Quando falamos em Responsabilidade Social Empresarial, pensamos quase automaticamente em educação. E os números do Gife (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas) mostram que essa não é uma percepção equivocada: atualmente, 81% de suas entidades filiadas investem na área de educação. Mas por que será que as empresas, ao definirem seu foco de atuação, acabam quase sempre se voltando para essa área?
Quando visto de forma estratégica pelas empresas, o investimento social, principalmente por meio de projetos ligados à área de educação, pode ser um grande impulsionador da sociedade. Isso porque, mais do que o recurso financeiro, ao se debruçar sobre os desafios da comunidade a empresa coloca em campo o seu bem mais precioso: o conhecimento. Usando a sua expertise, ela estimula nas escolas o investimento em inovação e a busca pela qualidade, por exemplo. Em contrapartida, recebe profissionais mais qualificados, garante uma maior interlocução com a comunidade e diminui os efeitos da crescente violência urbana, o que acaba se refletindo na própria atividade da empresa.
Investir seriamente em educação significa que as empresas estão migrando do investimento social por ocasião, muitas vezes estimulado por pressões do mercado – o que é excelente para causar impacto entre os colaboradores, demonstrar a “sensibilidade social” da empresa e rechear os relatórios de Responsabilidade Social, mas não para os resultados de longo prazo–, para o investimento social estratégico, focado no negócio e nos valores das empresas.
Essa mudança é fundamental para fomentar o interesse dos investimentos e garantir a sustentabilidade das ações sociais. E, nesse aspecto, a educação tem de ser percebida como um valor a ser priorizado.
Um artigo dos professores Michael E. Porter e Mark R. Kramer, dois grandes estrategistas da Harvard Business School, publicado em dezembro de 2006 na Harvard Business Review, destaca que “uma empresa de sucesso precisa de uma sociedade saudável. Educação, saúde e igualdade de oportunidades são essenciais para uma força de trabalho produtiva”. Daí a relação estreita entre o investimento social privado e o sucesso das salas de aula.
Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, ainda reside na educação a grande possibilidade de transformação humana, econômica e social. O sucesso que mediremos ou não no Brasil de 2022, conforme sugere o PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação), lançado pelo Ministério da Educação, terá relação direta com a atenção e investimentos que estão sendo feitos hoje na formação de nossos educadores e na qualidade do ensino ministrado em sala de aula.
Temos de entender e defender a educação como um valor, e mostrar que ela se faz em parceria e que necessita do envolvimento de todos, pois o ato de educar é um processo dinâmico que permeia e integra todos os setores e segmentos da sociedade. E cada um tem de refletir o quanto é responsável e pode contribuir neste processo. De uma coisa temos de ter certeza: o sucesso será proporcional à capacidade que o primeiro, segundo e terceiro setores tiverem de caminhar juntos.
Cláudia Buzzette Calais é gerente de projetos da Fundação Bunge.