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Inadimplência recua no Amazonas, na contramão da média nacional

Marco Dassori

Twitter: @marco.dassori  Face: @jcommercio

O Amazonas registrou queda na inadimplência do consumidor, em maio, após dois meses seguidos de altas. O Estado conseguiu tirar 63.158 pessoas da lista de devedores, o equivalente a 4,18% do total, reduzindo o total de 1,51 milhão para 1,49 milhão, em relação a abril. Foi o menor número do ano, conforme o Indicador Serasa Experian de Inadimplência do Consumidor. Mas, a quantidade de negativados ainda ficou 2,96% superior à apresentada em maio do ano passado (1,45 milhão). 

Ainda assim, o Estado seguiu na contramão da média nacional. A quantidade de inadimplentes em todo o país totalizou 66,60 milhões no quinto mês de 2022 e foi o maior patamar desde o começo da série histórica iniciada pelo índice da Serasa Experian, em 2016. A variação mensal indicou expansão de 0,76%, enquanto a comparação anual confirmou incremento de 6,39%. A mesma base de dados indica, no entanto, que o Amazonas segue como uma das unidades federativas brasileiras com maior proporção de consumidores com dívidas em atraso no Brasil, embora ocupe o 15º lugar do ranking, em números absolutos. 

A mesma base de dados informa que, no Amazonas, a soma total das dívidas (5,53 milhões) e a quantidade de débitos atrasados por pessoa (3,72) também caiu no mês e subiu no ano. Mas, em virtude da escalada da inflação e dos juros, o ticket médio por conta atrasada (R$ 991,54) e o valor médio acumulado por cada um dos devedores amazonenses (R$ 3.685,20) avançaram de forma significativa em ambas as comparações. 

O maior volume de dívidas negativadas em todo o país está no segmento de bancos e cartões, com 28,2% do total. As contas básicas, como água, luz e gás, aparecem na segunda posição, agrupadas na área de utilities, com fatia de 22,7%. Na sequência estão as dívidas com varejo, financeiras (12,5% para ambos), serviços (10,6%), telefonia (7,1%), securitizadoras (2,2%) e “outros” (4,2%). Desta vez, a Serasa Experian não forneceu o recorte regional por tipos de débitos. Vale lembrar que, em levantamentos anteriores, as contas atrasadas do Amazonas eram puxadas pelas utilities pelo comércio. 

Amazonas é destaque

Os Estados com maior quantidade absoluta de consumidores com dívidas vencidas são, previsivelmente, aqueles com mais moradores. São Paulo concentra a maior quantidade (15,6 milhões), seguido pelo Rio de Janeiro (6,7 milhões), Minas Gerais (6,3 milhões), Bahia (4,1 milhões) e Paraná (3,5 milhões). O Amazonas aparece na 15ª posição, nesse tipo de comparação, já que é uma das unidades federativas com menor contingente populacional. Mas, em levantamentos anteriores, chegou a aparecer no primeiro lugar do ranking, quando a medida era em números relativos.

Um cruzamento dos dados da empresa verificadora de crédito e do IBGE confirma que o peso proporcional da inadimplência ainda é maior por aqui. Em torno de 51,63% da população amazonense (2.884.796) com 18 anos ou mais está nessa condição. Já a quantidade de inadimplentes contabilizados de Norte a Sul do país (66,60 milhões) corresponde a 41,17% do contingente dos brasileiros com idade para contratar dívidas (161,77 milhões). A diferença é ainda mais relevante quando se leva em conta que a população economicamente ativa é proporcionalmente menor no Estado (66,60%) do que no Brasil (75,30%).

No texto distribuído pela assessoria de imprensa da Serasa Experian, o economista da empresa verificadora de crédito Luiz Rabi, destaca que o aumento da inadimplência detectado em maio já era esperado, mas ressalva que é possível melhorar a situação. “Os consumidores precisam continuar se organizando financeiramente e utilizando ferramentas disponíveis, como o saque do FGTS, para tentar tirar o nome do vermelho”, recomendou.

“Consumidor cauteloso”

O presidente da assembleia geral da ACA (Associação Comercial do Estado do Amazonas), Ataliba David Antonio Filho, lembra que maio foi marcado pelas vendas positivas da Páscoa e dos preparativos para um Dia das Mães mais robusto do que o esperado. Ele avalia que as mudanças de comportamento do consumidor a partir da pandemia vêm contribuindo para a contenção do endividamento e redução da inadimplência. Embora concorde que esse aumento de austeridade também inibe o consumo, o dirigente estima que os números devem ser favoráveis no segundo semestre, em ambos os casos.  

“O perfil ainda é do consumidor cauteloso, com predomínio de compras de bens não duráveis e que não exigem linhas de créditos, para evitar o endividamento de longo prazo. O aumento da Selic e dos juros bancários tem gerado impacto no nível de endividamento e na intenção de adquirir bens duráveis. Mas, creio que o futuro do varejo é animador, já que todos os segmentos retornaram às atividades e isso repercute no comércio, que está no topo da cadeia produtiva”, afiançou.

Recuperação de crédito

A ex-vice-presidente do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Estado do Amazonas) e professora universitária, Michele Lins Aracaty e Silva, salienta que a melhora nos indicadores locais de inadimplência foi relativa e estima que devem continuar elevados neste ano. A economista considera que a pandemia agravou uma situação que já era desfavorável, em virtude do aumento do desemprego e perda de renda percebidos no período. E lembra que a inflação também contribui para tanto, ao reduzir o poder de compra dos salários, daí a necessidade de campanhas para reduzir a lista de negativados. 

“A inadimplência acarreta perdas para o consumidor e para o empresário, pois dificulta a aquisição de produtos e contratação de serviços. Índices elevados dificultam a retomada e crescimento da atividade econômica. Reverter essa situação contribui para impulsionar o mercado, pois devolve o poder de compra. É uma forma de restituir a dignidade e o bem-estar das pessoas, em ganho observado em toda a cadeia produtiva. Por isso, as campanhas de recuperação de crédito são de extrema relevância”, frisou.

Empregos e salários

Já o ex-presidente do Corecon-AM, professor universitário e consultor empresarial, Francisco de Assis Mourão Júnior, estima que a redução mensal no índice de inadimplência do consumidor pode estar relacionada a “um certo aquecimento” da economia amazonense, com reflexos na geração de empregos. O economista ressalva, entretanto, que a média salarial segue achatada e inibindo uma recuperação mais forte do indicador.

“Essa questão, associada à inflação e aos juros altos ainda fazem muitos trabalhadores se endividarem além da conta. Há uma pequena reação [nos indicadores da Serasa Experian], mas não temos medidas políticas mais incisivas de geração de empregos, ou mesmo de uma política salarial. Isso começa pelo salário mínimo, que é corrigido apenas pelo IPCA, sem ganhos reais”, arrematou.  

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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