacqueline Sachett: Os protocolos vigentes são do Ministério da Saúde e orientam principalmente para a classificação do acidente em leve, moderado e grave, e o número de ampolas de antiveneno que devem ser administradas. A minha pesquisa avalia a evolução do paciente quanto ao envenenamento no aspecto inflamatório por meio clínico e laboratorial, que não está bem descrito ainda, assim, teremos informações mais completas de como os venenos de serpentes afetam o corpo e quais são os sinais de alerta para complicações.

JC: Quais são as serpentes venenosas que mais atacam no Amazonas?

JS: A mais comum é a Bothrops atrox, chamada popularmente de Jararaca, que corresponde em torno de 95% dos acidentes. Outras serpentes também podem estar envolvidas nos acidentes como as Cobras Corais e as Surucucus. A Fundação de Medicina Tropical é a instituição de referência no Amazonas, para atendimento aos acidentes por animais peçonhentos. É o único hospital que possui o antiveneno para administrar no paciente quando necessário. Nos últimos anos a média de acidentes por Jararaca atendida na Fundação é de 160 pacientes/ano.

JC: Quais as diferenças de uma espécie para outra quanto a ataques, tipos de veneno, grau de mortalidade, possibilidade de cura? 

JS: Todas as serpentes que causam envenenamentos possuem antiveneno específico: soro antibotrópico para acidentes com Jararaca; antilaquético para a Surucucu; antielapídico para a cobra Coral; e anticrotálico para a Cascavél. Por isso, um acidente com Jararaca não deve ser tratado com antiveneno da Coral, pois não terá efeito para neutralizar o veneno. O fato de termos mais acidentes com Jararaca faz com que estes sejam mais graves que os outros, uma vez que os pacientes podem ter complicações como perder parte da musculatura no local da picada, amputação de parte do membro ou amputação de todo um membro do corpo, hemorragias cerebrais, problemas renais e até óbito. A melhor forma de prevenir estas complicações é procurar o atendimento médico o mais rápido possível e tomar o antiveneno o quanto antes, pelo menos até seis horas após o envenenamento.

JC: Qual o primeiro cuidado que uma pessoa deve ter após ser picada por uma serpente? 

JS: A primeira coisa é certificar que a cobra não está mais no local, para que não tenha um segundo acidente, posteriormente deve lavar o local da picada com água e sabão e se encaminhar para o serviço de saúde mais próximo. O uso de plantas ou produtos no local da picada, e beber medicamentos ou misturas de ervas (garrafadas), não têm eficácia para neutralizar o veneno. Por isso a recomendação é tomar o antiveneno.

JC: O ideal, quando se anda pelas matas, é usar botas? 

JS: O uso de botas, luvas e perneiras sempre são recomendados para quando a pessoa vai para algum local desconhecido e que tenha possibilidade de ter serpentes.

JC: A sra. está estudando a inflamação causada pelo envenenamento. Como o envenenamento pode ‘dizer’ algo para o médico? 

JS: Na avaliação do envenenamento, o paciente apresenta sinais e sintomas no local da picada, no corpo e alterações nos exames laboratoriais, principalmente os que se referem ao processo inflamatório como edema no membro afetado, dor intensa, aumento da temperatura, vermelhidão, hematoma, sangramento no local e em outras partes do corpo. A minha pesquisa avalia todos estes pontos e também elementos dos exames laboratoriais mais específicos como as citocinas e quimiocinas para compreender melhor como este processo inflamatório acontece e como é a evolução dos sinais e sintomas nos casos mais graves.

JC: O certo é não matar serpentes, pois elas têm um papel na natureza, então, como proceder se alguém pegar uma viva?

JS: No momento do acidente pode acontecer de o paciente matar a serpente e neste caso é importante que a traga junto para sua identificação durante o atendimento, no hospital. Em casos de o animal estar vivo, existem órgãos, em Manaus, que podem recolhê-lo como o Musa (Museu da Amazônia) e Ipaam (Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas).

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Evaldo Ferreira: @evaldo.am

Fotos: Arquivo particular

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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