O projeto Cidades Florestais teve seu encerramento em 2020 e, para apresentar os resultados de dois anos de trabalho em parceria com comunidades do interior do Amazonas, o Idesam (Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas) realizará o ‘II Manejar – Seminário de Produção Florestal Familiar e Comunitária do Amazonas’. O evento acontece na terça, 14, e quarta-feira, 15, online, com transmissão pelo canal do Idesam no YouTube (www.manejar.org.br).
O Cidade Florestais é uma iniciativa coordenada pelo Idesam, com financiamento do Fundo Amazônia/BNDES. Desde 2018, o projeto fomenta a produção e a comercialização de óleos vegetais, com foco na gestão e melhoria das condições de trabalho e de vida dos extrativistas. São quatro associações integrantes do projeto, localizadas na região dos municípios de Lábrea (uma associação), Apuí (duas) e Itapiranga e São Sebastião do Uatumã, com uma associação para os dois municípios, integrantes da RDS (Reserva de Desenvolvimento Sustentável) do Uatumã.
“A Amazônia é rica em óleos vegetais. Cada estado da Amazônia possui espécimes de árvores nativas, com óleos específicos. No Amazonas, conhecidos e pesquisados, temos três tipos de manteiga, quatro tipos de óleos e dois óleos essenciais. Desses, quatro estão nas embalagens da Inatú Amazônia: óleos de copaíba, de andiroba, de café verde, e óleo essencial de breu”, falou Louise Lauschner, empreendedora na comercialização de manejo florestal comunitário, tanto madeireiro quanto não madeireiro.
R$ 2 milhões por ano
“A Inatú Amazônia é uma marca coletiva, criada e administrada em conjunto pelas associações que participam do projeto. O objetivo é fracionar os produtos produzidos por elas para que sejam vendidos mais rapidamente para as distribuidoras, que os disponibilizarão para o consumidor final. Atualmente duas grandes distribuidoras, Bemol Farma, de Manaus; e Amazônia Hub, de São Paulo, adquirem toda a produção das associações”, disse.
Todo esse trabalho foi fomentado pelo Cidades Florestais, que investiu em infraestrutura e equipamentos para os extrativistas. De 2019 para cá, as associações comercializaram 50 toneladas de óleos vegetais, com receita de R$ 2,07 milhões.
“Isso demonstra o potencial dos negócios sustentáveis, que respeitam a floresta, e o impacto positivo que eles causam na realidade das comunidades que têm no extrativismo sua fonte de renda. A marca Inatú Amazônia pode render até R$ 2 milhões por ano”, afirmou André Vianna, gerente do Idesam e responsável pelo projeto.
O extrativismo sustentável representa geração de renda e trabalho para milhares de ribeirinhos em comunidades e unidades de conservação na Amazônia. Apesar dos desafios de logística envolvendo o beneficiamento e transporte, causados pelas características próprias da região, a cadeia de óleos vegetais é um exemplo de sucesso da bioeconomia amazônica. Só a Inatú Amazônia beneficia cerca de duas mil pessoas.
“O Cidades Florestais foi previsto para durar dois anos e o objetivo é que as associações assumam completamente o controle dos negócios, no entanto, isso é um trabalho que demanda tempo. Não ocorre de um ano para outro. As associações estão em estágios diferentes. Umas têm fundos e podem se manter, outras precisam de apoio, recursos humanos e capital para que o trabalho continue”, explicou Louise.
“Construímos duas mini usinas de óleos vegetais e apoiamos outras três existentes. Foram adquiridos máquinas e equipamentos, como quebradores, destiladores, filtros prensas e secadores para ampliar a capacidade de produção. Hoje, as associações têm capacidade de processar três toneladas por mês de óleos fixos (gorduras, óleos e manteigas) e até 90 litros de óleos essenciais”, informou André.
Farmácia na floresta
Os óleos extraídos pelos integrantes da Inatú Amazônia são conhecidos há séculos pelos amazônidas. Copaíba e andiroba são utilizadas pelos indígenas desde sempre. A literatura dos primeiros colonizadores da Amazônia, no século 17, cita a utilização deles pelos habitantes da floresta. Comprovadamente são fungicidas, antibióticos e antiinflamatórios. Podem ser usados no tratamento de feridas, e bastam algumas gotas para curar garganta e ouvido inflamados. Na cosmética são óleos excepcionais pois, como são cicatrizantes, tiram as marcas de expressão, já a andiroba é muito boa para tirar manchas da pele.
O breu branco produz um óleo essencial. Ainda há poucas pesquisas sobre esse óleo, mas as que existem confirmam ser bom para o tratamento do reumatismo e é super indicado para o rejuvenescimento da pele. Os indígenas usavam, não o óleo, mas a resina do breu. Diziam que curava doenças da alma e do corpo. Descobriu-se recentemente que o óleo do breu branco é excelente ansiolítico.
O café não é amazônico, mas é cultivado em Apuí. Sabe-se que o óleo do café verde é muito bom para a pele, um protetor solar natural, que tira manchas e combate radicais livres
Foto/Destaque: Divulgação