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Inadimplência em Manaus mostra retração

Inadimplência em Manaus mostra retração

O percentual de consumidores de Manaus endividados com cartões e carnês, entre outros meios de pagamento, caiu pelo oitavo mês seguido, entre outubro e novembro, em movimento mais acentuado do que a média nacional. O mesmo não se deu na fatia das famílias inadimplentes, que reduziu menos, enquanto a das que já admitem que não podem pagar se manteve estável. O endividamento é maior para quem ganha mais e a inadimplência castiga mais os que recebem menos. 

É o que mostram os dados da Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo). Na sondagem, 69,8% das famílias manauenses ouvidas (440.782) se dizem endividadas, menos do que os 72,5% de outubro (457.694) e também abaixo da marca de exatos 12 meses atrás (77,6% e 483.577). Foi o menor percentual do ano registrado em nível local e também o valor mais baixo em 13 meses. Em âmbito nacional, o indicador caiu de 66,5% para 66% na variação mensal, mas subiu 0,9% no comparativo anual.

Após o repique registrado no mês anterior, o índice de inadimplência na capital (25,8% e 162.947 famílias) caiu um pouco ante outubro (25,9% e 163.357), embora tenha ainda ficado bem aquém do patamar de outubro de 2019 (30,4% e 189.462). Só 14,6% disseram que devem poder quitar a dívida totalmente e 31,3%, parcialmente – contra os respectivos 18,4% e 28% do mês anterior. Em contraste, a taxa encolheu em todo o país, pela terceira vez, na variação mensal – de 26,1% para 25,7%. Mas, aumentou 1 ponto percentual, em um ano.

A fatia correspondente às famílias que declararam não ter condições de quitar suas dívidas em atraso, que também havia embicado para cima no mês anterior, se manteve estável, na passagem de outubro (13,8% e 86.865) para novembro (13,8% e 86.932), e repetindo o pior percentual desde julho deste ano (14,4%). A retração foi renovada, contudo, em relação à marca de um ano atrás (15% e 93.777). Em todo o país, o índice teve nova retração, passando de 11,9% para 11,5% – embora tenha seguido maior do que o número do mesmo período de 2019 (10,2%).

Tempo e dependência

A maioria dos manauenses entrevistados (37%) se assume “muito endividada” – contra os 46,6% de outubro. São seguidos bem de longe pelos que se dizem “pouco endividados” (19%) e “mais ou menos endividados” (13,7%), com níveis pouco melhores do que os capturados na sondagem anterior (13,3% e 12,6%, respectivamente). Consumidores com renda total superior a dez salários mínimos predominam na média do indicador.

O tempo de inadimplência mostrou aumento nos extremos, em Manaus. Em torno de 34,1% devem há mais de 90 dias – com destaque para os que têm ganham até dez mínimos (35,9%). A fatia de consumidores com dívidas atrasadas entre 30 e 90 dias (48,3%) é a maior, embora tenha caído. Em último lugar está o grupo pendente há menos de um mês (17,6%), que também expandiu. Em outubro, os números foram 33,2%, 50,2% e 15,9%, respectivamente.

Uma redistribuição em menor grau se deu na estimativa de tempo para quitar as dívidas. Caiu o percentual que estima permanecer comprometido com dívidas por mais de um ano (34,1%). Em contrapartida o mesmo não se deu entre aqueles que dizem que levarão entre seis meses e um ano (37,9%) e os que estão pendurados entre três e seis meses (13,4%). Em contrapartida, o grupo que tem compromissos por até três meses (8,6%) aumentou. Os números da sondagem anterior foram 38,4%, 35,6%, 12% e 7,2%, na ordem.

Cartão e comprometimento

Em Manaus, o maior vilão do endividamento e da inadimplência ainda é o cartão de crédito, embora este tenha diminuído sua participação no bolo, de 90% para 79,3%, entre um mês e outro. Assim como em outubro, o percentual foi maior para os que ganham mais de dez mínimos (94,8%). Carnês (67,9%) estão na segunda posição, em ritmo inferior ao de outubro (76,7%), e reduziram sua predominância entre os mais pobres, de 81,1% para 70,3%. Crédito pessoal (35,8%), crédito consignado (13,7%), financiamentos de carro (4%) e de casa (1,3%), assim como cheques especial (1,2%) e pré-datado (0,6%), vieram em seguida.

Em média, as famílias da capital amazonense consomem 42,7% de sua renda para pagar dívidas – um pouco abaixo dos 43,1% anteriores. Houve uma relativa melhora qualitativa na distribuição por níveis de comprometimento. A maioria (60,7%) já gasta mais da metade dos ganhos mensais com dívidas. São seguidos de longe pelos que gastam de 11% a 50% (28,5%) e pelos que limitam os dispêndios a 10% (2,9%). Em outubro, essas fatias foram de 61,7%, 27,9% e 2,1%, respectivamente.

“Fora da realidade”

O presidente em exercício da Fecomércio AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), Aderson Frota, salientou que o histórico da pesquisa da CNC já aponta para uma queda seguida nos níveis de endividamento do consumidor de Manaus, apesar do incremento paralelo do desemprego. O dirigente, entretanto, considera que a economia dá sinais de recuperação e deve gerar mais ofertas de postos de trabalho, contribuindo para a redução da inadimplência. 

“Continuam os dois vilões que tem contribuído para que o índicador não tenha apresentado números melhores: o cartão de crédito e o carnê. Mas este ocorre em virtude do esforço do varejo para aumentar as vendas, depois de ter ficado tanto tempo fechado. A indústria ainda padece com a falta de insumos e comércio vivencia essa dificuldade no desabastecimento. Mas, apesar de tudo, ainda acreditamos que vamos ter queda no endividamento e inadimplência, assim como recuperação de vendas no comércio”, ponderou. 

“Carência de pagamentos”

Em texto distribuído pela assessoria de imprensa da CNC, a economista da entidade responsável pela pesquisa, Izis Ferreira, chama a atenção para o tempo médio de atraso na quitação das dívidas das famílias inadimplentes, que vem aumentando desde junho. “A proporção de famílias endividadas com atrasos nas quitações acima de 90 dias vinha caindo desde antes do surto de covid-19, mas adotou trajetória de crescimento a partir de agosto, e este mês chegou a 42,9%”, alertou.

No texto distribuído pela assessoria de imprensa da CNC, o presidente da entidade, José Roberto Tadros, destaca que os indicadores recentes têm mostrado que a recuperação da economia está mais robusta do que as estimativas indicavam, impactando, inclusive, em pressões inflacionárias pela oferta e demanda. “Deve-se considerar, porém, que a proporção de consumidores endividados no país é elevada, e grande parte do crédito dispensado durante a pandemia foi concedido com carência nos pagamentos”, encerrou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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