Pesquisar
Close this search box.

Grupo Symphoniae quer trazer as serenatas de volta a Manaus

Quem viveu na Manaus de antes da acelerada industrialização, iniciada com a chegada do modelo Zona Franca, após 1967, deve ter visto ou ouvido falar de alguma serenata, coisa que os jovens de hoje não sabem do que se trata. Pequenos grupos de músicos percorriam as ruas escuras e desertas da cidade tocando e cantando músicas românticas, geralmente realizando breves apresentações sob a janela da amada de alguém, que solicitava o serviço. Serenata porque era realizado no sereno da noite, palavra abrasileirada para seresta.

Conta a história que o costume começou na Inglaterra, mas foi trazido para o Brasil, ainda em 1717, pelo francês Le Gentil de La Barbinais, e se espalhou por todo o país. Praticamente acabou devido ao crescimento das cidades, o furdunço de gente e carros, a violência nas ruas e o fim do romantismo dos homens para com as mulheres. Mas três jovens artistas de Manaus querem reviver aqueles tempos. A época é outra, mas a essência das serenatas continua a mesma.

Assim nasceu o Symphoniae, reunindo o violinista José Jonas Júnior, a cantora Carol Martins e o violonista e guitarrista Neto Armstrong. Carol é a figura dos novos tempos, pois nas serenatas originais as mulheres apenas recebiam a homenagem do amado e do grupo de músicos. Jamais participavam deste. O Symphoniae surgiu como resultado da pandemia.

“Estávamos sem poder fazer shows ou apresentações desde o ano passado, então, quando tudo parou novamente, em janeiro deste ano, nos reunimos e vimos que a única maneira de continuarmos nossa atividade era realizando serenatas, com poucos músicos, afastados um do outro, e para um público que fica distante, no segundo, terceiro, quarto andar de uma residência”, explicou Jonas, 18 anos de carreira.

 Jonas tem 18 anos de carreira
Foto: Divulgação

A mais emocionante     

Até a década de 1960, Manaus não conhecia prédios residenciais. No máximo as casas tinham dois andares, então era fácil cantar na calçada e ser ouvido no andar superior. Agora as coisas mudaram um pouco.

“Quando temos que fazer a serenata num local muito alto (já fizemos num apartamento no quarto andar de um prédio), o contratante nos ‘esconde’ na varanda do apartamento e a surpresa da homenageada é grande quando começamos o show”, contou.

Também mudaram os solicitantes e os motivos de uma serenata. Se antes o objetivo era apenas chamar a atenção, ou se declarar para a amada, agora as amadas homenageiam os amados.

“Teve uma esposa que contratou uma serenata para o marido, que estava aniversariando”, lembrou.

E nem mesmo o estilo musical de outrora, bolerões e românticas, resistiram aos novos tempos. O Symphoniae canta e toca de tudo, de acordo com a vontade do solicitante, músicas internacionais, MPB, músicas dos cantores da terra e até pagode.

“Para que a homenageada, ou homenageado, não fiquem insatisfeitos com o repertório, procuramos saber o máximo de informações possíveis como qual o estilo e as músicas de sua preferência”, esclareceu.

E se, antigamente, muitas vezes o pai da amada aparecia na janela e colocava os seresteiros para correr com uma baldada de água, isso também ficou para trás.

“Agora todo mundo fica satisfeito, inclusive os vizinhos, que aparecem nas janelas para prestigiar nossa performance”, acrescentou.

Apesar de o Symphoniae ter apenas dois meses de existência, já acumula histórias interessantes, como a mais emocionante, até agora.

“Há meses sem chegar perto da mãe por causa da pandemia, os filhos contrataram uma serenata no aniversário de 88 anos dela. Foi muito emocionante”, recordou Jonas.

Cantando o amor

Neto Armstrong tem o pai famoso, Neil Armstrong, ambos parintinenses e envolvidos com os bumbás da ilha Tupinambarana, mas Neto foi além dos limites da ilha.

Neto Armstrong tem o pai famoso, Neil Armstrong
Foto: Divulgação

“Comecei aprendendo violão clássico e popular e hoje toco quase todo instrumento de corda. Não tenho uma banda fixa. Já acompanhei todas as de Manaus. Me chamou, eu estou lá”, revelou.

Com 16 anos de carreira, integra bandas de bailes, mas já participou da gravação dos CDs de Cinara Nery e David Assayag e atualmente é produtor musical de Márcia Novo. Entre 2017 e 2018, tocando banjo com a Banda Manauense, Neto fez shows em 100 cidades do Brasil integrando o projeto ‘Sonora Brasil’, do Sesc. Em 2019 gravou o DVD ‘Deu samba na toada’, com as toadas dos bois de Parintins no estilo pagode.   

“No Symphoniae vamos vestidos a rigor, com suspensórios e coletes. A ideia é sermos um diferencial”, informou.

Carol é a mais experiente dos três, com 20 anos de carreira, 18 só cantando em casamentos, além de ser solista no Festival Amazonas de Ópera.

“E não apenas canto. Um marido quis fazer uma serenata para a esposa como presente de casamento. Escrevi a história deles e recitei durante a apresentação”, lembrou.

Carol é a mais experiente dos três, com 20 anos de carreira
Foto: Divulgação

E assim, bem diferente do passado, mas com os mesmos objetivos, as serenatas, ou serestas continuam a cantar o amor.

Informações sobre o grupo. Instagram: @symphoniae_; Face: Symphoniae Produções Musicais.

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
Compartilhe:​

Qual sua opinião? Deixe seu comentário

Notícias Recentes

Pesquisar