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Exposição retrata trabalho de Feliciano Lana

Exposição retrata trabalho de Feliciano Lana

Sibé era seu nome indígena, filho de uma tukano e um desano. Feliciano Pimentel Lana o nome que recebeu dos padres. Feliciano Lana o nome que ficou conhecido entre os brancos graças às pinturas que fazia retratando o dia a dia e o imaginário de seu povo, os desana, do alto rio Negro.

Feliciano Lana morreu no dia 12 de maio, aos 83 anos, em São Gabriel da Cachoeira. Desde o dia 21 está sendo lembrado no Museu Amazônico, da Ufam, com a exposição de alguns de seus trabalhos.

“A exposição, além de uma homenagem, é um desdobramento do projeto de extensão da ‘Organização do acervo museológico/etnográfico do artista desana Feliciano Lana’, institucionalizado na Proext/Ufam, e organizado pela Divisão de Museologia e de Antropologia do Museu Amazônico”, disse Dysson Teles, diretor do Museu.

A mostra faz parte da 14ª Primavera de Museus, evento promovido anualmente pelo Ibram (Instituto Brasileiro de Museus). Este ano o tema da Primavera é ‘Mundo digital: museus em transformação’, e o Museu Amazônico elaborou uma programação com exposições, palestras e a homenagem a Feliciano Lana, tudo virtual.

“Feliciano Lana, como liderança indígena, exerceu forte influência no sentido de preservar as tradições culturais de seu povo as quais fazem parte da cosmologia dos povos indígenas do alto rio Negro. Lana deixou um legado, não apenas para seu povo, mas para toda a comunidade interessada em história indígena”, falou Dysson.

“A partir das pinturas feitas em telas, que configuram apenas mais uma das diversas expressões artísticas desses povos, Feliciano Lana descreve e desenha detalhes sobre a cultura à qual pertenceu, narrando os mitos por meio de ilustrações, além de representar nas telas a diversidade da flora e fauna da região”, detalhou.

A história do dilúvio

Apesar de na exposição constarem apenas nove pinturas do artista plástico desana, em 1996, o Museu Amazônico adquiriu 326 obras de Lana, o que tem permitido, desde então, a realização de outras exposições com seus trabalhos. Também foram publicadas duas de suas histórias em livro e CD-ROM. Todo esse material tem sido importante fonte para pesquisas acadêmicas. O Museu Amazônico ainda possui artefatos dos povos baníwa, kaiapó, matis, sateré-mawé, ticuna, tukano, waimiri-atroari, dentre outros.

“A partir desses materiais é possível preservar e comunicar diferentes aspectos da história, cultura e memória desses povos. Elementos que, in loco, são restritos a determinado gênero e/ou hierarquia, que no Museu ganham maior visibilidade. E, na tentativa de mostrar um pouco do universo que temos, elaboramos uma exposição de longa duração com exemplares de várias etnias”, revelou.

As nove pinturas expostas representam o cotidiano do povo desana. Elas não fazem parte de uma história enumerada e descrita, pois chegaram de maneira avulsa.

“Foram escolhidas estas porque as histórias completas apresentam mais de 20 desenhos cada uma e não gostaríamos que houvesse quebra de sequência na narração. Pensando em disponibilizar um mito completo, nesta sexta-feira, 25, iremos publicar no canal do Museu Amazônico, no YouTube, ‘A história do dilúvio’, vídeo com desenhos e narração”, adiantou.

‘A história do dilúvio’ é um mito desana representado através das pinturas de Feliciano Lana, com texto escrito por ele próprio.

Feliciano Lana era considerado um dos principais artistas plásticos indígenas do Brasil pintando sua arte com guache sobre papel. Na década de 1980 suas pinturas foram expostas na França, Áustria e Alemanha. O artista plástico também escreveu um livro, ‘A origem da noite & como as mulheres roubaram as flautas sagradas’, editado pela Edua, editora da Ufam, em português e no idioma desana.

A pequena mostra das pinturas de Feliciano Lana pode ser conferida no Facebook e no Instagram do Museu Amazônico.

“Não delimitamos prazo de término da exposição. O visitante não ficará preso nem pelo tempo, nem pela localidade”, finalizou Dysson.

O povo das artes

Os desana se autodenominam umukomasã. Habitam principalmente o rio Tiquié e seus afluentes Cucura, Umari e Castaña, bem como o rio Papuri (principalmente em Piracuara e Monfort), e seus afluentes Turi e Urucu, além de alguns trechos do rio Vaupés e do rio Negro (habitam, inclusive, cidades da região). Existem aproximadamente 30 divisões do grupo étnico desana entre chefes, mestres de cerimônia, rezadores e assistentes, embora este número possa variar dependendo da fonte consultada. Os desana são especialistas na confecção de certos tipos de cestos trançados, como os grandes apás (balaios com argolas internas de cipó), e os cumatás (cestos coadores). Fonte: Instituto Socioambiental.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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