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Exposição reúne artes sobre a cheia do rio Negro

Há mais de século a enchente dos rios do Amazonas é um espetáculo que impressiona quem o presencia, tanto é que as maiores enchentes do Negro, em Manaus, ficaram gravadas na memória das pessoas. A de 1953 (29,69m) foi lembrada por décadas até ser batida 56 anos depois, em 2009 (29,77m). Esta, porém, foi logo esquecida, pois, apenas três anos depois também foi batida, em 2012 (29,97m). Eis que esse ano, depois de previsões de leigos e especialistas de que a enchente ultrapassaria a barreira dos 30m, o fato se comprovou e, em 16 de junho, o Negro chegou aos 30,02m.

Enchente em preto e branco clicada por Silvino Santos, em 1953 – Foto: Divulgação

Para marcar esse acontecimento, que mexe com toda a cidade e, infelizmente entre os ribeirinhos do interior, causa tantos prejuízos, o artista plástico e marchand José Carlos Pinheiro de Lima está organizando a exposição ‘Águas dos rios’ (nome provisório), para comemorar os 352 anos de Manaus, em 24 de outubro, e acontecer na Galeria Palácio das Artes, localizada no Millennium Shopping.

“Observei que, os grandes acontecimentos de Manaus, vividos com intensidade pela população, não eram registrados pelos artistas plásticos, então tive a ideia de fazer algo nesse sentido. Contatei vários artistas plásticos e pedi a eles que fizessem o registro da cheia do Negro, em Manaus, e eles toparam”, falou.

José Carlos quer perpetuar, através da arte, os acontecimentos que marcam os manauaras – Foto: Divulgação

“Então resolvi abranger, além dos pintores de quadros, também desenhistas, fotógrafos, grafiteiros e até um produtor de vídeo, que fez imagens com drone do Centro alagado. No total, reuni 21 participantes para a exposição”, completou o marchand.     

De outras cidades

A ideia desse registro citadino é antiga. Em 2000, José Carlos tentou realizar uma exposição de fotos da Manaus da Belle Époque, de fins de 1800 e início de 1900, com imagens principalmente do alemão George Huebner e do português Silvino Santos, que viveram na capital amazonense e durante décadas registraram a cidade. As famosas fotos da enchente de 1953 foram feitas por Silvino.

A exposição idealizada por José Carlos não aconteceu e hoje muitas das imagens produzidas por esses dois pioneiros da fotografia podem ser acessadas na internet.

“Nas artes plásticas não temos nada daquela época, pinturas ou desenhos das grandes edificações, da arquitetura, dos costumes das pessoas, do centro histórico. Já tinha artistas, mas ninguém registrou nada, ou se registraram, esse material se perdeu”, disse.

Em 2005, nova investida de José Carlos com o projeto ‘Igarapé de Manaus’. Ele convocou 14 artistas para irem a campo e pintar o que viam no igarapé. Dois anos depois o Prosamim (Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus) praticamente acabou com o ambiente natural do local.

“Os artistas pintaram 70 quadros de um espaço que há mais de dez anos não existe mais. Vendemos alguns quadros e os que restaram foram comprados pelo Pedro Falabella, quando presidente da Afeam, para decorar aquela instituição)”, informou.

Com o espetáculo que mais uma vez a enchente do Negro proporcionou ao manauara, novamente José Carlos resolveu arregimentar artistas para documentar o momento através de suas artes.

“Todos toparam de imediato. As fotógrafas já haviam feito muito material, mas os pintores, desenhistas, grafiteiros e videomaker foram a campo realizar seus trabalhos. Cada um escolheu o ângulo que achou melhor e viajou na sua arte, e ainda convidei o Clínio Roosevelt, de Tefé (lá o rio é o Solimões); Nelson Freire e Téo Braga, de Itacoatiara; e Evanil Silva, de Parintins (rio Amazonas) para mostrarem a cheia do rio nas suas respectivas cidades”, lembrou.

Dia sim, dia não           

Realmente a grande cheia deste ano foi um marco para os manauaras. Presos a um isolamento social de mais de um ano, a cheia veio exatamente num momento em que a pandemia deu uma aliviada e as pessoas foram para a frente de Manaus fazer turismo e muitas selfies. As pontes e as ruas alagadas viraram um ‘point’. Surgiram Boto e Iara nadando nas águas rasas, The Flash correndo na rua alagada como se estivesse sobre o rio, cover de Michael Jackson dando show no local, e o artista plástico Jandr Reis montando uma instalação nas águas ao redor do Relógio Municipal.

A fotógrafa Selma Carvalho talvez tenha sido a pessoa que mais registrou o momento.

Selma Carvalho, dia sim, dia não fotografando a cheia – Foto: Divulgação

“Comecei a ir para o Centro, em maio, quando a água passou a tomar as ruas, então ia um dia sim, outro não, para as ruas alagadas, até o rio começar a baixar, no final de junho. Não sei quantos imagens tirei, ainda não contei, mas acredito que tenham sido mais de 400”, revelou Selma, que estará na exposição de José Carlos.

A exposição ‘Águas dos rios’ terá sua vernissage na terça-feira,  dia 19 de outubro e permanecerá na Galeria Palácio das Artes por um mês.

“Todas as obras expostas estarão à venda, tanto para colecionadores particulares quanto para acervos de espaços culturais municipais ou estaduais”, avisou José Carlos.

A Galeria Palácio das Artes funciona numa das lojas do Millennium Center desde 2014 e está aberta para visitação pública com obras de vários artistas amazônicos. Face: Galeria Palácio das Artes. Fone: 9 8182-6390.

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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