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Intenção de consumo em Manaus despenca em setembro

A confiança do consumidor de Manaus despencou pela nona vez consecutiva, na passagem de agosto para setembro. O número local do índice de ICF (Intenção de Consumo das Famílias) foi novamente na direção contrária da média nacional, que apresentou a quarta melhora seguida e o melhor dado desde março deste ano. O indicador recuou 7,8% na capital amazonense, com a piora sendo carreada pelas percepções negativa sobre renda, emprego e consumo, assim como uma nova piora nas perspectivas profissionais e de compras. 

O ICF de Manaus passou de 33,3 para 30,7 pontos, entre agosto e setembro, e correspondeu a praticamente à metade do placar de 12 meses antes (59,5 pontos) – quando a cidade já começava a surfar na retomada pós-primeira onda. Pela 17ª vez seguida, a pontuação se situou na zona de insatisfação (até 100 pontos). Os dados são da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) e foram fornecidos à reportagem pela assessoria de imprensa da Fecomercio-AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), nesta sexta (17).

Na média brasileira, o indicador subiu 2,1%, entre agosto (70,2) e setembro (72,5 pontos), além de ficar 7,2% superior à marca registrada no mesmo mês de 2020 (67,6 pontos). Apesar da melhora, o índice também segue abaixo do nível de satisfação para todo o Brasil – o que acontece desde 2015 (quando atingiu 102,9 pontos). Vale notar que a região Norte compareceu mais uma vez com a menor pontuação do país (55,1 pontos) e foi a única a encolher simultaneamente nas variações mensal (-1,9%) e anual (-19,1%).

Para a capital amazonense, setembro foi o pior número da série histórica de 13 meses fornecida pela CNC. Todos os sete componentes do ICF retrocederam na variação mensal e se mantiveram na zona de insatisfação. As retrações foram puxadas pelas percepções quanto ao nível de consumo atual (-18,9%), renda atual (-11,8%) e perspectiva de consumo (-10,1%). Na sequência estão a satisfação com o emprego atual (-9,6%), a perspectiva profissional (-9,4%), e as avaliações sobre “momento para duráveis” (-5,7%) e compra a prazo/acesso ao crédito (-2,3%).

Renda e emprego

Em termos absolutos, as intenções de compras do manauense ainda são puxadas para baixo pela forma como as famílias veem seu nível de consumo atual, o pior dado da lista e o único com apenas um dígito (7,3 pontos). Nada menos do que 95,2% dizem que estão comprando menos do que no ano passado, sendo que a restrição é maior entre os que recebem abaixo de dez salários mínimos (95,7%). Apenas 2,5% dizem que estão consumindo mais – com leve predomínio das famílias mais ricas (3,7%). Os outros 2,3% afirmaram que está tudo na mesma. 

Outro entrave significativo vem da perspectiva de consumo (18,8 pontos) e das avaliações sobre a renda familiar atual (18,7 pontos). Para 87,9%, o consumo familiar e da população como um todo deve ser menor nos próximos meses, quando comparado ao de um ano atrás. Uma parcela de 6,7% arrisca dizer que será maior e outros 5% avaliam que seguirá igual. Em paralelo, 85,3%, dizem que a renda familiar piorou, em relação ao cenário de econômico de 12 meses antes. Só 4% viram melhora e os outros 10,8% apontaram empate. 

A percepção sobre a situação atual do emprego (45,7 pontos) também andou para trás, embora ainda apareça com a maior pontuação da lista. A maioria dos entrevistados ainda se sente “menos segura” (60,1%). Os desempregados e os consumidores que não veem mudanças representam fatias respectivas de 17,4% e de 16,8%, enquanto só 5,8% se dizem “mais seguros”. Na perspectiva profissional (32,5 pontos), a percepção majoritária também é negativa (81,9%), em detrimento da faixa cadente de otimistas (14,4%) e dos indecisos (3,7%). O pessimismo é maior entre os que ganham menos, em ambos os casos.

A insatisfação também foi reforçada em relação à situação atual do crédito (48,8 pontos). Para 67,5%, o acesso ficou mais difícil, quando comparado ao panorama do ano passado. Apenas 16,4% dizem que ficou mais fácil e 16,1% apontam estabilidade. Em sintonia, o cenário não é melhor na visão do “momento para aquisição de bens duráveis” (43 pontos), já que 77,5% das famílias garantem que esta não é a melhor hora para tanto e só 20,5% têm opinião contrária e os 2% restantes não sabem. Em ambos os casos, as dificuldades e cautela são predominantes nas famílias de menor renda.

“Instabilidade e insegurança”

No entendimento do presidente em exercício da Fecomércio AM, Aderson Frota, “lamentavelmente”, o varejo de Manaus está sofrendo uma diminuição de seu potencial de vendas. O dirigente ressalta que há fatores no horizonte presente do consumidor que acrescentam, a exemplo “de todas essas discussões políticas que geram instabilidade e insegurança” e do fato de que o trabalhador está “muito preocupado com a segurança de seu emprego. 

“Todos esses detalhes e nuances, que geraram custos elevados, descompensações de vários preços, fizeram com que o nosso consumidor desse um passo atrás, ficasse mais cauteloso e não se dispusesse a comprar nesse momento de instabilidade”, desabafou. O dirigente pondera que, apesar do cenário negativo de curto prazo, continua acreditando que o atual semestre será melhor que o primeiro “em pelo menos 10% acima”.

“Pontos vulneráveis”

Em âmbito nacional, todos os outros subíndices seguiram apresentando resultados positivos, com exceção da avaliação da compra de duráveis. Mais uma vez, o destaque veio da perspectiva de consumo (+3,7%). “A expectativa das famílias é de que esse ambiente econômico mais positivo, percebido no curto prazo, se prolongue para o longo prazo. Tanto que Perspectiva de Consumo foi novamente o item com maior crescimento no mês e alcançou o maior nível desde maio de 2020”, observou a economista da CNC responsável pela pesquisa, Catarina Carneiro da Silva, em texto distribuído à imprensa.

No mesmo texto, o presidente da CNC, José Roberto Tadros, avalia que a intenção de consumo das famílias brasileiras continuou sua trajetória de crescimento por que foi favorecida pela “grande parcela” da população já vacinada. Mas, observa que, apesar dos resultados positivos, a recuperação econômica ainda não está garantida. “O cenário apresenta pontos vulneráveis, o que gera maior cautela das famílias. O aumento da inflação nos últimos meses reduziu o poder de compra dos consumidores, principalmente em itens duráveis, que obtiveram inflação acima do índice geral no último resultado”, encerrou.

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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