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Inflação não tira disposição de comprar

As famílias de Manaus ficaram menos desconfiadas e mais inclinadas às compras, em maio. A subida na intenção de consumo foi puxada pelas melhoras relativas na percepção sobre emprego e perspectivas profissionais, acompanhando a média nacional. Apesar da alta dos juros, a disposição de adquirir bens duráveis também aumentou no mês do Dia das Mães. A conclusão vem dos dados regionais do índice de ICF (Intenção de Consumo das Famílias) da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo).

O indicador, contudo, não passou dos 39,8 pontos e segue na zona de insatisfação (de 0 a 100 pontos) há 25 meses consecutivos. Ainda está muito distante também do patamar pré-pandemia. Em março de 2020, poucos dias antes da chegada da primeira onda de Covid-19 a Manaus, o escore estava em 105,2 pontos. Os dados confirmam que o consumidor de Manaus entende que os entraves estão mais na economia e menos no quadro sanitário. Apesar de avaliar que o mercado de trabalho melhorou, a percepção do consumidor não mudou muito em relação à renda, inibindo voos mais altos para o consumo.

Segundo o levantamento, a intenção de consumo das famílias de Manaus subiu 3,7%, entre abril (38,4 pontos) e maio (39,8 pontos), na segunda alta seguida. Mesmo com o acréscimo, a pontuação ficou atrás até mesmo do placar de 12 meses atrás (43,6 pontos), período de retomada gradual do setor, no pós-segunda onda. Diferente do ocorrido em abril, as famílias com renda acima de dez salários mínimos mensais (58,9 pontos) tiveram leve queda, enquanto as que contam com renda abaixo dessa marca (38 pontos) foram na direção contrária –apesar da permanência do fosso entre os dois grupos. 

O Estado acompanhou a trajetória da média brasileira (79,5 pontos), que teve alta de 4,4%, registrando seu quinto incremento mensal consecutivo e o maior nível desde maio de 2020. Em relação a maio de 2021, o aumento foi de 17,7%, embora o indicador tenha seguido no nível de insatisfação, como ocorrido em todo o país. A região Norte (+5,8%) teve o maior aumento mensal, mas ainda tem o menor escore da lista (62,3 pontos). Seu acréscimo anual (+3,5%) também foi o menor da lista. Na outra ponta, a melhor pontuação veio do Sul (85,7 pontos), e a maior taxa de expansão ficou no Sudeste (+24,1%).

Renda e emprego

A melhora em Manaus foi puxada por seis dos sete componentes do ICF, na variação mensal, embora todos sigam no nível de insatisfação. As altas vieram principalmente das avaliações do consumidor em relação ao “momento para aquisição de bens duráveis” (+7,3%) e ao emprego atual (+3,3%), assim como das perspectivas profissionais (+6,6%) e de consumo (+3,8%). Também houve avanço no entendimento sobre e acesso ao crédito (+1,2%). Mas, a visão sobre a renda atual (+0,7%) mal mudou, enquanto o nível de consumo atual (-3,2%) voltou a retroceder. 

O ICF ainda é puxado para baixo pelo nível de consumo atual das famílias. A situação piorou neste mês, consolidando o subindicador com o pior escore da lista (13,7 pontos). Nada menos do que 91,2% dizem que estão comprando menos do que no ano passado, sendo que a restrição é maior entre os que recebem abaixo de dez salários mínimos (91,6%). Apenas 5% dizem que estão consumindo mais –com predomínio das famílias mais ricas (9,8%). Os 3,8% restantes apontam empate. 

A despeito da alta relativa, a pontuação das perspectivas de consumo (27,4 pontos) não é muito melhor do que o das avaliações sobre a renda familiar atual (27,1 pontos). Para 81,9%, o consumo familiar e da população deve ser menor nos próximos meses. Uma parcela de 9,3% arrisca dizer que será maior e outros 7,7% aguardam estagnação. Em paralelo, 78,3% dizem que a renda familiar piorou em relação ao cenário econômico de 12 meses antes. Só 5,4% viram melhora e os outros 16,3% avaliam que está igual. 

Com o recomeço das contratações sazonais, por conta do Dia das Mães, o entendimento sobre a situação atual do emprego (61,5 pontos) avançou, sustentando a maior pontuação da lista. A maioria ainda se diz “menos segura” (46%). Os consumidores que não veem mudanças (27,3%) e os desempregados (19,1%) vêm em seguida, enquanto só 7,5% se dizem “mais seguros”. Na perspectiva profissional (38,1 pontos), a percepção majoritária sobre os próximos seis meses segue negativa (78,9%), em detrimento dos otimistas (17,1%) e indecisos (4%). A confiança é muito maior entre os que ganham mais.

A visão sobre a situação atual do crédito (49,9 pontos) mostrou nova melhora, embora 62,9% digam que o acesso está mais difícil ante o ano passado. Apenas 12,8% dizem que ficou mais fácil e 24,3% não veem diferença. A evolução foi mais substancial na visão sobre o “momento de aquisição de bens duráveis” (60,8 pontos). Mas, a maioria esmagadora (68%) ainda garante que esta não é a melhor hora para isso, e só 28,8% têm opinião contrária, enquanto 2,5% dizem que não sabem. Em ambas as situações, as dificuldades e cautela são predominantes nas famílias mais pobres –mas a diferença diminuiu.

“Momentos difíceis”

Para o presidente em exercício da Fecomércio-AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), Aderson Frota, o cenário segue difícil para o consumidor, em virtude dos avanços dos preços, dos juros e dos índices de inadimplência, o que ajudaria a explicar a queda anual do indicador da CNC em Manaus, assim como suas oscilações nos meses imediatamente anteriores. O dirigente acrescenta ainda que, apesar da melhora, a percepção sobre o emprego, 

“Temos uma instabilidade no mercado, o que é preocupante. Quase metade dos entrevistados se diz menos segura, e o volume de desempregados ainda é muito elevado. O nível de renda piorou para a maioria dos consumidores ouvidos e o acesso ao crédito também, até porque a inadimplência é um fator que prejudica a avaliação do tomador de empréstimos”, lamentou, acrescentando que o empresário vai ter de continuar se reinventando para superar as crises, embora o segundo semestre tenda a mostrar números melhores.  

Expectativas e segurança

A CNC destaca que a melhora da confiança também foi mais significativa entre as famílias brasileiras que ganham até dez salários mínimos, do que entre as que têm mais renda. Em texto distribuído pela assessoria de imprensa da entidade, a economista responsável pela pesquisa, Catarina Carneiro da Silva, alerta que a insatisfação é maior nas famílias que ganham menos, por conta do maior impacto da inflação em seus orçamentos. “Os números, contudo, revelam que a parcela da população com ganhos inferiores possui maior expectativa sobre a desaceleração da inflação nos próximos meses”, ressalvou.

No mesmo texto, o presidente da CNC, José Roberto Tadros, lembra que os dados mais recentes têm apontado “geração líquida contínua” de vagas no mercado de trabalho, o que ajudou na melhora do consumidor brasileiro em relação ao emprego. “Desde agosto do ano passado, as famílias vêm se sentindo cada vez mais seguras nos seus empregos e têm percebido melhora em seus rendimentos, devido ao crescimento das contratações no mercado de trabalho formal”, encerrou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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