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Indústria do Amazonas sobrevive e projeta futuro

Indústria do Amazonas sobrevive e projeta futuro

As lideranças do PIM são unânimes em apontar que 2020 foi um ponto fora da curva, embora ressaltem que os desafios do período ajudaram a indústria incentivada de Manaus a acumular aprendizados e encontrar novas oportunidades em meio à crise da covid-19. Concordam também que 2021 ainda desponta como uma esfinge, em face dos desafios que ainda surgem no caminho. Mas, não deixam de esboçar um otimismo cauteloso, na expectativa de abrir flancos para reposicionar a agenda de reformas e de crescimento.    

No entendimento do presidente do Cieam (Centro da Indústria do Estado do Amazonas), Wilson Périco, 2020 foi um ano que começou promissor, mas que acabou sendo de superação, aprendizado e resgate de valores sociais, em virtude do “imponderável” trazido pelos efeitos da pandemia do novo coronavírus, em termos de perdas materiais e humanas. 

“Isso nos ensinou a conviver com a dor e com a superação. Participamos efetivamente, como indústria, na busca de soluções para as demandas que as equipes de saúde enfrentaram entre abril e junho, no pico da pandemia. A solidariedade imperou e ajudamos muitas famílias. Arrecadamos mais de 240 toneladas de alimentos, além do álcool que produzimos aqui. As empresas, por outro lado, se esforçaram para não demitir e tivemos ajustes sazonais. Isso se deve também às ferramentas que o governo federal disponibilizou”, lembrou.

Wilson Périco recorda que a retomada, por outro lado, veio mais forte do que o esperado e que muito desse vigor se deveu à injeção de recursos do auxílio emergencial. Para o dirigente, sem o benefício federal, a economia teria sofrido muito mais dificuldades para esboçar recuperação. Como consequência, o PIM teve um segundo semestre bem aquecido e com geração de empregos. O presidente do Cieam concorda que não foi o suficiente para compensar os quase dois meses de paralisação da atividade industrial, mas ressalva que o resultado foi positivo, especialmente diante das incógnitas de 2021. 

“Agora, é olhar para frente. Não é um ano para ser esquecido, mas para ser guardado. Com todo o aprendizado que tivemos, estamos certamente mais bem preparados para os desafios futuros. E 2021 é o primeiro desses desafios. Teremos o final dessa ajuda emergencial e o reflexo disso na economia e no consumo. E há toda essa instabilidade politica que temos e a insegurança jurídica que paira sobre nós, além do desafio da reforma Tributária. O ano novo se apresenta como um grande desafio e estes foram feitos para serem superados”, afiançou.          

‘Velho normal’

Na visão do presidente da Eletros (Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos), José Jorge Nascimento Júnior, 2020 serviu para mostrar a “altíssima” capacidade das empresas do PIM de atender às necessidades dos consumidores brasileiros, além de dar confiança ao setor para descobrir novas oportunidades de mercado, de meios digitais e canais de distribuição nos momentos mais críticos da crise. 

Não antes de o setor passar por um de seus maiores desafios. O dirigente recorda que, logo após um primeiro trimestre de crescimento tímido, a indústria foi forçada a lidar com um ambiente caótico, com mais de 80% das fábricas paralisadas, grandes centros comerciais em lockdown e uma “grave crise logística” que afetou empresas de todas as linhas setoriais. “Esse cenário mais do que desafiador provocou graves perdas e uma necessidade institucional de procurar alternativas de estímulo ao consumo e, consequentemente, novos meios de sustentação dos negócios”, complementou.  

José Jorge Nascimento Júnior conta que as empresas foram surpreendidas pelos indicadores positivos de consumo, que teriam demonstrado acerto do governo na reação à crise, e que permitiram a manufatura registrar um terceiro trimestre de forte recomposição em nossas perdas. “Soubemos aproveitar o impulso de consumo motivado por desejos de melhoria e acesso a novos produtos para milhares de famílias, que se viram sem a opção de convívio social e restritos fisicamente a seus lares. Os números são surpreendentes”, comemorou. 

