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Na visão do cientista político Joseph Nye, um dos principais teóricos das relações internacionais e pai do termo “soft power” (o poder de influir por inspiração e pelo exemplo), o efeito imediato do rebaixamento do rating norte americano é negativo, embora sem a magnitude que alguns estão prevendo. Em parte, o sentimento é de perda. Se essa perda for irreparável – como crêem alguns analistas –, só o rigor de Washington no cumprimento dos compromissos fiscais estabelecidos poderá dizer. “A bagunça do processo político americano na questão da dívida e agora esse rebaixamento pela Standard & Poor’s ferem tanto nossa imagem no exterior quanto nosso ‘soft power’”, diz o professor de Harvard e participante dos governos Jimmy Carter (1977-81) e Bill Clinton (1993-01).
“Espero que seja um efeito temporário, se conseguirmos fazer valer nossa nova legislação econômica nesses próximos anos”.

O professor separa, porém, o rescaldo político do econômico, fazendo coro com analistas financeiros que apontam a falta de alternativas duradouras aos títulos da dívida americana, abundantes no mercado e, portanto, mais fáceis de negociar. “No curto prazo, estamos por ver ainda se o rebaixamento fará diferença sobre o desejo [dos investidores externos] de possuir nossos títulos.” Nye não é o único a advertir sobre os arranhões para o status global americano. “Muitos em Washington não conseguem ver o preço que esse debate teve”, escreve David Rothkopf, um dos principais membros do grupo de estratégia do centro de estudos Carnegie Endowment for International Peace, no website da revista Foreign Policy. “Ao invés de restabelecerem a confiança nos EUA e retomarem princípios financeiros mais ressonantes, eles revelaram – tanto com suas ações nos últimos meses como com o acordo meia-boca que foi fechado sobre a dívida – falhas profundas de caráter do nosso sistema e de nossos líderes”, afirmou Rothkopft.
O pano de fundo desse debate é o medo que se tornou latente na opinião pública dos EUA, como os âncoras de TV norte-americanos fazem questão de lembrar a todo momento, a China é o principal credor externo do país. “Enquanto a Europa e os EUA tentam se desvencilhar dessa confusão, a China está chutando mais forte e mais longe que todo mundo”, escreveu Ian Bremmer, presidente da Eurasia, influente consultoria de risco político, completando: “Os chineses focaram o longo prazo e vão tentar se desvencilhar dos EUA.” A visão de longo prazo é própria de culturas milenares habituadas a raciocinar com horizontes históricos mais amplos.
Para Nouriel Roubini, um dos primeiros economistas a prever a crise iniciada em 2008, a chance de os EUA e de outros países entrarem em severa recessão já era grande e só fez crescer com o rebaixamento do rating da dívida americana feito pela Standard & Poor’s. “A equivocada decisão da S&P de rebaixar os EUA em um momento de tão severa turbulência nos mercados e de fraqueza econômica só aumentou as chances de um duplo mergulho e de déficits fiscais ainda maiores”, escreveu em artigo ao jornal britânico “Financial Times”.

Credibilidade
da S&P
A nota da dívida americana foi rebaixada na última sexta-feira, de AAA para AA+, pela agência de crédito Standard & Poor’s (S&P). A decisão foi criticada pelo governo americano, que apontou erros de cálculo na análise da S&P. Na edição desta segunda-feira do jornal The New York Times, o economista Paul Krugman questiona a credibilidade dos julgamentos econômicos das agências. O Nobel de Economia lembra que a própria S&P tem parte da culpa nos atuais problemas econômicos nos EUA. As agências contribuíram para a crise ao conceder nota ‘AAA’ a instituições que deram origem à crise financeira de 2008. Na época, o próprio banco Lehman Brothers, que foi a falência, recebeu nota ‘A’ pouco antes de quebrar.
Vale também lembrar o caso do Japão, que a S&P rebaixou em 2002. Passados nove anos, o país ainda pode emprestar livremente. Portanto, não existe razão para levar o rebaixamento americano muito a sério. Apesar disso, o economista lembra que os EUA têm, de fato, um problema econômico para lidar. E defende que esse problema foi causado por “vias políticas”, como resultado da pressão de grupos da extrema direita americana, que acham melhor “criar uma crise” do que ceder em suas demandas.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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