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Eu não prego o divórcio, mas ninguém casa para apanhar, diz Mirtes Salles

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A existência do crime e da violência contra a mulher sempre foi uma constante na história da humanidade e atinge todas as classes sociais. As causas dessa violência, que muitas vezes é praticada dentro de casa, pelo próprio companheiro, são as mais variadas. No entanto, é preciso passar todas as informações possíveis para que essa mulher saiba os seus direitos. Pensando nisso foi que a presidente da Comissão de Defesa dos Direitos das Mulheres da Câmara Municipal de Manaus  vereadora Mirtes Salles (PL) , elaborou a “ Cartilha da Mulher – Conhecendo seus Direitos”. A própria vereadora afirma na apresentação da cartilha que o maior desafio é convencer, cada dia mais as mulheres de que essa violência tem que ser denunciada e que elas têm que se distanciar de seus agressores e denunciá-los. Mirtes acrescenta que no momento em que se salva uma mulher de uma agressão, está se salvando toda uma família. Além disso, em uma outra vertente, a vereadora Mirtes Salles, também quer o empoderamento da mulher por meio da independência financeira. Para isso, ela lançou o Projeto Mulher Empreendedora. O Projeto tem como público alvo as mulheres em situação de vulnerabilidade social. Poderão se tornar empreendedoras, as profissionais do sexo, mães de pessoas com deficiência, idosas e mulheres vítimas de violência doméstica. A Ideia é resgatar a dignidade por meio do empreendedorismo e das parcerias com instituições como a Afeam e o Sebrae. Para Mirtes, esses exemplos, mostram que a Câmara de vereadores de Manaus sai do simples discurso para a prática. E foi com esse espírito que a vereadora recebeu o JC.

Jornal do Commercio – Vereadora, como está sendo sua atuação no que diz respeito à mulher ?

Mirtes Salles – Hoje o principal trabalho na Câmara Municipal, é um trabalho forte na Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher. Temos vários projetos e com muitas realizações nos bairros nas comunidades. Eu lancei a Cartilha da Mulher, no mês de março, que contempla todos os direitos das mulheres. Seja a mulher vítima de violência, seja a Mulher trabalhadora,  a mulher que também não só no local de trabalho, mas a mulher gestante por exemplo, a ex-companheira e a tual e as dona de casa. A Cartilha tem uma linguagem fácil e foi comentada por mim, para que as mulheres possam ter um entendimento melhor dos seus direitos. Quando eu entrei na condição da mulher, em fevereiro desse ano, eu decidi começar pelo princípio. Vamos primeiro  ensinar os direitos dela, aí quando ela ler a cartilha, e vê que tem dfireitos ela vai procurar aonde buscar. Isso também está na Cartilha. A partir do momento que eu ensino, ela pode procurar a comissão da mulher ou pode sair em busca dos seus direitos. A minha ideia era primeiro ensinar para as mulheres que elas têm direito e quais são esses seus direitos.

JC – O que falta para se diminuir a violência contra as mulheres?

Mirtes Salles – É preciso mudar tudo. Comportamento dos homens em relação às mulheres  para poder os homens entenderem que as mulheres precisam ser respeitadas como pessoas. Não  é questão de gênero, mas o que eu percebo é que às vezes os homens acham, alguns homens violentadores,  eles acham que levam vantagem em cima das mulheres por conta da força mesmo. Por que ele é mais forte, o homem pode mais,  e acaba se prevalecendo disso. Outro grande problema que eu acho que leva à violência contra mulher é a possessividade. Homem violento, ele é possessivo . Ele não sabe receber um não. Um homem problemático é um homem violento .Por isso ele também precisa ser tratado. Por que se não ele vai largar a Rita, vai namorar com a Maria, vai bater na Maria. Vai namorar com a Flávia, vai bater na Flávia. Então, um homem Violento  identificado, precisa ser punido. Mas ele também precisa ser tratado, por que senão a gente não tá resolvendo o problema. A gente precisa pensar também em tratar esses homens. E aí vem a questão da mulher, o posicionamento da mulher. A mulher tem que entender que ela não tem que ficar à mercê de um homem por conta de violência. Por que o relacionamento entre homem e mulher tem que ser igualitário. Principalmente, no sentido de carinho de respeito. Ninguém casa para apanhar. As pessoas casam para ser feliz. Se não é feliz,  se é para apanhar, então não tem porque, não tem razão de existir essa relação. Então é isso que ela precisa entender. Ela não casou para apanhar. Ela casou para ser feliz.

JC – Vereadora, aonde entra, como fator da violência, a dependência financeira?

