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Heróis da história de Manaus

Heróis. Heróis são pessoas que se destacam por atos de coragem, valores e ações extraordinárias, principalmente durante guerras. Os heróis de verdade se tornam imortais através de seus atos, ações e lutas, deixando legados e lições importantes através da história.

Estudamos na escola que o guerreiro manaó Ajuricaba foi um herói porque, liderando vários outros povos, resistiu à colonização portuguesa da Amazônia. Preso, o chefe indígena seria levado para Belém. Conta a lenda que se atirou no encontro das águas quando, numa embarcação, escoltado por soldados, preferiu a morte a perder a liberdade.

“Ajuricaba é um mito da nossa história. Eu o chamaria de anti-herói. Como líder, capturou e vendeu outros índios, para os holandeses, que tentavam aqui se estabelecer. Agora como líder militar, arrisco a dizer que sim, foi um bom líder, coordenou ataques estratégicos às pequenas vilas e assentamentos portugueses, e o modo como barganhou com os holandeses já o faz um líder à altura de que tem direito. Em suma, é um anti-herói mitológico de nossa história, e deve continuar assim”, explicou o estudante de jornalismo Adriel França, criador do projeto ‘Guerreiros do Amazonas’.

Para Adriel, os amazonenses que foram para os três maiores embates guerreiros de nossa história (Guerra do Paraguai, Guerra de Canudos e Segunda Guerra) foram heróis inocentes que serviram ao establishment de suas épocas, todos depois esquecidos pelos seus atos de bravura de ter colocado as próprias vidas em risco.

Mais de 1.000 amazonenses foram para a Guerra do Paraguai – Foto: Divulgação

“A Guerra do Paraguai foi uma guerra que poderia ter sido evitada, mas o ar de grandeza dos líderes não permitiu. Há situações heróicas, e dignas de filmes hollywoodianos, porém há também episódios os quais não há nenhum heroísmo, mas sim, soberba dos poderosos que não titubearam em acabá-la, vendo o fim dos recursos humanos e materiais”, disse.

“A Guerra de Canudos foi um dos piores episódios da história do nosso país. Um horrendo massacre que o Exército não faz questão alguma de lembrar. Antigamente, Canudos era símbolo do tal patriotismo, e a luta contra os inimigos da pátria, porém, atualmente, as várias obras produzidas sobre o assunto mostram o contrário”, falou.

Um batalhão do Regimento Militar do Amazonas foi lutar em Canudos – Foto: Divulgação

“Na Segunda Guerra ficamos do lado certo, mas até mesmo este lado certo, fez coisas horrendas que hoje, aos poucos vêm à tona. Os pracinhas foram para a guerra com um ar de dever a ser cumprido, cheios de honras, e com a esperança de voltar e melhorar de vida. Sim, foram verdadeiros heróis inocentes, vítimas do Estado, depois esquecidos, e só agora, tão tarde, sendo resgatados”, informou.

Amazonenses participaram da tomada de Monte Castelo, na Segunda Guerra – Foto: Divulgação

Médicos em todos os tempos

Agora, com a pandemia da covid-19, o mundo conheceu vários heróis. Médicos, enfermeiros e funcionários de hospitais que colocaram a vida em risco, e muitos a perderam, para salvar pacientes.

Em seu livro ‘História da medicina e das doenças no Amazonas’, o historiador e médico Antonio Loureiro lembra de vários deles, desde os primórdios de Manaus. Ele cita os cirurgiões Antonio de Matos, André Panelli, Daniel Pancik e Domingos de Souza como os primeiros médicos a chegarem ao território amazonense, em 1754, acompanhando o governador Francisco Xavier de Mendonça Furtado, vindos de Belém.

Outro nome citado por Loureiro é o cirurgião Antonio Joseph D’Araújo Braga, que por anos atuou no Hospital de Barcelos, desde antes de 1780. Joseph pesquisou as doenças da região e concluiu que eram causadas pelas águas, o calor, o vento, a umidade, o frio e as emanações pútridas de animais e vegetais em decomposição. Seus tratamentos: sangria, vomitórios, purgantes e clisteres, a famosa lavagem.

Quando o cólera chegou a Manaus, em 1855, quem estava à frente da enfermaria de São Vicente, onde hoje está o 9º Distrito Naval, era o Dr. Moreira, atendendo também, praticamente só, a pacientes do interior do Estado.

“Em 1877 morreu, no Rio de Janeiro, o médico Antonio José Moreira que, por décadas, fora o único médico em toda a província do Amazonas”, revelou Loureiro.

Quando a Beneficente Portuguesa, existente até hoje, foi inaugurada em 1893, seus primeiros médicos foram Jônatas de Freitas Pedrosa, João Machado de Aguiar e Mello, Henrique Álvares Pereira, Marcelino da Silva Perdigão e Manoel Afonso da Silva.

“Cito ainda os médicos Gouvêa Filho, Clementino Ramos, Basílio Seixas e Alfredo da Matta que, com amplo trabalho de vacinação, controlaram a epidemia de varíola, em 1897. Em 1904, Alfredo da Matta conclui que as cólicas intestinais, frequentes nos manauaras, eram causadas pelos canos de chumbo usados na distribuição de água, ou pelas conservas acondicionadas em latas soldadas com chumbo. Em 1906, o Dr. Márcio Nery lutou pelo saneamento da cidade, e conseguiu baixar o número de casos de malária”, listou.

“São tantos médicos, merecedores de terem seus nomes sempre lembrados, mas vou destacar alguns que se perpetuam em denominação de ruas, escolas e hospitais: Adriano Jorge, Antonio Comte Telles de Souza, Djalma Baptista, Francisco Donizetti Gondim, Franco de Sá, Hosanna da Silva, Moura Tapajós, Ramayana de Chevalier, e Vivaldo Lima. Só o fato de terem se dedicado a salvar vidas, já os torna heróis”, finalizou.

“Os verdadeiros heróis da cidade de Manaus são os seus anti-heróis, aqueles esquecidos reiteradamente. Os silenciados. Invisibilizados. Negados para que uma cidade mais rica, diversa, pujante e complexa possa surgir desse núcleo urbano ainda provinciano e carente de auto estima”, afirmou o professor Ygor Olinto Cavalcante.

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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