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Gerente de finanças

O gerenciamento do dinheiro das organizações de ciência e tecnologia é um desafio ainda difícil de ser superado, tomando como base o que se tem presenciado nas últimas décadas. Ainda que se admita que as necessidades humanas e organizacionais sejam ilimitadas, é inadmissível, por outro lado, que os objetivos e metas organizacionais não sejam alcançados em decorrência da inabilidade em desenvolver as três funções fundamentais do gerente financeiro nesse tipo de organizações. O gerenciamento, portanto, é uma área do conhecimento que busca dar conta justamente do aproveitamento racional dos recursos existentes para que objetivos sejam alcançados, o que implica na necessidade de planejar o que se tem e o que se precisa obter, aproveitar da melhor maneira possível o que já está garantido e captar o que ainda não se tem. Este artigo tem como objetivo descrever as funções do gerente de finanças nas organizações de ciência e tecnologia.

A gestão financeira é a gestão do dinheiro. Não é gerenciamento de verba, como muita gente fala, e tampouco manuseio de recursos, como a maioria parece imaginar. E para que isso possa ser feito é necessário que os indivíduos com essa incumbência tenham familiaridade em lidar com dinheiro. E ter dinheiro significa ter o meio de troca necessário para que as operações e produções possam ser viabilizadas. É por essa razão que há de se distinguir o gerenciamento de dinheiro do de recursos.
Recursos são todos os meios de que uma organização necessita para produzir alguma coisa ou para que funcione adequadamente. Para que o ensino possa ser realizado, uma organização de ciência e tecnologia precisa ter professores, espaço físico, material didático e inúmeras outras coisas, coisas essas chamadas de recursos. Sem esses recursos a produção do ensino não é possível, de maneira que quanto maior o número de itens de recursos necessários a organização tiver, maior a probabilidade de sua produção estar de acordo com o que foi previsto.

Outra coisa é o gerenciamento do dinheiro. O dinheiro é meio através do qual a organização adquire aquilo de que precisa. É ele que viabiliza a aquisição dos recursos de produção e manutenção das atividades das organizações. Por exemplo, é o dinheiro que permite pagar os salários dos professores, preparar o espaço físico e adquirir o material didático. Como consequência, se a organização tiver os recursos necessários para que possa produzir e se manter, a quantidade de dinheiro que precisará para a aquisição de materiais e serviços diminuirá. Daí advém as três funções esenciais dos gerentes financeiros.

A primeira função é o planejamento das necessidades de dinheiro. Para que isso seja possível, o gerente financeiro precisa conhecer todos os recursos necessários para as produções da organização e a quantidade daqueles que já estão disponíveis. Essa disponibilidade é dividida em disponíveis em quantidade suficiente para a produção de todo o período e disponibilidade parcial. O gerente financeiro se ocupará, portanto, da obtenção de dinheiro para a completude dos recursos cuja quantidade ainda seja parcial.

A segunda função é o uso do dinheiro disponível. Em sintonia com os gerentes de produção (coordenadores de cursos e gerentes de laboratórios, por exemplo), o gerente financeiro terá que elaborar um fluxo de suprimento de materiais e serviços para que a produção e a manutenção da organização sejam garantidas. Isso quer dizer que o gerente financeiro deverá conhecer, período a período, a quantidade de dinheiro de que precisará para não deixar faltar os recursos necessários para o funcionamento adequado dos sistemas de produção da organização de ciência e tecnologia.

A terceira função é a obtenção de dinheiro. Em uma linguagem mais costumeira, o gerente de finanças tem que captar recursos. A captação de recursos nada mais é de completar o estoque de dinheiro de que a organização precisa para garantir a produção e a manutenção dos seus sistemas de produção. Todo gerente financeiro, como consequência, é um exímio conhecedor da capacidade de produção da organização e das demandas dessa produção por parte do ambiente de inserção e atuação da organização de ciência e tecnologia. Noutras palavras, gerentes financeiros são profissionais de mercado, especialistas em negociações.

O que se vê nas realidades das organizações de ciência e tecnologia nacionais? Seus gerentes financeiros quase sempre são indivíduos que foram ali colocados porque tem alguma formação em administração, contabilidade ou economia. E isso, nos casos de maior adequação entre o indivíduo e as exigências do cargo. Nas organizações públicas de ciência e tecnologia, por outro lado, a realidade é ainda mais dolorosa: quem ocupa essa posição são pessoas que foram ali colocadas porque alguém precisa estar lá.
Certo reitor, logo ao assumir o comando de uma organização nordestina de ciência e tecnologia brasileira, colocou no gerenciamento operacional do dinheiro um indivíduo com formação e alguma experiência. Pagou a tutela das atividades do jovem gerência para uma empresa de consultoria. O jovem gerente organizou o sistema de gestão de dinheiro da organização e treinou todos os gerentes que atuavam sob sua sintonia nos campi espalhados pelo seu estado. Em menos de um ano as costumeiras faltas de dinheiro praticamente desapareceram. Como organização pública, nunca mais a responsabilidade por falta de dinheiro foi transferida para o governo.

O segredo do gerenciamento bem sucedido de dinheiro em qualquer tipo de organização não está em se saber cuidar do dinheiro pura e simplesmente. O segredo está além. É necessário que o gerente financeiro conheça as operações da organização, que é quem realmente consome recursos, os produtos e serviços que ela produz e fundamentalmente as necessidades dos compradores. É esse equilíbrio (que modernamente se chama de sustentabilidade) que deve ser buscado por esse tipo de gerente entre necessidades de recursos e necessidades de dinheiro. Quando isso for compreendido e praticado, dificilmente nossas organizações continuarão carentes de dinheiro. Descobrirão que têm recursos capazes de gerar qualquer necessidade de dinheiro. E a capacidade gerencial é um desses recursos milagrosos.

Daniel Nascimento

É Professor e Pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)
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