Mirtes Salles – O conceito comum é de que é o homem que manda, é ele que comanda, que é o dono de tudo. Ele é quem manda na casa, manda na questão financeira, por isso que nós,  pensando nessa questão, dessa possessividade, dessa dependência de algumas mulheres é que nós criamos o Projeto Mulher Empreendedora, para fazer com que essas mulheres passem a empreender para elas tenham uma fonte de renda. Para que elas tenham o que fazer. Para que elas tenham, independência. Pois não podemos pensar em combate à violência contra mulher só com prisão. O camarada é preso,  ok. Mas e aí?, quem vai sustentar a casa?. Outra coisa, ele às vezes volta para dentro de casa e a mulher aceita, porque ele é o provedor. Então a mulher às vezes, e muitas vezes, ela aceita esses atos de violência, ela aceita esse comportamento do homem, por conta disso, por que ele [é o provedor. Ela não trabalha, nunca trabalhou, então, assim, nós precisamos também empoderar essa mulher dá independência  a ela, para que ela possa tomar uma decisão, dizer não, eu não quero mais ser vítima de violência. Uma outra situação que tem, é que às vezes, essa falta do que fazer, prejudica até o próprio relacionamento. Por que o homem não fica com quem não admira. Então, assim, às vezes a mulher tá em casa sem fazer nada, o homem chega a noite e ele também é cobrado. Ele acha que ela não merece, aí começa aquela desavença. Se ela é independente dentro de casa com companheiro dela,  ela também passa a ter autonomia e passa a ser mais respeitada. Por isso, então eu penso que nós temos que empoderar financeiramente as mulheres porque aí sim, eu acho que elas vão estar mais fortes, mais aptas a lutar pelos seus direitos.

JC – E apoio dos colegas homens, a senhora tem?

Mirtes Salles – Tenho, apesar de sermos uma minoria, apenas três vereadoras, eu penso que nós conseguimos um bom espaço. Eu penso que a mulher quando ela tem conteúdo, quando a mulher faz, quando a mulher é independente,  quando a mulher tem realmente o que mostrar, aí se faz respeitar. Ela é respeitada, é por isso que a gente tem que lutar pelo empoderamento dessas mulheres para se fazer em respeitar e fazer com que os outros as respeitem. Lá na Câmara eu tenho apoio de todos os colegas. Todas ações que eu faço. Eu sempre falo para eles. Eu não sou  mulher que prega a desunião entre homem e mulher. Eu não prego o divórcio. O que eu quero é vê todo mundo se beijando, todo mundo namorando, todo mundo feliz. No entanto, quando existe um ponto lá na frente que não que não tem solução, aí sim, é que tem que haver a dissolução da união. Por que tem casais assim que realmente não consegue mais viver juntos. Mesmo assim, eu ainda acredito na recuperação dos relacionamentos.

JC – Vereadora, no momento que uma mulher,  por exemplo, é ameaçada, ou até já sofreu violência, ela tem quem procurar?

Mirtes Salles – Nós temos uma rede de apoio em Manaus. Mas ainda falta de certa forma  uma rede de apoio por parte do poder público Eu estou lutando pela construção da Casa da Mulher Manauara. Eu costumo dizer que no momento que uma mulher, por exemplo, é  ameaçada ou às vezes até já sofreu violência, tem que voltar para casa, aí fica complicado, por isso ela precisa desse apoio.

JC – E o Mulher Empreendedora?

Mirtes Salles – Eu estive com a primeira-dama Elisabeth Valeiko e ela se mostrou muito simpática para com esse projeto. Lá em Brasília, eu consegui uma abertura no Ministério da Mulher. O Projeto conta com o apoio da Afeam e Sebrae. Nós  estamos selecionando mulheres. Elas precisam ter uma boa ideia. Elas vão ser acompanhadas pelo Sebrae, vão ser acompanhada pela Afeam, e essas mulheres vão receber, nós temos aí, vamos ter a liberação de uma linha de microcrédito que vai de R$ 500 a  R$ 5000. Essas mulheres serão capacitadas para receber esses valores e também para transformar esses valores numa fonte de renda real, porque elas vão ter quer que pagar esse empréstimo lá na frente. Então nós vamos transformar realmente essas mulheres em  empreendedoras.

JC – Como elas devem fazer para participar desse projeto?

Mirtes Salles –  Podem procurar meu gabinete na Câmara municipal de Manaus. Toda minha  equipe está fazendo a triagem. Nós estamos fazendo a seleção, fazendo a triagem lá no gabinete. Nós  estamos inaugurando também no mês que vem logo após o recesso a sala de atendimento da mulher. Foi uma conquista nossa. Eu pedi para Presidente Joelson, pois a Câmara precisa sair do discurso e ir para a prática . Temos que partir  para uma ação mais incisiva. Por isso, solicitei a ele uma sala de atendimento para a Câmara municipal de Manaus. A partir do mês de julho, na volta do recesso, ela vai fazer parte da rede de proteção à mulher.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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