Pesquisar
Close this search box.

Finalmente no bom rumo

A lei 11.705/2008 que impõe tolerância zero para quem bebe e dirige é uma resposta às reclamações daqueles que achavam injusta a proibição da venda de bebidas nas estradas federais. Defensor da liberdade comercial, também critiquei o desvirtuamento de meios, como a MP 415, que visam combater um objetivo sério que é o de diminuir os acidentes e as conseqüentes mortes no trânsito. Amante de um chope e de uma taça de vinho, sei que serei atingido pela medida. Porém, a definição de critérios é bem-vinda e visa punir quem realmente comete a infração, isto é, aquele que bebe e dirige.
Embora as estatísticas não apontem o álcool como causa principal dos acidentes nas estradas –a má conservação está quilômetros à frente–, as das cidades não parecem separar bebidas de outras drogas menos lícitas. Contudo, temos de considerar que mesmo a ingestão de bebidas alcoólicas não faz justiça ao ser medida em aparelhos. Vejamos o que segue:
Imaginemos um motorista antigo, que tirou sua primeira carteira em época que nem existia bafômetro, quando o cinto de segurança era exclusividade de aviões, a palavra “tacógrafo” era coisa para estudiosos da língua, o único instrumento para medir velocidade era o velocímetro do carro que não ultrapassava a cem por hora, as estradas pavimentadas eram raras e, por fim, bom motorista era aquele que passava marcha sem arranhar. Esse motorista, com certeza, ia para festas onde havia muita bebida e voltava para casa dirigindo sem traumas de consciência e ficava irritado quando a companheira o advertia: “Bem! Vá devagar!”
Imaginemos a situação do jovem que está dirigindo pela primeira vez e, apresentando-se para amigos com o carro que o pai lhe emprestou. Sai pra balada com bebidas e garotas e se acha o rei do mundo. Tem necessidade de mostrar suas habilidades ao volante e quer ver o ponteiro do velocímetro pender para a direita do painel. Esse jovem talvez nem necessite da ajuda do álcool pra fazer loucuras. Já está embriagado pela empolgação natural da idade.
Em entrevista ao Jornal do Commercio, Mônica Melo, diretora do Detran reconhece que duas latas de cerveja é tolerável, embora saiba que o motorista não pare nessas duas. Assim, a lei de tolerância zero acaba atingindo a todos. Concordamos que, para o bebedor habitual, 600 ml de cerveja não seja perigoso, o mesmo não se pode dizer para aquele que nunca bebeu.
Por outro lado, como toda a implantação de uma nova lei, esta também vai ter muita confusão, no início, até por excesso de zelo de algum guarda. Contudo, a maior dificuldade deve mesmo ser a educação dos motoristas que, por nunca terem sido fiscalizados, acreditam que “tudo continuará como dantes, no quartel de Abrantes”.
Os bares sentirão o impacto e terão de criar algumas normas que a legislação não prevê. Talvez, entre as novidades, possam incentivar a figura do “Sóbrio da Vez”, isto é, o motorista que leva seus colegas para brincar, mas permanece ele próprio, totalmente sóbrio. Esse cliente, sacrificado por uma noite, receberia do estabelecimento algum refrigerante grátis, ingresso gratuito ou outra compensação por sua abstinência.
Todos devem dar sua contribuição para a mudança de hábitos. Se a lei for aplicada, conforme o texto antes da regulamentação, se ocorrer a prisão de quem está ao volante com grande quantidade de álcool no organismo, haverá necessidade de se construir presídios extras. Os guardas de trânsito, com o bafômetro em mãos, sempre vão saber se a quantidade de álcool é exagerada ou não, mesmo que ultrapasse os limites da lei. Isto pode fazer com que alguns corruptos queiram receber um percentual sobre o valor estratosférico da multa.
Porém, ao exigir a contribuição dos cidadãos, o poder público assume a responsabilidade de fazer a sua parte para diminuir os acidentes. Conservação e sinalização de ruas e estradas também evita acidentes e salva vidas humanas.
Aguardemos a lei, que tem boas intenções, e fiquemos de olho na aplicação dela.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
Compartilhe:​

Qual sua opinião? Deixe seu comentário

Notícias Recentes

Pesquisar