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Inauguração da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Manaus (1878)

Inauguração da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Manaus (1878)

A Catedral de Nossa Senhora da Conceição, ponto de referência de fé, tradição e cultura na vida dos amazonenses, está localizada na Praça Oswaldo Cruz, popularmente conhecida como da Matriz, no Centro. É a principal e mais antiga igreja da cidade, erguida no período Provincial entre 1858 e 1878.

Essa construção substituiu a antiga, dos tempos da administração de Manuel da Gama Lobo d’ Almada (1788-1799) e incendiada em 1850. Até sua conclusão, serviu de igreja matriz da cidade a Igreja de Nossa Senhora dos Remédios. A pedra fundamental do novo templo foi lançada às 7 da manhã do dia 23 de julho de 1858 pelo Presidente da Província do Amazonas, Francisco José Furtado. A data não foi escolhida ao acaso, já que nesse dia comemora-se também Santo Apolinário e o aniversário da ascensão de Dom Pedro II ao trono (23 de julho de 1840). Estiveram presentes na cerimônia autoridades militares, religiosas, comerciantes e grande número de populares.

Terminadas as cerimônias religiosas, o Presidente e o Vigário Geral colocaram no centro da parede da capela mór uma pedra quadrangular com uma cavidade, depositando nela um cofre de madeira com o auto de colocação da pedra fundamental e duas moedas, uma de ouro e outra de prata:

“[…] a primeira do pezo de quatro oitavas e do valor de deseseis mil reis, cunhada no anno de mil oitocentos e quarenta e sete, tendo de um lado a Efigie de Sua Magestade o Imperador o Senhor DOM PEDRO SEGUNDO com a inscripção seguinte – PETRUS II. D. G. C. IMP. ET PERP. BRAZ. DEF. – e no verso as Armas Imperiaes com a inscripção seguinte – IN HOC SIGNO VINCES -; e a de prata, do valor de dous mil reis, cunhada no anno de mil oitocentos e cincoenta e sete, tendo de um lado o algarismo do seu valor com a mesma inscripção da moeda de ouro e no verso as Armas Imperiaes com a seguinte inscripção – IN HOC SIGNO VINCES”. (ESTRELLA DO AMAZONAS, 28/07/1858, p. 03).

Falta de mão de obra especializada, de materiais, recursos financeiros e mudanças nos projetos fizeram as obras se arrastarem por 20 anos, como se pode atestar a partir da leitura das falas e relatórios dos Presidentes da Província.

O então Diretor Interino de Obras Públicas, João Wilkens de Mattos, informou ao Presidente Francisco José Furtado que os sapadores utilizados nas obras da Matriz eram “[…] africanos livres dados á continuada embriaguez, que só fazem algum trabalho emquanto estou presente; logo que me retiro da obra, onde não me é possivel permanecer o dia inteiro, fazem a cêra que querem, por que nenhum respeito guardão ao feitor” (AMAZONAS. Relatório. 07/09/1858, p. 03-04). Para que isso fosse evitado, além de descontar nas diárias dos sapadores, sugeriu que a área da construção fosse cercada, existindo um único portão para entrada e saída. Os trabalhadores entrariam às 6 da manhã e sairiam às 16 horas. A cerca também impediria que os materiais fossem furtados (AMAZONAS. Relatório. 07/09/1858, p. 04).

Em 1864, o Presidente Adolfo de Barros Cavalcante de Albuquerque Lacerda informava em seu relatório que as obras da Matriz estavam paralisadas “por se ter esgotado o saldo de 815$065 rs., que restava, quando tomei conta da administração, do credito de 10:000$000 rs. Consignado no orçamento d’ aquelle exercicio, e do producto de uma loteria extrahida na côrte, na importância de 11:100$000 rs” (AMAZONAS. Relatorio apresentado á Assembléa Legislativa da provincia do Amazonas na sessão ordinaria de 1° de outubro de 1864, pelo dr. Adolfo de Barros Cavalcanti de Albuquerque Lacerda, presidente da mesma provincia, p. 16).

Em relatório de 1869, o Presidente João Wilkens de Mattos afirma que as obras da Matriz poderiam estar mais adiantadas se não fossem as dificuldades em se obter materiais, sobretudo tijolos. “As olarias que existem”, registra, “por mais que s’ exforcem, não produzem bastante para satisfazer as necessidades do publico” (AMAZONAS. Relatorio com que o exmo. sr. presidente da provincia do Amazonas, tenente coronel João Wilkens de Mattos, abrio a Assembléa Legislativa Provincial no dia 4 de abril de 1869, p. 34).

Anos mais tarde, em 1873, o Presidente Domingos Monteiro Peixoto registrou em sua fala à Assembleia Legislativa que Manaus poderia ter, já em sua administração, um excelente templo católico “[…] si desde o começo se adoptasse um plano definitivo e fosse executado com systema; assim não aconteceu, o plano primitivo da Matriz soffreu constantes modificações, cada um imprimiu-lhe o seu gosto, de forma que a construcção tem-se executado com vagar, com demasiada despeza, e apresenta defeitos que hoje é impossivel corrigir” (AMAZONAS. Falla dirigida á Assembléa Legislativa Provincial do Amazonas na segunda sessão da 11° Legislatura em 25 de março de 1873 pelo presidente da provincia, bacharel Domingos Monteiro Peixoto, p. 31).

Depois de 20 anos, chegara o tão aguardado dia da inauguração da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, esperada pelos administradores e pela população. O Presidente da Província do Amazonas, Rufino Enéas Gustavo Galvão, o Barão de Maracajú, informa em fala à Assembleia Legislativa que a igreja foi concluída no mês de agosto de 1877 e inaugurada em 15 de agosto de 1878, quando foi benta (AMAZONAS. Falla com que o Exm. Sr. Barão de Maracajú, presidente desta provincia, abriu no dia 25 de agosto de 1878 a Assembléa Legislativa do Amazonas, p. 52).

Fábio Augusto Carvalho

é historiador
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