De madeiras brutas surgem belos objetos domésticos e de decoração. Assim tem sido a produção artesanal do casal Jamilya e Raniere, ela, desde 2021; ele, desde a infância, e alguns desses objetos estarão na exposição ‘Utensílios domésticos em madeira’, no Restaurante e Cevicheria Mira Flores (rua Inhaúma, 196, conjunto Beija Flor – Flores) a partir do dia 20, sexta-feira, das 11h às 23h.
Raniere nasceu em Sousa, na Paraíba, mas até 2019 estava morando em Boa Vista junto com Jamilya, quando resolveram se mudar para Manaquiri, onde ela tem familiares.
“Ainda jovem o Raniere começou a trabalhar com o tio dele, numa marcenaria, e foi lá que desenvolveu a habilidade como artesão de objetos domésticos e de decoração”, contou Jamilya.
“Comecei como ajudante de marceneiro, na marcenaria do meu tio, onde aprendi a fazer os objetos de madeira. Quando saí de lá, sempre tive outros empregos porque não dá para viver só de artesanato”, disse.
Ainda assim, o casal continuou buscando realizar trabalhos extras para ajudar nos ganhos. Foi então que, já no Manaquiri, em 2021, resolveram produzir vasos de cimento.
“Mas dava muito trabalho, e o pessoal ainda reclamava, achando caro. Gastava muito cimento, os vasos eram pesados. Vi que era um trabalho que não compensava. Resolvemos trabalhar com madeiras, já que o Raniere tinha esse conhecimento”, falou Jamilya.
Para melhorar ainda mais o acabamento artístico das peças do marido, ano passado Jamilya aprendeu a fazer pirografia e acrescenta os mais variados desenhos em cada uma das peças que ele conclui: farinheiras, bandejas, tábuas de corte, porta-joias, bandejas para peixes, fruteiras, porta-chaves, porta-talheres, quadros, colheres e saladeiras.
“Minhas peças são únicas. Podem até ter a mesma utilidade, mas nenhuma é igual à outra”, confirmou Raniere.
Cultura indígena
Francisco Joarles também trará peças para a exposição ‘Utensílios domésticos em madeira’. Apaixonado pelas lendas amazônicas, o artesão tem ascendência na área. Seu tio-avô Washington entalhava quadros na madeira, enquanto a mãe fazia trabalhos com gesso e pirografia.
“Eu só me interessei pela arte com pirografia há uns cinco anos, quando trabalhava na Semed, em Manaus. Os funcionários do alto escalão usavam canetas de madeira, eu as achava bonitas, mas não podia comprar uma, então pesquisei no YouTube como fazê-las. Aprendi, fiz uma, depois outras pirografando o nome do dono nelas. Logo todo mundo queria ter uma”, lembrou.
“Nas matas do Manaquiri descobri uma planta cujo caule pode ser transformado no corpo da caneta. Duro, basta remover a bucha do seu interior e fica no jeito”, revelou.
Das canetas, Joarles passou a pirografar quadros com imagens de indígenas usando como telas, fundos de gavetas descartadas pela Semed.
“Um professor viu um dos quadros, comprou, e outros funcionários da Semed passaram a comprar meus trabalhos”, completou.
Desde então Joarles não mais parou de pirografar quadros com imagens de indígenas, lendas e animais amazônicos. E até criou seu próprio pirógrafo com o qual pode fazer trabalhos mais refinados.
“Gosto da cultura indígena ancestral. Minha bisavó era indígena peruana, e veio pra cá fugida do Peru”, garantiu.
“Agora quero fazer quadros maiores, com dois, três metros de tamanho”, avisou.
Quanto aos tacapes e bordunas, ele os faz há menos de um ano.
“Vi os tacapes e bordunas numa exposição no Vasco Vasques, então quis fazer igual. Como sou apaixonado pelas histórias dos povos indígenas, queria ter para mim uma arma do tipo que eles usavam, e fiz uma borduna. Da mesma forma com as canetas, o pessoal viu, gostou, e agora estou produzindo bordunas e tacapes. Também estou trabalhando num martelo de pedra, que era utilizado pelos homens morcego”, afirmou.
Para a exposição no Miraflores, Joarles trará quadros pirografados, tacapes e bordunas.
Aberto a outras exposições
“É a primeira vez que realizo um evento como esse aqui no Miraflores e a expectativa é das melhores, pois vamos divulgar o belo trabalho desses três artesãos do Manaquiri. Com certeza os clientes vão ficar satisfeitos, pois as peças produzidas por Jamilya e Raniere, são peças que usamos no nosso dia a dia, em casa, e de madeira, bem mais decorativas que as de plástico. As do Joarles são excelentes para decoração”, adiantou Robenita Caldas, proprietária do Miraflores.
Com doze anos de existência no conjunto Beija Flor, o Miraflores se consolidou como uma referência na gastronomia peruana e da tríplice fronteira, agradando não só ao paladar de peruanos, mas também de manauaras.
“Sim. Estamos abertos a outras exposições do tipo, pois é importante essa união amazônica: artesanato feito com madeiras amazônicas, com o puro ceviche peruano”, riu.
A exposição está tendo o apoio do projeto Canoa da Cultura e da turismóloga Mara Regina, que atua no Manaquiri, junto a empreendedores e artesãos.