Normalmente uma pessoa, seja do sexo masculino ou feminino, chega ao ensino superior ainda adolescente, por volta dos 17 ou 18 anos de idade, após ter percorrido os trâmites normais dos bancos escolares, iniciado com o ensino infantil, continuado no ensino fundamental e concluído no ensino médio. Então, o que dizer de alguém que entra numa faculdade aos 40 anos, como acadêmico, quando seus filhos, ou estão entrando ou já estão numa universidade?
Nara Ney Sarmento Ferreira bem que tentou se tornar acadêmica quando mais jovem, mas não conseguiu passar no vestibular. Aí casou, e ao casamento somou o emprego e mais tarde os filhos. O mesmo aconteceu com Iracy Queiroz Rocha, com um diferencial: Iracy passou logo no vestibular e foi cursar economia. Aí casou, e ao casamento somou o emprego e mais tarde os filhos. Sem conseguir conciliar todas as suas atribuições e responsabilidades, Iracy resolveu abandonar o curso de economia, voltando a se igualar a Nara Ney na opção pelo emprego e pela família.
O tempo passou e quando as duas perceberam, já eram jovens senhoras, mães de três filhos cada uma e com um sonho em comum: concluírem um curso superior e terem um diploma pendurado na parede. Iracy entrou na Ufam aos 41 anos, em 1997, num momento em que a filha mais velha se preparava para prestar o vestibular, e concluiu o curso de psicologia em 2004, enquanto Nara Ney se matriculou na Martha Falcão aos 39 anos, em 2006 e no segundo semestre do ano passado fez o 2º período do curso de pedagogia.
Nada de preconceitos
Satisfeitas durante o andamento de seus respectivos cursos, nem uma nem outra sofreu qualquer tipo de preconceito por parte dos colegas com relação à idade. No caso de Nara Ney seria até difícil tal sentimento “porque na minha turma só há três pessoas mais jovens”, o oposto de Iracy, “apesar de bem poucas, outras colegas tinham idade semelhante à minha”, disse.
Mercado de trabalho é focado nos jovens
Como se vê, de situações inversas, comportamentos idênticos, muito embora, mais à frente, no final do curso, os jovens devam voltar a ser uma “pedra no sapato na hora de procurar emprego”. O mercado os prefere. Iracy já está nesse mercado há algum tempo e discorda da preferência por este mais jovem ou por aquele mais velho, enquanto Nara Ney não parece se preocupar com os jovens. “Possivelmente esse fato seja conseqüência da antiga representação criada acerca da produtividade das pessoas depois de uma certa idade.
Atualmente, se consegue manter a capacidade e a potencialidade por mais tempo. Deve haver oportunidade igual para todos”, ensina Iracy. Para Nara Ney “a concorrência depende da qualificação profissional, mas o formando de mais idade deve possuir mentalidade jovem, ter energia, flexibilidade, atualização e se relacionar bem com os outros, depois, a dificuldade existe para os dois lados, pois os jovens também sofrem para conseguir o seu primeiro emprego”.
Palavra de ordem
Após a formação, para se manterem sempre antenadas com o que está acontecendo à sua volta, Nara Ney e Iracy têm a mesma fórmula: atualização. “Não restam dúvidas quanto ao diferencial proporcionado por uma pós-graduação, uma especialização, que venham reforçar e acrescentar conteúdos adquiridos no curso de graduação”, diz Iracy. “Para uma melhor qualificação, o profissional não pode deixar de ler bastante, freqüentar cursos, palestras, inerentes à sua área. A atualização é imprescindível”, “e falar ao menos duas línguas estrangeiras, se possível, nunca é demais”, completou Nara Ney.
Conselhos não devem ser dados, mas Nara Ney arrisca um, na realidade, mais do que um conselho, um incentivo. “Vá e realize seu sonho, pois não devemos estagnar na vida, enquanto a vida não parar. Nunca é tarde para se obter conhecimento. Basta ter força de vontade e procurar as oportunidades que elas aparecem”, assinalou.
Canção dos quarenta anos
Ruy Barata – Violão de
Rua – 1962
(Cadernos do Povo Brasileiro)