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Gerente de infraestrutura

Os gerentes de infraestrutura ainda são profissionais raros nas organizações de ciência e tecnologia nacionais. Essa raridade se deve ao fato, principalmente, da pulverização das atividades dessa posição operacional por várias outras posições, o que gera consequências graves e comprometedoras do futuro dessas organizações. O gerente de infraestrutura tem, ao mesmo tempo, uma visão panorâmica e específica da organização no presente e no futuro, próximo e distante. Ele é, portanto, o executivo capaz de colaborar nas decisões de curto, médio e longo prazos acerca da expansão física necessária para comportar as diversas produções organizacionais, assim como os serviços de apoio. Além disso, está habilitado (ou pelo menos deveria estar) a auxiliar nas decisões sobre as formas mais adequadas de manutenção do parque físico organizacional. Este artigo tem como objetivo descrever as funções que devem ser desempenhadas pelos gerentes de infraestrutura nas organizações de ciência e tecnologia.
A ideia de infraestrutura é simples de ser compreendida, mas é raro quem a conheça. Essa lógica diz o seguinte: para que as coisas funcionem é necessário que o ambiente de funcionamento esteja disponível. As coisas em funcionamento são chamadas tecnicamente de estrutura, enquanto o ambiente onde essas coisas funcionam é chamado de infraestrutura. A ideia que o prefixo “infra” quer repassar é exatamente a de “embaixo”, como coisas que precisam estar garantidas “antes” que outras possam ser produzidas, executadas, “em cima” delas. Por exemplo, a mesa é infraestrutura para o almoçar, que é considerada, neste esquema lógico, como a estrutura.

Nas organizações, quando se fala em estrutura tecnicamente está-se referindo a três coisas ao mesmo tempo: formalização, centralização e complexidade. Formalização são as regras, normas, que estruturam as relações entre as pessoas durante o tempo em que passam produzindo; centralização é a divisão do poder organizacional entre os seus diversos membros; enquanto complexidade diz respeito à quantidade de unidades da organização e à sincronia de suas produções. Para que as pessoas sigam as regras (como a quantidade de coisas a serem produzidas, por exemplo), obedeçam umas às outras para que a produção seja realizada por cada uma das unidades organizacionais é necessário que tudo o que elas precisam estejam disponíveis. Esse “tudo” necessário para que a produção aconteça é que chamamos de infraestrutura.

Os gerentes operacionais são os responsáveis pela disponibilização desse “tudo”. O “tudo”, contudo, deve ser entendido como todos os recursos necessários para que uma produção aconteça. E recursos, consequentemente, são os meios para que os fins se materializem. Isso implica na necessidade dos gerentes de infraestrutura conhecerem com precisão o processo de expansão dos espaços físicos de suas organizações, campus por campus, quando os gerentes forem sistêmicos, e unidade por unidade, quando forem setorializados em campus.

Quase sempre com formação em engenharia/arquitetura mais administração ou engenharia de produção, os gerentes de infraestrutura conseguem otimizar tanto o uso dos recursos financeiros quanto dos espaços físicos e usabilidade das máquinas e equipamentos que ocuparão cada espaço construído. Além disso, são capazes de fazer esse aproveitamento sem deixar de lado as necessidades dos usuários desses ambientes construídos. Isso quer dizer que a mentalidade do gerente operacional não está circunscrita à construção de prédios ou qualquer outro tipo de instalação física, mas o faz porque seu foco é exatamente a satisfação de necessidades, tanto da organização, naquilo que ela vai produzir nesses ambientes construídos, quanto do pessoal que ali vai operar.

Mas o gerente de infraestrutura não poderia assim ser considerado se sua preocupação fosse apenas em materializar os prédios com seus respectivos equipamentos e máquinas em conformidade com as necessidades dos usuários. O que faz a diferença desse profissional como executivo é sua capacidade de prever e prover a manutenção desses espaços construídos. É a velha constatação: construir, quase todo mundo constrói; construir bem em conformidade com as necessidades reais dos operadores, poucos o fazem; mas fazer bem para suprir necessidade e garantir permanentemente o padrão de qualidade do atendimento dessas necessidades apenas os gerentes de infraestrutura são capazes.

É por isso que o perfil desse profissional exige conhecimentos múltiplos. Além da engenharia/arquitetura e administração/engenharia de produção, é necessária habilidade em manusear cenários, negociações técnicas e políticas, network reconhecido nacional e internacionalmente, capacidade de liderança e comunicacional, pesquisa operacional e programação estatística, além de programação de solução para problemas complexos.

A gerência de infraestrutura, assim como logística e administração geral, é uma atividade meio por excelência. Sua capacidade em servir, trabalhar para as atividades fim e também para as atividades meio, é uma das suas características extremamente visíveis, diferentes de quaisquer outras unidades desse tipo de organização. Pode-se até dizer, com o perdão do exagero, que o gerente de infraestrutura e sua equipe são os maiores servidores institucionais tanto porque têm que fazer o suprimento agora do que o futuro vai exigir da organização, quanto pela materialização das atividades de suprimento das outras atividades meio. O que as outras atividades meio fazem é materializado nas responsabilidades da gerência de infraestrutura.

Assim, para a questão “Por que o espaço físico de quase todas as organizações de ciência e tecnologia nacionais são feios e mal aproveitados?”, a resposta parece singela e precisa: por que essas instituição não contam com o trabalho de gerentes de infraestrutura. E ainda quando têm há organizações que ainda são feias e seus espaços mal aproveitados é porque as pessoas que ocupam essa posição não sabem com precisão o que suas organizações esperam delas. Ou, o que é bastante comum, essa posição é ocupada por alguém apenas para comportar aliados políticos ou amigos pessoais…

Daniel Nascimento

É Professor e Pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)
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