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Grupo de Apoio à Criança com Câncer renova as esperanças a centenas de crianças

Na Zona Centro-oeste de Manaus, a sede do Grupo de Apoio à Criança com Câncer (GACC) se torna é residência de crianças, até 18 anos de idade, que deixam suas casas no interior do Amazonas para fazer tratamento médico na capital. Além das 13 amazonenses, duas crianças paraenses e uma venezuelana também estão entre as queridas hóspedes do lugar. 

Hoje, a Avenida Domingos Jorge Velho, número 14, bairro Dom Pedro, é o endereço da pequena Andrya Ednara Leite do Nascimento, de apenas nove anos, e da mãe dela, Edlaine Bruce Leite, de 44 anos, que precisaram deixar os familiares no município de Fonte Boa e virem sozinhas para Manaus, onde a menina trata leucemia. 

Mãe e filha viajaram 678 quilômetros para travar juntas uma guerra contra o câncer, enfermidade descoberta em janeiro deste ano. Desde março, elas estão hospedadas no GACC, de onde só saem para fazer consultas médicas e procedimentos no Hemoam – Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas. 

“Claro que tem seus altos e baixos, mas como a médica diz ela está correspondendo bem ao tratamento. Tem dificuldade para comer, mas é normal, se a gente quando tem um problema de saúde fica assim, avalie ela que faz quimioterapia, toma uma pílula toda noite. Aquela fase difícil que a gente passava no início, às vezes internava para passar 7 dias e acabava passando 14, porque a imunidade dela baixava muito e ela precisava tomar antibiótico fortíssimo, passou. A última internação dela foi um mês inteiro, foi muito difícil, mas Deus é maior”, disse a mãe. 

A viagem da capital até Fonte boa é bastante longa: são cinco dias. Para retornar a Manaus é preciso mais três dias e meio de barco. A distância impede que as duas viajarem para visitar os familiares. Apenas o pai e o irmão mais velho de Andrya consegue visita-la na capital. A mãe conta que não só volta para o município quando médico dela disser que pode ir sem medo. 

“Tenho medo de ela chegar lá e passar mal, a viagem até aqui é muito longa para trazê-la de volta às pressas. Só volto quando o médico autorizar. Até lá nós ficamos aqui. O pai dela sempre vem nos ver. A grande saudade da minha filha é ver o avô, que não consegue viajar até aqui. Um conhecido lá do município que viaja de avião nos prometeu que quando puder e ir voltar no mesmo dia, ele vai levar ela para matar a saudade do avô”, revelou. 

Atividades 

No GACC, mãe e filha participam de diversas atividades para passar o tempo e se manterem ocupadas. A dona de casa conta que não gosta muito de assistir televisão, então prefere passar suas horas livres aprendendo a fazer artesanato junto com outras mães hospedadas no abrigo. 

As aulas de artesanato e os materiais para confecção dos produtos são oferecidos gratuitamente às mães. O objetivo não é apenas proporcionar a elas um entretenimento, mas, principalmente, ofertar uma oportunidade de ganhar dinheiro e aprender uma atividade que possa render frutos ao retornarem para seus municípios. 

Edlaine costura objetos de decoração de temática natalina enquanto a filha vai à escola lá mesmo dentro da instituição. Em parceira com a Secretaria Estadual de Educação (Seduc), o GACC tem uma professora que leciona matérias de ensino fundamental – até a 9ª série – para as crianças, que devem estar devidamente matriculadas no ensino regular. 

O projeto “Classe Domiciliar” atende outras seis crianças que moram na instituição. Como na escola comum, elas assistem aulas todos os dias no período da tarde, fazem atividades e avaliações, que são registradas no sistema da Secretaria, como é feito nas unidades de ensino. 

Além de assistir as aulas da 4ª série, a atividade favorita da Andrya é cozinhar cupcakes nas aulas de culinária. Quando crescer a menina sonha em se tornar uma chef. “Eu estou bem e responde bem ao tratamento, sinto saudades de casa, mas estou bem aqui”, disse. 

