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Famílias seguram consumo com desconfiança na economia

Marco Dassori

Twitter: @marco.dassori   Face: @jcommercio

A confiança das famílias de Manaus estancou em julho, após o leve recuo do mês anterior. Com isso, a capital amazonense seguiu em ritmo aquém do verificado na média nacional, que colecionou seu 13º crescimento consecutivo. Com as medidas federais de estímulo, o refluxo pontual da inflação, e a melhora no mercado de trabalho, o consumidor local aumentou sua satisfação em relação a sua renda, emprego e capacidade de compra. Mas, a escalada dos juros inibe o acesso ao crédito e a disposição de adquirir bens duráveis. A conclusão vem dos dados regionais do índice de ICF (Intenção de Consumo das Famílias) da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo). 

Em Manaus, o ICF ficou em 39,9 pontos e segue na zona de insatisfação (de 0 a 100 pontos) há 27 meses consecutivos, ficando bem distante do patamar pré-pandemia apontado em março de 2020 (105,2 pontos). Foi um escore muito parecido com os de maio (39,8 pontos) e junho (39,6 pontos) de 2022, e ficou pouco acima da marca de 12 meses atrás (36,3 pontos). A desconfiança é menor entre as famílias com renda acima de dez salários mínimos mensais (63,8 pontos), do que entre os consumidores com rendimentos abaixo dessa marca (37,6 pontos). 

A capital teve desempenho mais tímido do que o apresentado pela média brasileira, que teve alta de 1,2% entre junho (80,2 pontos) e julho (80,7 pontos), ficando 18% acima do dado do mesmo mês do ano passado (68,4 pontos). Foi o melhor resultado desde maio de 2020 (81,7 pontos), mas também mal arranhou a marca dos dias imediatamente anteriores à crise sanitária, em março do mesmo ano (99,9 pontos). Segundo a CNC, embora todos os indicadores da pesquisa tenham apresentado incremento, a maioria registrou desaceleração em relação a junho.

Renda e emprego

O resultado de Manaus foi puxado por seis dos sete componentes do ICF, na variação mensal, embora todos sigam no nível de insatisfação. As expansões vieram principalmente das avaliações dos entrevistados em relação ao nível de consumo atual (+14,6%) e renda atual (+5,7%). Na sequência vieram as perspectivas de consumo (+2%) e profissional (+1,4%) e emprego atual (+1,2%). Em sintonia com o aumento dos juros, contudo, a percepção sobre acesso ao crédito (+0,1%) estagnou e sobre o “momento para duráveis” (-6,3%) despencou.  

Apesar da disparada pontual, a visão das famílias sobre o seu nível de consumo ainda é o principal fator que puxa o ICF de Manaus para baixo. Mesmo com o segundo aumento consecutivo de dois dígitos, o subindicador ainda aparece com o pior escore da lista (17,4 pontos). Nada menos do que 88,7% dizem que estão comprando menos do que no ano passado, sendo que a restrição é maior entre os que recebem abaixo de dez salários mínimos (89,4%). Apenas 6,2% dizem que estão consumindo mais – com maior proporção nas famílias mais ricas (11%). Os 4,9% restantes apontaram empate. 

A despeito da alta relativa, a pontuação das perspectivas de consumo (27,2 pontos) não é muito melhor, assim como as avaliações sobre a renda familiar atual (27,7 pontos). Para 82,5%, o consumo familiar e da população deve ser menor que no ano passado, nos próximos meses. Outros 8,7% arriscam dizer que será maior e uma parcela idêntica aguarda estagnação. Em paralelo, 78% dizem que a renda familiar piorou em relação ao cenário de econômico de 12 meses atrás. Só 5,7% viram melhora e os demais 16,1% avaliam que está igual. 

O entendimento sobre a situação atual do emprego (62 pontos) mudou de sinal e voltou a crescer, consolidando o maior placar da lista. Ainda assim, 45,6% se dizem “menos seguros” relação a sua ocupação, ao passo que 27,3% não veem mudanças e apenas 7,6% se dizem “mais seguros”. A cota dos desempregados subiu de 18,9% para 19,3%, ante junho. Na perspectiva profissional (37,9 pontos), a percepção majoritária sobre os próximos seis meses segue negativa (78,7%), em detrimento dos otimistas (16,6%) e indecisos (4,7%). A confiança é muito maior entre os que ganham mais (81,7%), do que entre os que recebem menos (33,7%).

A visão sobre a situação atual do crédito (49,6 pontos) se manteve na mesma. Em torno de 63,5% dizem que o acesso está mais difícil do que no ano passado. Apenas 13% dizem que ficou mais fácil e 23,1% não veem diferença. Em sintonia, houve retrocesso na visão do consumidor sobre o “momento de aquisição de bens duráveis” (57,4 pontos). A maioria esmagadora (69,6%) ainda garante que esta não é a melhor hora para isso, e só 27% têm opinião contrária, enquanto 2,7% dizem que não sabem. Em ambas as situações, as dificuldades e cautelas aparecem leve predomínio das famílias de menor renda.

“Trajetória de crescimento”

No entendimento do assessor econômico da Fecomércio-AM, Enio Ferrarini, os números locais do ICF indica, que a economia segue reagindo em “trajetória de crescimento”. O especialista aponta o superávit fiscal nas contas públicas do governo federal, Estados e municípios, assim como as “estatais gerando lucros”, como fatores que dão sustentação a esse diagnóstico. Na análise do economista, a “redução na carga fiscal” promovida por medidas federais, a recuperação da taxa de emprego e o Auxílio Brasil também contribuíram “sobremaneira” para o desempenho.

“Contrariando perspectivas negativas do cenário econômico mundial, o Brasil tem surpreendido com os dados oficiais a cada nova pesquisa realizada por diferentes institutos. Apesar do aumento no ICF, ainda há certa dose de cautela por parte das famílias em relação à retomada do consumo nos níveis anteriores à pandemia. Isso se deve ao longo período e ao pânico causados pela crise, principalmente, na faixa de até dez salários mínimos, com maior grau de comprometimento da renda em produtos essenciais”, ponderou.

“Medidas de auxílio”

No texto de divulgação da pesquisa, a CNC assinala que, em âmbito nacional, o destaque do levantamento veio do indicador de renda atual, que avançou 2,4%, na variação mensal, e decolou 23,5%, na anual. O presidente da entidade, José Roberto Tadros, observa que a expansão foi impulsionada especialmente pelas famílias que ganham até dez salários mínimos (+2,6%). “Os crescimentos sucessivos do rendimento real das famílias, apoiados pelas medidas de auxílio à renda, levaram à melhoria dessa percepção”, frisou.

No mesmo texto, a economista responsável pela pesquisa, Catarina Carneiro da Silva, que o menor crescimento do mês ficou por conta do índice perspectiva de consumo (+0,2%). Por isso, ela estima que as famílias devem seguir mais cautelosas em suas compras nos próximos meses, principalmente a parcela com renda abaixo de dez salários mínimos, grupo que obteve a única queda mensal (-0,1%) neste item. “Mesmo com o consumo atual avançando, o ambiente econômico com preços e juros mais altos motivou um cenário de moderação”, encerrou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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