Com a demanda significativa observada no atendimento da Black Friday e Natal, prossegue o presidente da Eletros, as fábricas tiveram de lidar com dificuldades pontuais ao acesso de insumos, problema agravado pela apreciação do câmbio. O executivo se diz otimista para 2021 e reforça que, a despeito da “agenda extraordinária” trazida pela pandemia, a entidade não deixou de lado a defesa dos interesses das associadas no campo técnico e regulatório, assim como nas questões de comércio exterior. 

“Esperamos retomar um debate construtivo sobre reformas estruturais, em especial a Tributária, fundamental para o posicionamento estratégico da maior parte de nossas empresas. Ainda que tenhamos poucas sinalizações sobre 2021, com base nas conversas que temos desenvolvido com o poder público, esperamos um cenário mais estável, com a continuidade das políticas de estímulo ao consumo, assim como a criação de perspectivas de crescimento, com foco na geração de renda para todos. Que assim seja, e possamos experimentar dias melhores, com a perspectiva de imunização e da retomada de forma integral ao nosso ‘velho normal’”, asseverou.

Reforma Tributária

Mais assertivo, o presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas), Antonio Silva, lembra que, a despeito da batalha para assegurar uma alíquota de IPI vantajosa e fixa para o segmento de concentrados, 2020 começou com números que pareciam encaminhar o PIM para “bons resultados econômicos”. O dirigente recorda que janeiro, fevereiro e março já pontuavam avanços de 46,9%, 21,8% e 11,2%, na comparação com os respectivos mesmos meses de 2019, rendendo um acréscimo de 25,2% no acumulado do trimestre. Foi quando a pandemia aportou no Brasil – e particularmente, no Amazonas.

“A partir de abril, o surto epidêmico viria tornar mais difícil a vida de todos, com consequências muito fortes para as atividades econômicas. Sofremos muito com a escassez de insumos, o aumento da cotação do dólar e o encarecimento vertiginoso dos custos de produção, que impactaram com reflexos em todos os segmentos da sociedade, provocando queda de arrecadação de impostos, faltas de produtos, redução de faturamento das empresas, desemprego etc”, listou.

Antonio Silva também observa que a adoção de “medidas sensatas” conseguiu amenizar a queda potencial da economia, diminuindo as perdas econômicas impostas pela pandemia. Concorda também que o aprendizado da indústria com as perdas, dificuldades e eventuais ganhos levou o setor a virar a chave de 2020 para 2021 com esperança renovada de dias melhores. “Ser positivista não é pecado, é fé em Deus, fé no trabalho e na crença de que quando queremos algo com empenho podemos conseguir”, defendeu.

Em que pesem todas as incertezas para 2021 decorrentes da pandemia e seus impactos econômicos, o presidente da Fieam avalia que a maior preocupação para a indústria incentivada de Manaus ainda é a Reforma Tributária e ausência de “uma clara referencia” à ZFM e à manutenção de seus benefícios fiscais. Segundo o dirigente, as discussões no Congresso têm exigido “constante e atento” acompanhamento das entidades para municiar os parlamentares, em tempo hábil, com argumentos, fundamentos e estudos comprovando a importância do modelo para o cenário econômico do Brasil.

“Permanecemos atentos ao combate à insegurança jurídica que advém dos frequentes ataques à ZFM, bem como às modificações de ordem tributárias, que possam nos afetar negativamente e tirar as vantagens fiscais a que temos direito. Já as projeções econômicas para 2021 dependem do controle da pandemia, da forma como serão aprovadas as reformas Tributária e Administrativa. Apesar de todas as dificuldades ainda somos otimistas e acreditamos na recuperação econômica do Brasil, na garra e na criatividade do empresariado brasileiro, e no mercado interno vigoroso, a exigir mais investimentos e vagas de trabalho”, concluiu. 

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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