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Jambu vai muito além da culinária

O jambu é amazônico, mas o mundo científico está de olho em suas potencialidades

Se não o mais destacado, mas com certeza o mais exótico tempero da culinária amazônica, pesquisas vêm demonstrando que o jambu vai muito além do que apenas um diferencial no paladar. Se a também amazônica pimenta murupi é famosa pelo grau de picância, com grau nove na escala de ardume, a mais forte do Brasil, o jambu, ao contrário, apenas adormece a língua e essa dormência se espalha pela boca, em maior ou menor grau de acordo com a concentração de espilantol, que vamos conhecer mais adiante.

Sobre as outras qualidades do jambu, além da gastronomia, quem sabe mesmo é o pesquisador Sergio Duvoisin Junior, doutor em Física Química, que está coordenando o projeto ‘Desenvolvimento de metodologia semi-industrial para a extração do óleo essencial de jambu’, cujo objetivo principal é testar novos métodos para a retirada do óleo da planta a partir do seu caule, folhas e flores.

“A escolha do jambu surgiu de uma demanda de mercado que apareceu nos nossos laboratórios. Uma empresária do ramo de sex shop nos procurou falando que poderia usar o óleo de jambú como um vibrador químico, e que estava disposta a pagar até R$ 10 mil por quilo de óleo bruto. Isto despertou o interesse não só meu, mas de alunos que já estão pensando em montar uma startup para produção deste insumo da floresta”, explicou.

O mercado erótico descobriu há algum tempo que o efeito sensorial causado pelo espilantol pode estimular outros prazeres.

“A dormência, o salivar aumentado, o formigamento, todas estas atividades biológicas são atribuídas a esta molécula que faz parte da composição do óleo do jambu, o espilantol, que já é usada na indústria de medicamentos, alimentos e cosméticos”, informou. 

Saber mais sobre o óleo

Além de ter como objetivo principal, encontrar uma maneira economicamente viável de extrair o óleo bruto do jambu através de várias técnicas, num segundo plano Sergio Duvoisin procura saber mais sobre a composição desse óleo, pois até agora já foram encontradas mais de 60 moléculas diferentes na sua composição.

“Também queremos saber qual a concentração de espilantol no óleo extraído”, disse.

“No nosso estudo realizamos os procedimentos de extração em todas as partes da planta para saber onde o espilantol se encontra em maior quantidade, e o que ficou evidente é que as flores possuem quase cinco vezes mais a molécula do que galhos e folhas. Falar que toda a planta é repleta de óleo é um engano comum. Normalmente, plantas que produzem óleos essenciais possuem no máximo 1,2% de seu peso seco em óleo, sendo a grande maioria abaixo de 1%. O jambu é um destes casos, apresentando no máximo 0,7% de óleo da massa seca do vegetal”, falou.

Ao todo, oito alunos e pesquisadores dos cursos de Engenharia Química e Química da UEA, da UFPA (Universidade Federal do Pará) e da Ulbra (Universidade Luterana do Brasil) participam do projeto coordenado por Sérgio, iniciado no segundo semestre de 2019. A iniciativa recebeu investimento da Fapeam (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas), via Programa de Apoio à Pesquisa – Universal Amazonas.

“Embora os nossos laboratórios sejam muito bem equipados, os recursos obtidos da Fundação foram fundamentais para a realização do projeto. Foram estes recursos que deram a oportunidade de adquirir alguns equipamentos que ainda não tínhamos”, reconheceu.

Perdemos a patente 

Um destes equipamentos foi um extrator projetado pelos pesquisadores, que possibilita maior percentual de produtividade e rendimento do óleo bruto do vegetal.

“Além do extrator, desenvolvemos a técnica de extração, e que no final é o segredo da história passível de patentes”, revelou.

Falando em patentes, quem sabia que o uso do espilantol como anestésico e anti-inflamatório já está patenteado por empresa de fora da Amazônia, e não pode ser utilizado para este fim por empresas locais, sendo que o jambu é originário daqui?

Extrator projetado pelos pesquisadores, possibilita maior
produtividade e rendimento do óleo bruto do vegetal

“Felizmente extração e comercialização do óleo, e até mesmo do espilantol, ainda são livres”, esclareceu.

Por isso tem muita gente de olho nessa preciosidade. Atualmente, o valor do quilo de óleo bruto de jambu atinge a expressiva marca de R$ 10 mil, e 25 miligramas do espilantol podem ser comercializados por até R$ 3.800.

E a tendência é que, à medida que as pesquisas forem comprovando as qualidades existentes no óleo, seu valor aumente ainda mais.

“Existem muitos estudos a respeito das atividades biológicas deste óleo, e o que já foi estudado é que realmente ele possui atividades anestésicas e anti-inflamatórias, entre outras”, avisou.

“Estas descobertas são como uma corrida: quem chega primeiro, leva os louros. Uma pena os governantes não perceberem isso. Devemos diversificar nossa economia, usar o verdadeiro potencial da nossa região, a biodiversidade, para trazer recursos para o Amazonas e o Brasil”, finalizou.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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