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Inflação da indústria bate recorde

Os impactos inflacionários voltaram a comprometer os resultados da indústria, em outubro. A inflação fabril subiu 2,16% em relação a setembro, conforme dados do IPP (Índice de Preços ao Produtor), divulgados pelo IBGE, nesta quarta (1º). Foi a maior alta desde abril (+2,19%), elevando o acumulado do ano para 26,57% – o maior índice para o período desde 2014. Em paralelo, o faturamento real do setor encolheu 2%, na quarta queda consecutiva da variação mensal, conforme divulgação da CNI (Confederação Nacional da Indústria). 

O IPP mede a variação dos preços sem impostos e frete. O indicador do IBGE informa que, em outubro, os preços da indústria nacional acumularam a maior alta para outubro desde o início da série histórica, em 2014. Em 12 meses, a inflação foi de 28,83%, mas vem reduzindo desde junho – quando chegou a +36,78%. Os aumentos foram detectados em 22 das 24 atividades pesquisadas mensalmente. As maiores influências vieram do refino de petróleo e produtos de álcool (+7,14%), produtos químicos (+6,38%), borracha e plástico (+3,45%) e “outros equipamentos de transporte” (+3,44%)”. O menor impacto veio do subsetor de alimentos (+0,75%).

A CNI informa, por outro lado, que o faturamento real da indústria de transformação caiu 2% em outubro, em relação a setembro, segundo a sondagem mensal “Indicadores Industriais”. Na comparação com outubro de 2020, houve queda de 12,8%. Foi a terceira retração mensal consecutiva para as vendas, que acumulam queda de 8% no ano. Com isso, os ganhos reais do setor recuaram ao menor valor desde junho de 2020, quando a economia ainda se recuperava do fechamento das atividades na primeira onda de covid-19. 

Em paralelo, o mesmo levantamento aponta que a UCI (Utilização da Capacidade Instalada) caiu 0,6 ponto percentual em relação a setembro e recuou para 80,8%. Foi a quarta retração consecutiva. Na análise da CNI, a despeito do recuo, o indicador permanece em patamar elevado em comparação ao observado desde a crise de 2014-2016. A massa salarial (-1,4%) e o rendimento médio real (-1,2%) também pontuaram dados negativos na variação mensal. A primeira se encontra no nível mais baixo desde julho de 2020, enquanto o segundo recuou pelo quarto mês seguido. As quedas anuais foram de 2,1% e de 2,5%, respectivamente.

Combustíveis e químicos

Em texto postado na Agência de Notícias IBGE, o gerente da pesquisa, Alexandre Brandão, destaca que o IPP de outubro foi puxado para cima pela divisão industrial de refino de combustíveis, que além de apresentar a maior variação mensal (+7,14%), já registra recorde no acumulado até outubro (+60,38%), além de ter a maior influência no resultado geral (0,73 ponto percentual dos 2,16%). “Essa taxa é reflexo da variação do óleo bruto de petróleo, cujo preço vem aumentando no mercado internacional”, explicou acrescentando que o subsetor vem tendo resultados positivos desde maio.

Segundo o pesquisador, a alta na atividade de outros produtos químicos (6,38%, a segunda maior) também exerceu forte influência (0,59 p.p.) no resultado do mês, em razão do aumento dos preços internacionais e custo de matérias-primas, como a nafta. “É um setor diretamente afetado pelo refino de petróleo. Então, a alta no refino acaba puxando o resultado de outros produtos químicos”, salientou. A elevação dos preços de adubos ou fertilizantes importados, associados à alta do dólar, também teria impactado no resultado.

Brandão observa que, embora os preços dos alimentos tenham registrado a menor expansão (+0,75%), ainda exercem influência significativa (0,18 p.p.) no resultado geral do IPP no mês, tendo sido impactados especialmente pela alta no preço do açúcar VHP e das carnes de bovinos frescas ou refrigeradas. A desvalorização do real frente ao dólar também teria alavancado os valores. “No caso da carne, alguns frigoríficos apontaram uma maior demanda, inclusive com a retomada das exportações”, ponderou. “No caso do açúcar, a restrição de oferta pressiona ainda mais os preços”, emendou.

Pausa nas contratações

Em texto divulgado pela assessoria de imprensa da CNI, o gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo, destaca que o emprego na indústria de transformação ficou estável pelo segundo mês seguido, ajudando a piorar um quadro já comprometido pelos efeitos inflacionários. No entendimento do executivo, os Indicadores Industriais de outubro reforçam o sentimento dos meses anteriores de um esgotamento da recuperação econômica trazida após a paralisação trazida pela pandemia. isso pode ser percebido pela queda no faturamento. 

“Já são três meses consecutivos de queda. O emprego, que vinha em recuperação desde agosto de 2020, interrompeu essa sequência no mês passado e continuou assim em outubro. Já são dois meses sem crescimento de emprego. A UCI também está em uma sequência de queda. Já a massa salarial e rendimento médio dos empregados, nesse cenário de falta de crescimento, mais a inflação, vem reduzindo os dois últimos indicadores, nos últimos meses”, lamentou.

Consumo e Selic

O presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas) e vice-presidente executivo da CNI, Antonio Silva, ressaltou à reportagem do Jornal do Commercio que o segmento industrial tem enfrentado “graves problemas” no descompasso entre a produção de bens finais e fornecimento de insumos, assim como na pressão inflacionária sobre os preços. No entendimento do dirigente, levando-se em conta os impactos na manufatura brasileira, a solução encontrada pelo Banco Central está gerando mais problemas do que soluções.

“A inflação, em particular, é extremamente danosa, encarecendo substancialmente o preço final do produto e impactando diretamente no consumo. Do mesmo modo, a medida precípua para controle da inflação é igualmente nociva para o segmento industrial, uma vez que o aumento da taxa Selic tem influência direta no custo do investimento. O cenário, apesar de relativamente estável, demanda especial atenção do setor”, finalizou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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