9 de dezembro de 2024

“Eu acredito na evolução das cidades”

Marcellus Campêlo, secretário da UGPE (Unidade Gestora de Projetos Especiais) do Governo do Amazonas, lançou seu livro no Salão Solimões do Palácio Rio Negro, na noite do dia 20. O livro, abrangendo vários temas, traz uma coletânea de 70 artigos publicados por ele, em veículos de comunicação da Região Norte. Em entrevista ao Jornal do Commercio, ele falou mais sobre ‘Cidades que temos, cidades que queremos – ideias e soluções para um futuro melhor’

Jornal do Commercio: Qual é a cidade que temos e qual é a cidade que queremos?

Marcellus Campêlo: A cidade que temos é essa Manaus que cresceu desordenadamente e que luta há alguns anos para poder encontrar um ponto de equilíbrio entre a expansão urbana e áreas urbanizadas. A cidade que queremos certamente é um local onde a população tem acesso aos serviços básicos, principalmente, de abastecimento de água, coleta, tratamento de esgoto. É uma cidade que tem a sua vocação natural para conduzir as águas pluviais de drenagem. Temos também uma necessidade imensa de trabalhar a questão do manejo de resíduos sólidos, tanto do ponto de vista de melhorar os serviços de coleta e disposição final, quanto também da educação ambiental da população, desde o seu berço, desde as escolas fundamentais, para que a população colabore com os governantes, com a prefeitura principalmente, no sentido de não jogar lixo nas ruas.

JC: Manaus, nos últimos 55 anos, cresceu, e continua a crescer, desordenadamente. Você vê solução para isso?

MC: O Governo do Estado tem atuado forte nesse sentido, para preparar a cidade de Manaus para o futuro, com ações em várias frentes. Na questão da mobilidade urbana, temos realizado obras para dar fluidez ao trânsito, como o trecho recém-entregue do anel viário. De 2019, quando o governador Wilson Lima assumiu a administração estadual, até o momento, o Prosamin (Programa Social e Ambiental de Manaus e Interior) já investiu nessa área cerca de R$ 500 milhões em saneamento básico. Com o Prosamin, também temos atuado na implantação de novas áreas verdes –parques e praças –na requalificação de espaços antes totalmente insalubres e na retirada das famílias de locais de risco para reassentá-las em moradias seguras. Eu acredito na evolução das pessoas e, consequentemente, na evolução das cidades.

JC: Pela sua experiência em várias áreas, qual o pior, ou piores problemas encontrados em Manaus, hoje?

MC: Manaus tem um problema sério de cobertura de esgoto. Nós temos ainda uma cobertura muito baixa de coleta e tratamento. Nós já construímos, com o Prosamin, quase 200 km de rede de esgoto. Estamos construindo, nas comunidades da Sharp e Manaus 2000, mais 48 km e entregamos a maior e mais moderna Estação de Tratamento de Esgoto do Norte, com capacidade para 300 litros por segundo, atendendo ao Centro e à zona Sul de Manaus. Outro problema grave é a questão do manejo de resíduos sólidos. A gente precisa trabalhar essa questão, não só da ampliação, mas da melhoria quantitativa e qualitativa do serviço, além da conscientização da população. Precisamos aumentar, estimular a reciclagem e coleta pelos catadores, com as associações e, principalmente, trabalhar a lógica reversa para que as indústrias e o comércio também se envolvam nessa política.

JC: Você é especialista em saneamento. Como está esse quesito, hoje, na cidade? Quanto por cento de Manaus está saneado?

MC: A cobertura de água tratada em Manaus já é considerada como universalizada. Não há problemas na área urbana e em algumas comunidades no entorno de Manaus o que precisa é melhorar o serviço. Em relação à cobertura de esgoto, a cidade deu um salto nos últimos anos, mas ainda está em 30%. Com os investimentos anunciados recentemente pela concessionária dos serviços, que é de responsabilidade municipal, e mais as ações que estão sendo desencadeadas pelo Governo do Estado, penso que será possível alcançar a tão sonhada meta de universalização até 2033, como estabelece o Marco Legal do Saneamento. Nas reuniões, tenho defendido que haja previsão de recursos federais mais robustos para saneamento no orçamento para 2025, de forma a dar um suporte maior aos municípios. Ressalto, entretanto, que saneamento não se resume apenas a água e esgoto. Temos a questão da drenagem, um problema crônico em Manaus devido à ocupação desordenada dos leitos dos igarapés, o assoreamento desses leitos e a disposição inadequada de resíduos sólidos nas vias públicas.

JC: Imensas áreas verdes de Manaus estão sendo desmatadas para a construção de condomínios. O que você pode falar sobre isso?

MC: Esse é sempre um dilema da expansão urbanística de toda cidade que cresce na velocidade como acontece em Manaus. A gente acredita que todos os empreendimentos que estão sendo construídos estão passando pela análise dos órgãos públicos e competentes, tanto do ponto de vista urbanístico e do plano diretor da cidade, quanto também da análise ambiental. Geralmente, para um empreendimento ser erguido é necessário, ou fazer uma compensação ambiental ou deixar uma área mínima ali para essa compensação. No caso do Prosamin, todas as obras passam pelo licenciamento ambiental e nós fazemos a compensação aqui na cidade de Manaus. Vamos fazer uma grande intervenção urbanística na zona Leste, mas estamos fazendo também o maior reflorestamento da história das obras públicas do Estado do Amazonas, com 25% da área sendo reflorestada na comunidade da Sharp. São mais de 80 mil mudas que serão plantadas.

JC: Seu livro é indicado para qual leitor? Pode ser considerado uma ‘Bíblia’ para quem deseja uma Manaus melhor?

MC: ‘Cidades que temos, cidades que queremos’ é uma visão, por meio de artigos escritos semanalmente, sobre as experiências profissionais que eu tenho ao longo da vida. Executamos obras e programas que trazem soluções importantes para o Estado, inclusive premiadas, então, considero importante registrar essas ações, compartilhar com outros gestores, com quem gosta de urbanismo, com os estudantes das universidades, e profissionais da área. O livro não tem a pretensão de ser ‘Bíblia’, de forma alguma. Não veio para ensinar nada. Veio apenas para registrar o olhar de quem está executando esses programas e a opinião que tenho sobre vários aspectos que envolvem as cidades em geral. Ele pode ser utilizado como exemplo de boas práticas em várias áreas, como no caso do saneamento, água, esgoto e drenagem.

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Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio

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