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Há 60 anos, queda do PP-PDE ainda é lembrada

Em evento realizado na manhã de hoje (3), no Cigs (Centro de Instrução de Guerra na Selva) em alusão à Semana do Guerreiro de Selva, mais uma vez será feita uma homenagem ao resgate da aeronave Constellation, prefixo PP-PDE, da Panair, que caiu há 60 anos, em 14 de dezembro de 1962, na região onde hoje existe o município de Rio Preto da Eva e, de acordo com o historiador Roberto Mendonça, até agora é o maior acidente com vítimas fatais no Amazonas, 41 passageiros e sete tripulantes.

Todos os anos, em suas missões na floresta, os militares do Cigs fazem ao menos quatro caminhadas de Manaus até o local onde o avião caiu.

O Jornal do Commercio começou a cobrir os acontecimentos a partir do dia seguinte ao acidente, com a destacada manchete: ‘Rota do PP-PDE ainda é mistério’, e perguntava: Que destino terá tido o aparelho?

O Constellation havia saído de Belém com destino a Manaus, onde deveria chegar ao aeroporto de Ponta Pelada à 1h15 e, à medida que esse tempo foi passando, as pessoas que aguardavam os passageiros começaram a se preocupar. Vale lembrar que o aeroporto Eduardo Gomes só foi inaugurado em 1976.

Através de telegrafia (quem sabe o que é isso?) o piloto se comunicou com Manaus informando que passava por Santarém. Mais tarde, agora pela fonia, informou que sobrevoava Itacoatiara. Em mais um contato falou que estava a seis minutos de Manaus. Passaram seis, dez, quinze, vinte minutos e veio a intrigante pergunta da tripulação do avião: “vocês estão escutando o ruído dos motores?”.

Uma aeromoça, que embarcaria para o Rio de Janeiro, no avião, naquela mesma madrugada, junto com vários outros passageiros, saiu chorando da cabine de rádio e foi o sinal da tragédia que havia acontecido, iniciando o desespero entre parentes e amigos dos passageiros que estavam no aeroporto.

Clarão no céu e explosão

Às 6h da manhã do dia 15 começaram as buscas com um Catalina e um Douglas, da Panair, além de um Douglas, da Cruzeiro do Sul; e um Catalina da FAB, entre outras aeronaves, inclusive dois aviões de treinamento do Aeroclube. De Belém veio um Albatroz, anfíbio, também da FAB. Lanchas da Petrobras rumaram para a presumível área da queda, no Careiro, Paraná da Eva, Cambixe e Terra Nova. O governador Gilberto Mestrinho foi ao aeroporto e disponibilizou todas as embarcações do Estado para qualquer emergência. As incessantes buscas duraram o dia inteiro e encerraram às 18h.

Na edição do dia 16, do JC, finalmente o fim do mistério. A manchete estampada foi: ‘Incêndio no ar e explosão na selva’. E continuava: ‘Destroços do PP-PDE foram localizados ontem nas proximidades do Rio Preto’. Nessa época o município de Rio Preto da Eva ainda não fora criado, o que só aconteceu 20 anos depois, em 1982. Muito possivelmente nem deveriam existir moradores onde hoje está a cidade, porém, a estrada Manaus-Itacoatiara já estava aberta.

Vasco Vasques, hoje nome do Centro de Convenções, era o agente da Panair, no Amazonas, e foi quem levou à FAB uma testemunha que dissera saber onde o avião caíra: o filho de um morador da Terra Nova que, junto com quatro amigos, pescava num lago, naquela madrugada. Esse morador era Francisco Alves de Morais. Ele viu um clarão riscar o céu na direção do Rio Preto e, em seguida, ouviu a explosão. Logo surgiram outras testemunhas do ocorrido. Com essas informações, o comando de buscas da FAB sobrevoou o local e visualizou os destroços do avião.

Triste lembrança

A queda aconteceu a 45 km de Manaus, a 16 km da Manaus-Itacoatiara, na época apenas um caminho não asfaltado, na floresta.

A famosa caixa preta, hoje imediatamente procurada após a queda de um avião, começou a ser utilizada a partir de 1957, mas é provável que o PP-PDE não tivesse ainda aquela recente invenção, tanto que até hoje não se sabe por que a aeronave sofreu pane. As conclusões da FAB foram que o avião pegou fogo e o piloto tentou encontrar algum local para pousar, tanto que a copa das árvores em cerca de 100 metros estavam chamuscadas. Depois o avião derrubou obstáculos por cerca de 200 metros, até parar num terreno elevado e, então, explodir.

No dia 18, a manchete do JC foi: ‘Ninguém sobreviveu à tragédia’. A partir do quilômetro 63 da Manaus-Itacoatiara, apoiados por um helicóptero, uma equipe formada por mateiros e integrantes da FAB, do Exército, da Petrobras e da Panair, seguiu a pé, pela mata, para resgatar os corpos. O resgate durou nove dias.

O Cigs foi criado, em 1964 e, desde a década de 1970, quando passou a ministrar cursos de Operações na Selva e de Ações de Comando, incluiu em suas ações as caminhadas até o local, ainda inóspito, onde o Constellation caiu, e lá, lembrar das 48 vítimas fatais.

No Cigs está guardado um pedaço da asa do avião, além de fotos dos trabalhos na área.

Os repórteres do JC que cobriram aquela tragédia, há 60 anos, foram José Cidade de Oliveira e Guilherme Gadelha.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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