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Exaustão, desânimo e carência de fé

Quando o filme ‘O grande ditador’, de Charles Chaplin, foi lançado, em 1940, a Segunda Guerra começara fazia apenas um ano. Faltavam ainda cinco para seu término e o mundo não conhecia as terríveis atrocidades praticadas pelas ideologias nazista e fascista, mas o genial cineasta inglês, mesmo que de forma cômica, já denunciava os grandes ditadores daquele momento, Hitler e Mussolini. Oitenta anos depois, os ditadores continuam mais vivos do que nunca: Maduro, na vizinha Venezuela; Daniel Ortega, na Nicarágua; Miguel Díaz-Canel, em Cuba, isso para falar apenas da América Latina. No Brasil vemos membros da mais alta corte de Justiça agindo como ditadores ao desrespeitar a Constituição.

Inspirado no filme de Chaplin, o performer, pesquisador e bailarino Luan Cristian prepara o lançamento da videodança ‘O sósia’, no próximo dia 20, sábado, ao meio-dia, no Instagram @tubo.ensaio.

“O intuito de criar esse ‘sósia’ nada mais é do que criar representações da exaustão, do desânimo e da carência de fé que rodeia um sistema que burocratiza seres humanos, um sistema tóxico que recusa individualidades, mas continua escravizando em prol de valores e resultados”, lamentou.

Contemplado no edital Prêmio Manaus Zezinho Corrêa 2021, ‘O sósia’ foi idealizado por Luan juntamente com Thays Auzier, publicitária especializada em marketing e artista independente que vem ampliando suas produções no setor audiovisual e eventos corporativos. Na videodança ela fez a direção criativa. O trabalho conta ainda com a trilha original criada pelo produtor e DJ Cadu Castro aka Skrinklle, artista emergente da cena eletrônica e alternativa de Manaus. A produção cênica e stylist ficou a cargo de Wald Caldas, artista plástico e pintor autodidata.

Não repetir os erros   

Luan Cristian iniciou sua trajetória artística na Cia. Expressão & Vida, contribuindo para o corpo de bailarinos desta Companhia de 2009 a 2015, participando de um quadro variado de espetáculos, projetos culturais, viagens, mostras e festivais regionais e nacionais. Dentre os festivais nacionais, o bailarino já marcou presença no FIH2 (Festival Internacional de Hip Hop), em Curitiba; 22º Passo de Arte, em Indaiatuba/SP; 27º Festival Mery Rosa, Itajaí/C; 37º e 38º Festival de Dança de Joinville/SC, 3ª Edição do Festival 5 minutos em cena 2019, em Manaus, dentre outros. Foi bailarino-bolsista na Cia. Jovem do Estado do Amazonas, Balé Experimental do Corpo de Dança do Amazonas desde a criação do grupo em 2014 até 2017, participando de toda a programação, eventos e projetos premiados junto a Secretaria de Cultura do Amazonas.

“Temos a história para nos ensinar sobre alguns fatos curiosos e perturbadores que se repetem de tempos em tempos até chegarmos à sociedade moderna que conhecemos, ao lado disso há uma oportunidade de recriar o enredo com um espectro menos eurocêntrico e mais humanitário, buscando aprender com erros de um passado não muito agradável. Por isso considero ter essa obra cunho social. Quero que as pessoas vejam os erros e não os repitam”, disse.

“Coincidentemente nos dias de hoje, diante de injustiça, desigualdade e negacionismo se faz necessário ressaltar tal problemática para que a história não se repita, pois grande parte de nossos ‘líderes’ ainda defende um ideal retrógrado”, completou.

Nota de repúdio

Para Luan, atualmente o mundo pós-moderno (pandêmico) enfrenta uma fragilidade social, econômica e política, que põe em xeque a democracia por um capitalismo nocivo que muito quer, mas pouco oferece.

“A produção em videodança percorre em diferentes camadas, figuras e texturas para debater uma problemática bem próxima, o atual desprestígio brasileiro”, falou.

A obra acentua a ilegitimidade e conservadorismo no estado laico, delineando a ameaça aos direitos humanos e arriscando a ordem e o progresso.

“Em meio a mentes colonizadas que mantêm essa engrenagem corrupta ainda ativa, produzir isso de forma independente acaba sendo uma necessidade pessoal de resistir para existir, pois enquanto eu ganho a vida com a minha arte, há milhares de brasileiros sem perspectiva e oportunidade alguma de crescimento”, afirmou.

Luan concorda que a arte está intrinsecamente ligada à política, e se antes não era permitido falar sobre determinados assuntos, então, agora, quando o mundo renasce, ele acha relevante o diálogo e a reflexão para uma evolução construtivista do indivíduo que pouco a pouco perde a humanidade.

“Eu definiria essa obra como uma nota de repúdio particular, sobre o desgaste que vejo meu país passando por não saber escolher ou até mesmo perder as esperanças, enfim é minha consciência não gostando muito do rumo que estamos indo”, concluiu.

Atualmente Luan trabalha como bailarino no Corpo de Dança do Amazonas onde atua desde 2018, sob a direção de Mário Nascimento. Ano passado ele iniciou efetivamente suas produções e pesquisas em videodança por meio do @tubo.ensaio como incubadora para futuros projetos experimentais.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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