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Luthieria ganha mais espaço

Herdeiros da luthieria ganham mais espaço

Há pouco mais de um mês morria o ativista, músico e luthier Rubens Gomes, o Rubão, fundador, em 1998, da Oela (Oficina Escola de Lutheria do Amazônia). Apesar de, com o tempo, Rubão ter expandido as atividades da Oela passando a oferecer cursos de informática, preparação para o mercado de trabalho, Libras e vários outros, e até esportes, foi com a lutheria que o mestre ganhou renome até fora do país. A Oela se destacou internacionalmente por trabalhar com madeiras amazônicas certificadas na produção de seus instrumentos e, em 22 anos de existência conseguiu formar mais de 2.000 alunos na arte de tirar sofisticados instrumentos da madeira bruta. Um deles é Evaldo Castro, que hoje atua como luthier e comemora o fato de vários outros alunos da Oficina terem se tornado profissionais, “o que comprova o grande número de instrumentistas existentes na cidade”, disse.

“Há uns dez anos eu li num jornal uma matéria sobre a Oela, que eu nem sabia da existência. Eu já estava com 38 anos, e quis partir para novos conhecimentos. Como a maioria dos adolescentes, eu havia estudado violão e guitarra, e gostava de ler artigos sobre estes dois instrumentos em revistas especializadas”, lembrou Evaldo.

As revistas lidas por Evaldo ensinavam a fazer regulagens nos instrumentos, além de dar outras dicas técnicas, mas ele queria bem mais do que aquilo escrito nas páginas das publicações. O rapaz queria saber como tirar, na prática, um som cada vez melhor de um instrumento musical e para isso, precisava conhecê-lo a partir do momento de seu ‘nascimento’, desde o momento em que um pedaço morto de madeira revive e começa a criar vida com seu novo formato e produção de sons.

O cearense Rochinha

A arte da luthieria é antiga. Uma gravação numa pedra encontrada na Ásia Central, datada com 3.300 anos, mostra um instrumento parecido a uma sitara. Registros de 2.000 anos atrás das civilizações egípcia, grega, romana, turca, entre outras, apresentam vários tipos de alaúdes.

A partir do início do século 20, Manaus nunca deixou de ter grandes músicos de instrumentos de corda, mas luthier mesmo consagraria apenas um, o cearense José Rocha Martins, o Rochinha. Na década de 1940, depois de aprender a arte da luthieria na fábrica ‘Bandolim Manauense’ onde trabalhava, Rochinha se tornou o nome mais respeitado na cidade na arte de fazer, restaurar e consertar instrumentos. Ele confeccionava os instrumentos com madeiras retiradas de caixas que chegavam da Europa, utilizadas no transporte de bacalhau. A cola era produzida a partir do bucho do tambaqui. Também trabalhava duras madeiras amazônicas, como o marupá, que ele explicou só conseguir beneficiar se as peças fossem retiradas durante a Lua cheia. Rochinha morreu em 2007, aos 83 anos.

Evaldo Castro estudou na Oela entre 2011 e 2013 e tal foi seu empenho no aprendizado que, de aluno passou a professor.

“Aprendi a construir o violão clássico (modelo Torres), além de receber noções para a confecção de outros instrumentos de corda. O espanhol Antônio Torres é considerado o mestre dos mestres porque, ainda no século 19, ele revolucionou a arte da construção de violões ao demonstrar a eficiência de seus padrões de forma e de estrutura harmônica, usados até ao dias de hoje”, ensinou.

Depois de trabalhar como professor, na Oela, Evaldo ainda trabalhou no atelier de um dos seus professores até decidir que chegara a hora de montar seu próprio negócio. Em 2015 ele começou com sua luthieria na própria casa, e dois anos depois foi para o atual endereço, no Centro.

A árvore frutificou

“Durante os dois anos em que estudei na Oela, o Rubão apenas gerenciava a Oficina Escola, mas sempre que podia, estava com ele. Gostava muito de conversar sobre a arte da luthieria”, recordou.

No seu atelier ‘Evaldo Castro Luthier’, Evaldo informou que, no momento, não está confeccionando nenhum instrumento devido à falta de alguns maquinários, mas só o restauro e o conserto, principalmente de violões e guitarras, já movimentam bem seu local de trabalho.

“Há uma boa procura. Fico feliz em saber que tantas pessoas possuem instrumentos musicais em casa. A minha clientela é uma mistura de amadores com profissionais, estes, principalmente querendo consertar instrumentos danificados. Já os amadores querem restaurar algum instrumento que encontraram em casa, pensando em tornarem-se músicos”, riu.

“O pessoal opta em restaurar e realizar a manutenção de uma peça porque mandar confeccionar um instrumento sai bem mais caro do que comprar um na loja. O da loja é produzido em série, enquanto o feito por um luthier é único, exclusivo de seu dono. Mas de vez em quando aparece alguém querendo que eu confeccione”, explicou.

Evaldo fez questão de lembrar que a árvore plantada por Rubão frutificou e hoje Manaus possui vários luthiers trabalhando em suas próprias oficinas.

“Cito o Renato Luthier, Gean Dantas, Gil Prado, J.R.S. Luthier, entre vários outros. Se têm muitos luthiers, tem ainda mais músicos. Isso é bom demais”, finalizou.

Serviço

O que: Evaldo Castro Luthier

Onde: Rua Huascar de Figueiredo, 334 – Centro

Informações: 9 8152-0786 Face e Instagram: Evaldo Castro Luthier – @evaldocastroluthier     

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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