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Festivais de música e virtualização veio para ficar

Festivais de música e virtualização veio para ficar

A pandemia causada pela COVID-19 fez o mundo parar, pensar e criar alternativas para que os negócios não afundassem, como em uma reação em cadeia. Quem podia, cumpriu meses de quarentena em casa e procurou alternativas de entretenimento totalmente online. Com casas de show fechadas por tempo indeterminado seguindo as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) de distanciamento social, artistas e produtores musicais tiveram que reinventar formatos para entregar outras propostas de apresentações ao vivo para quem estivesse em casa, popularizando as lives musicais durante a pandemia.

De acordo com um levantamento realizado pelo Google e pelo YouTube, e divulgado em agosto, 85 milhões de brasileiros assistiram pelo menos a uma live musical durante o período de quarentena. A pesquisa também mostra que, das dez lives musicais mais vistas na plataforma de vídeos, oito foram de artistas brasileiros. Das 1.007 pessoas entrevistadas, 71% afirmaram ter assistido a pelo menos uma live durante a quarentena, enquanto 38% disseram ter acompanhado seis ou mais, e 24% assistiram mais que dez shows online.

O festival Rio Music Market, organizado pela Associação Brasileira da Música Independente (ABMI) e que reúne profissionais de diversos países para falar sobre a indústria musical mundial, foi um dos eventos que tiveram de se adaptar ao modelo digital para fazer a edição deste ano acontecer conforme o planejado. Os painéis rolaram na semana passada, e um deles trouxe para discussão justamente o tema da virtualização de festivais e shows, mirando no futuro das experiências ao vivo.

O painel foi mediado por Cristina Becker, Head de Arts Brazil no British Council, e recebeu as convidadas Bell Magalhães, Diretora do Festival Sarará, Ana Garcia, Diretora do Festival No Ar Coquetel Molotov e Carol Morena, Coordenadora do Festival Radioca. As três convidadas aproveitaram os quase 90 minutos de discussão para dividir as alternativas para lidar com os imprevistos causados pela pandemia de COVID-19, seja virtualizando os eventos ou encontrando outras formas de entregar entretenimento para o público em casa.

Desde 2014, o Festival Sarará é um evento que acontece anualmente no Estádio do Mineirão, em Belo Horizonte e reuniu mais de 40 mil pessoas na última edição, em 2019. “Essas ações que construímos esse ano foram muito importantes para nossa sanidade mental e funcionou para que continuássemos potentes e fortes na luta e na caminhada pela promoção da cultura no país”, declarou Bell Magalhães referindo-se à versão virtual que aconteceu nesse ano no mesmo local, porém sem o público presente.

“Em um ano, a gente foi de oito a oitenta” declarou a organizadora, referindo-se à experiência 100% digital apresentada por Linn da Quebrada e que tinha o objetivo de valorizar a cena mineira na música brasileira, oferecendo shows de artistas como Lagum e Rosa Neon. “Chegamos num ápice de entregar um festival para 40 mil pessoas, e, um ano depois, entregar um festival sem público.”

O pernambucano Coquetel Molotov também teve de repensar seu formato em 2020, oferecendo uma programação “imersiva”, como a diretora Ana Garcia descreveu durante o Rio Music Market. “Era bastante inovador para o que estávamos vivenciando naquele momento, com o isolamento social ainda sendo uma realidade e o formato em slides ficando saturado”, conta. “Foram duas semanas de programação intensa, com oficinas, encontros, e um grande dia de música com quatro palcos simultâneos pelo Zoom, com boa parte do público se mostrando e interagindo pelas câmeras.”

Por outro lado, há quem preferiu utilizar as plataformas digitais e o nome dos festivais como forma de entregar uma alternativa diferente para o público. Foi o caso do Festival Radioca, que surgiu do programa de rádio de mesmo nome, até ganhar o formato de evento musical há cinco anos. “Recebemos essa puxada de tapete do mundo e pensamos qual seria o papel do festival além do show, do encontro físico e dos palcos”, declarou a coordenadora Carol Morena durante o painel. “A gente brinca que está construindo o mundo que gostaríamos de viver, tranquilo e agradável.”

“Fizemos milhões de questionamentos internos”, continuou a produtora do evento. “Os festivais conseguem aglutinar um público em volta muito fiel e curioso, é um público que confia na nossa curadoria, então entendemos esse papel e desenvolvemos um podcast [durante a quarentena]”, intitulado Radiocast. “A gente tem trabalho bastante a comunicação entendendo que a gente é uma plataforma desse contato com artistas, o público e o mercado.”

“Estamos pensando num festival online para março”, adianta Carol em primeira mão sobre um Radioca digital. Mais detalhes devem ser divulgados em breve.

Patrocinadores e apoio na produção de festivais web

Um dos principais desafios em adaptar um festival presencial para o meio digital é não contar com a receita da bilheteria ou do consumo dentro do evento, explica Ana Garcia. “Quando começou o período de isolamento, a gente já estava na produção do Coquetel Molotov São Paulo“, conta a produtora. “Tivemos que parar tudo e repensar, então o Coquetel Molotov.EXE aconteceu em julho e foi um dos primeiros festivais que não eram apenas uma live.”

“Acho que produtores de eventos são especialistas em lidar com crises. A cultura está em crise há anos e [a pandemia] foi uma crise que despertou a nossa criatividade”, brincou a diretora do Coquetel Molotov. “Conseguimos reunir todos os parceiros do festival que acreditam na cultura e a entendem a importância disso continuar acontecendo mesmo naquele momento”, pontuou, ainda ressaltando a importância de um evento pernambucano acontecer num ano como 2020, em que “quase não há apoio para os artistas locais da cena independente.”

Uso da tecnologia

No caso Sarará, o intuito da versão digital foi trazer a experiência do evento para a casa das pessoas. A Diretora Bell Magalhães conta que a edição na web não foi um projeto inicial e que a organização ainda tinha esperança de que até a data do festival acontecer, em agosto, a situação diante da pandemia de COVID-19 já estaria mais controlada. “Quando tínhamos a ideia de fazer no Estádio do Mineirão, acreditávamos que daria para reunir poucas pessoas, com espaçamento e medidas de segurança e higiene para ter uma experiência presencial”, conta.

“Como fechar uma conta de um universo automático de bilheterias, patrocínio e consumo quando perdemos as maiores receitas do evento?”, questionou a produtora do evento.

Colocando-se no lugar de um público que consumiu lives todos os dias desde março, Magalhães conta que a equipe passou por uma bateria de reuniões para trazer um festival menos “chato”, como ela mesma descreve, para pessoas que já estavam “saturadas” da tela do computador, da TV ou celular. “Pensamos em criar um site com áreas em que as pessoas pudessem pedir pelo delivery com os restaurantes locais, os patrocinadores tinham a área de bebidas e uma sala em que as pessoas pudessem olhar uma para as outras e gerar uma paquera”, contou a organizadora do Sarará.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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