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Inpa realiza maior soltura de peixes-boi na natureza

Os pesquisadores do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) estão em festa. É que logo mais será realizada a maior soltura de peixes-bois (Trichechus inunguis) da história da instituição. 13 deles, sendo sete machos e seis fêmeas, entre quatro e 14 anos, serão soltos nas águas de um lago na reserva Piagaçu-Purus, baixo rio Purus, na região do município de Beruri, distante 223 km de Manaus.

“Essas solturas anuais começaram em 2016 com quatro, cinco, dez, doze e agora treze animais. Só não aconteceu em 2020, devido à pandemia, por isso esse retorno está sendo tão festivo”, falou o biólogo Diogo Souza, da Ampa (Associação Amigos do Peixe Boi).

A ação é executada pelo Projeto Mamíferos Aquáticos da Amazônia, que tem o patrocínio da Petrobras e é realizada pela Ampa. A Ampa é uma ONG, criada em 2001, conveniada ao Laboratório de Mamíferos Aquáticos do Inpa que atua no resgate e soltura desses animais de volta à natureza, não sem antes reabilitá-los e readaptá-los.

“Esses animais nos chegam ainda bebês, resgatados por ribeirinhos. Geralmente a mãe foi morta ou ele caiu na rede dos pescadores. Quando os ribeirinhos têm a consciência da preservação, providenciam para que o bebê chegue até nós para os devidos cuidados”, disse.

No Inpa, o filhote de peixe-boi passa por um longo processo de reabilitação. Seu período de lactação é de cerca de dois anos. Passada essa fase, com cinco ou seis anos o animal é levado para um lago na fazenda Seringal 25 de Dezembro, em Manacapuru, onde irá permanecer um a dois anos, em processo de readaptação seguindo depois para a reserva Piagaçu-Purus, por volta dos sete anos de idade.

O começo, em 2008

A ação que está sendo executada este ano deveria ter sido realizada em abril do ano passado, com a liberação de dez animais, mas a restrição de circulação de pessoas devido à pandemia, fechou as unidades de conservação. Este ano, um novo desafio. A cheia recorde dos rios da Amazônia fez o lago na fazenda Seringal 25 de Dezembro inundar.

“Em caráter de urgência, fomos forçados a retirar todos os animais dessa área e trazê-los novamente para os tanques do Inpa”, revelou Vera da Silva, bióloga, pesquisadora do Inpa e coordenadora do Projeto.

Vera da Silva e Diogo Souza, da Associação Amigos do Peixe Boi – Foto: Divulgação

Quando estão nos lagos, os peixes-bois ficam sendo monitorados através de um transmissor de frequência VHF adaptado num cinto e preso à sua cauda. Cinco deles, agora, receberão os cintos.

“Eles são acompanhados por dois anos, depois a bateria acaba ou o cinto arrebenta, mas é tempo suficiente para fazermos algumas descobertas como, por exemplo, saber que na cheia dos rios eles ficam nas várzeas; e na vazante, pelos dados que temos, permanecem no canal dos rios, que é a parte mais profunda, ou num lago de terra firme”, destacou Diogo.

A primeira soltura de dois peixes-bois aconteceu, em 2008, no rio Cuieiras, um afluente do Negro, mas os pesquisadores perceberam que os animais tiveram dificuldades na readaptação, principalmente no quesito alimentação. Foi a partir daí que surgiu a ideia de um semi-cativeiro, onde os indivíduos pudessem ser acompanhados mais de perto até os pesquisadores terem a certeza de que já saberiam voltar a viver de forma plena na natureza. Criou-se um protocolo de ações, que vão sendo aperfeiçoadas de acordo com as novas descobertas. Desde então, 31 peixes-bois já foram soltos no Purus.

A primeira soltura aconteceu em 2008 – Foto: Divulgação

Primeira gravidez          

“Agora as condições estão mais favoráveis e por isso começamos a fazer os exames necessários: coleta de sangue, medição e pesagem, para verificar a saúde dos animais. Todo esse cuidado é para evitar que, do cativeiro, eles levem doenças para as populações naturais”, explicou Vera.

Coleta de sangue, medição e pesagem, para verificar a saúde dos animais – Foto: Divulgação

No cativeiro do Inpa os animais são periodicamente medidos, pesados e suas condições físicas e de saúde geral são acompanhadas.

“Em 2003 nos chegou uma filhota. Em 2018 ela foi solta. Em 2019 descobrimos que estava grávida. Isso é motivo de muita alegria para nós, pois é quando comprovamos que nossos esforços pela preservação da espécie tem valido a pena”, destacou Diogo.

Há décadas caçado devido à sua fartura de carne e gordura, o peixe-boi estava fadado à extinção, não fosse o trabalho de pesquisadores como os da Ampa.

A gestação da espécie dura treze meses e nasce apenas um filhote, que irá mamar por dois anos, ou seja, por todo esse tempo o bebê fica em perigo caso sua mãe seja morta. Entre uma gestação e outra da fêmea passam-se mais de quatro anos, o que torna a reprodução da espécie muito lenta, sem falar que elas só estão prontas para se reproduzir a partir dos dez anos. Até os 40 anos a fêmea pode engravidar, e o tempo de vida da espécie é em torno de 60 anos.

A grande quantidade de gordura dos peixes-bois resulta deles ficarem cerca de oito horas por dia se alimentando de algas, aguapés e capim aquático. Chegam a consumir num único dia, 10% de seu peso, que pode chegar a 300 quilos num animal de 2m5 de tamanho.

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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