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Experiência inovadora

Este estudo promete fazer uma análise sobre um tema emergente. O homem é o animal laborans nucleado pelo trabalho, por isso quando falamos em crise do trabalho deve ficar claro que estamos nos referindo à crise do trabalho assalariado. A estrutura sistêmica do mundo do trabalho capitalista passa por metamorfoses e profundas mudanças na sua base de acumulação. As crises cíclicas atingem inexoravelmente a raiz acumulativa obrigando o capital a rever seus métodos.

Toda vez que o sistema ameaça entrar em colapso a ratio capitalista entra em ação com reintrodução de novos métodos na base do trabalho. O taylorismo, fordismo e toyotismo são métodos construídos para dar sustentabilidade ao sistema no período crítico do keynesianismo que se manteve no período de 1945 a 1975, nos países centrais. Esse foi um período de sucessivas crises do trabalho assalariado e do fenômeno salarial em todo o mundo capitalista. Por mais perversa que possa parecer essa conjuntura de crise, matizada pelo desemprego, ela contribui para que os trabalhadores se recriem e reinventem-se como ser social.

O trabalho em Marx não é somente um mecanismo de reprodução material do ser social. Assume também uma dimensão simbólica presente na ação praxiológica do sujeito histórico que transforma, cria e recria-se nesse processo. É verdade que o capitalismo eclipsou a dimensão de exteriorização do homem no evento do trabalho, pois a forma de exteriorização do trabalhador no processo fabril ocorre de forma alienada e não em seu aspecto criador e recriador da condição humana.

Assumir a direção racional no processo de trabalho e autogerir os negócios, representa um salto de grandeza na reabilitação humano-social do trabalhador. Some-se a isto, o fato de que “trabalhadores em cooperativas de produção não obedecem a ninguém, não tem patrão e, por outro lado, não podem fazer corpo mole, como acontece muitas vezes com quem tem quem pague seu salário no final do mês” (Singer, 1998). A Anteag (Associação Nacional dos Trabalhadores em Empresas Autogestionárias) é, talvez, a iniciativa de autogestão e participação acionária dos trabalhadores que tem se destacado nessa conjuntura de reinvenção das classes trabalhadoras.

Fundada em 1994 num encontro de seis empresas em autogestão dentre as quais a Makely, em Franca/São Paulo, a Anteag traduz-se numa experiência de economia solidária que vem dando certo na sociedade brasileira. Para Singer (2000), “ a economia solidária surge como modo de produção e distribuição alternativo ao capitalismo, criado e recriado periodicamente pelos que se encontram (ou temem ficar) marginalizados do mercado de trabalho”. O trabalho voluntário e a iniciativa autônoma de algumas pessoas foram construindo teias de relações importantes que deram origem à Anteag. A autogestão é a novidade e a marca consagrada dessa associação que surge dando um novo sentido ao trabalho. As características da entidade são basicamente as seguintes:

1) peculiaridade fabril e urbana dos estabelecimentos;

2) o caráter de organização coletiva e reprodutiva de trabalhadores;

3) e um certo apoio dos sindicatos (Nakano, 2000).Por tudo isso devemos operacionalizar alternativas de geração de renda como esta.

Celso Torres é economista, Mestre em Sociologia do Trabalho pela UFAM (Universidade Federal do Amazonas).

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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