GACC 

O Grupo de Apoio à Criança com Câncer (GACC) atua há de 20 anos em Manaus. Nesse período, mais de mil crianças, de 0 a 18 anos, foram beneficiadas com o acolhimento. Na sede própria, localizada no bairro Dom Pedro, o grupo oferta atendimento a dois grupos: um é voltado para residentes em Manaus e o outro para famílias vindas do interior do estado ou de outras localidades, que precisam de hospedagem gratuita. 

Outra frente de trabalho da instituição é dentro do Hemoam. Realizado em parceria com o Instituto Ronald McDonald, o GACC tem uma equipe que faz visita hospitalar às segundas, quartas e sextas, para as crianças que estão internadas. Para essas famílias, são doados fraldas descartáveis e kits com produtos de higiene pessoal.

A casa de apoio GACC abriga crianças diagnosticadas com câncer maligno, encaminhadas pelo Hemoam ou pela FCecon – Fundação Centro de Oncologia do Amazonas – que não tem condições de se manter na capital para fazer tratamento. 

A coordenador assistencial, Simy Essucy, 34, trabalha na instituição há seis anos e explica que 100% das famílias abrigadas hoje são carentes. “Nós recebemos crianças de outros estados e até mesmo de outros países, temos uma paciente venezuelana de um ano hospedada aqui conosco. Com dois meses em Manaus ela foi diagnosticada com câncer. Como estava tratando no Hemoam, ela foi referenciada para gente”, contou. 

Casa de Apoio

A equipe que acompanha a rotina de mães e crianças hospedadas na casa de apoio é formada por nutricionista, psicóloga e assistente social. As famílias recebem seis refeições diárias, que são preparadas seguindo o cardápio elaborado de acordo com as necessidades nutricionais de cada paciente. 

A cada refeição é separada uma amostra que passará por análise no caso de criança passar mal. Simy ressalta que nos dias em que as crianças estão mais enjoadas, devido ao tratamento, e desejam comer a comida da própria mãe, elas podem colocar a mão na massa para atender o desejo do filho. 

O atendimento social é importantíssimo para as famílias. É neste setor que as mães recebem orientação e auxílio para ter acesso todos os benefícios governamentais a que os filhos têm direito. Já a psicóloga atua no atendimento emocional da criança, desde o início do tratamento. “É muito difícil após o diagnóstico porque geralmente a mãe só sabe que a criança tem câncer e acha que ela vai morrer. A psicóloga trabalha de maneira lúdica para explicar para a criança como será o tratamento e para a mãe também”, reforçou. 

A capacidade da casa de apoio é de 36 crianças. Hoje, são 15 hóspedes. Apenas mulheres são autorizadas a se hospedar como acompanhantes dos pacientes. A coordenadora explica que é uma medida adotada para garantir a segurança, a privacidade e o conforto dos hóspedes, principalmente, porque a maioria dos acompanhantes geralmente é a mãe. 

O hotel do GACC possui quartos tipos suítes, com berços e adaptações para cadeirantes; sala de televisão, sala de dança, sala de informática e videogame, sala de aula, sala de artesanato, área com brinquedos, refeitório e lavanderia. Atualmente, devido a pandemia, as famílias só podem sair para ir aos hospitais e voltar para a instituição. 

Doações 

As crianças residentes em Manaus que são atendidas pelo programa de complemento alimentar do GACC. Elas recebem cestas básicas, produtos de higiene e um kit de suplementos alimentares montado a partir de uma avaliação nutricional individual. Pacientes e familiares também recebem atendimento psicológico. 

O translado é outro serviço importante ofertado a esse grupo de pacientes. “A rota inicia às 5h da manhã, o nosso motorista busca os pacientes e acompanhantes em casa, leva para o hospital de tratamento, terminando o procedimento de consulta, quimioterapia, exame, o motorista leva o paciente de volta para casa”, contou Simy. 

O GACC é mantido através de doações de pessoas físicas, que são abordadas pelas telefonistas do Call Center da instituição; doações de empresas, emendas parlamentares e projetos da Prefeitura e Governo do Estado também cobrem os custos, como informou a coordenadora. As doações podem ser efetuadas pelo “Zap Solidário”, no número (92) 99510-2419. 

Foto/Destaque: Rita Ferreira
Reportagem de Laíssa Carvalho e Rita Ferreira

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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