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Mantida estimativa positiva para a safra de grãos no Amazonas

A Conab sustentou suas projeções para a safra de grãos 2021/2022 do Amazonas, na revisão de abril. A estimativa é que a produção atinja 56.000 toneladas, quantidade 2,6% superior à apresentada na safra de 2020/2021 (54.600 toneladas). As apostas se concentram no milho (+19% e 27.500 toneladas) e na soja (+4,7% e 13.500 toneladas), em detrimento do feijão (0% e 2.400 toneladas) e do arroz (-22,2% e 12.600 toneladas). A área de plantio (22.700 hectares) segue com a mesma elevação anual de 4,6%, e a produtividade (2.467 kg/ha) aguardada permanece 2% menor. 

Se a safra deste ano está garantida, há incertezas quanto à próxima, em face da guerra na Ucrânia e do aguardado choque de oferta de fertilizantes –que já vinham com preços em trajetória de alta, antes do conflito. Embora seja um dos maiores produtores rurais do mundo, o Brasil depende essencialmente da importação de países como Rússia, Ucrânia e Bielorrússia para atender cerca de 85% de sua demanda pelos insumos agrícolas. Para contornar a crise, o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) está abrindo linhas de negociação com outros fornecedores, a exemplo do Canadá.

A boa notícia é que, a despeito do embargo internacional, as remessas russas de fertilizantes destinadas ao Brasil não foram suspensas, conforme o próprio Mapa. Pelo menos 24 navios, transportando quase 678 mil toneladas do insumo devem chegar aos portos do Brasil nas próximas semanas, de acordo com dados preliminares de embarque compilados pela Agrinvest Commodities, e revistos pela Agência Reuters de Notícias, na semana passada. A mesma base de dados aponta que 11 das embarcações iniciaram viagem após 24 de fevereiro, quando o conflito já havia começado. 

Mas, há dúvidas se o fornecimento vai continuar acontecendo assim e, principalmente, quanto à possibilidade de um cessar-fogo e um encerramento da crise até setembro, mês em que começa o plantio da próxima safra, e quando os atuais estoques brasileiros já terão acabado. A maior parte da colheita da presente safra se deu até este mês, e aguarda-se a chamada “safrinha”, em junho. A expectativa dos produtores rurais é que, no mínimo, os preços vão escalar com mais força do que nos meses anteriores ao conflito. 

“Floresta de pé”

De acordo com o sétimo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento para a atual safra, o índice de crescimento do Estado caiu do 20º para o 22º lugar do ranking nacional, ficando atrás das médias brasileira (5,4%) –que subiu –e da região Norte (+5,7%), em uma lista com quatro desempenhos negativos. Em termos de taxa de aumento na área de cultivo, o Amazonas aparece com número melhor, embora tenha recuado da 12ª para a 13ª posição. Mas, melhorou em termos de produtividade, passando da 18ª para a 16ª colocação.

A expectativa do produtor rural, Vitor Marmentini, é que sua produção seja 20% maior neste ano, apesar do aumento dos custos e das chuvas. Ele contou à reportagem do Jornal do Commercio que a situação não mudou muito desde o mês passado. O receio dos agricultores do Sul do Amazonas ainda é que, em face de uma oferta estrangulada, os fornecedores restrinjam as vendas a produtores de maior porte e com “compras já compactuadas”. E, segundo o empresário, a situação se agrava porque, desde o começo da guerra, as empresas que vendem os fertilizantes teriam deixado de precificar seus insumos.

“Ainda estamos aguardando, mas até agora, nada. Essa é uma situação inédita e já estamos há quase dois meses assim. Sem preço, não é possível comprar. E, desse jeito, também não é possível se planejar e saber quanto vamos plantar e colher. Da última vez que comprei, a tonelada estava custando US$ 1.093. Ninguém sabe se o valor vai subir para US$ 2.000, por exemplo. O plantio da próxima safra só ocorre em setembro, mas tenho que comprar até agosto. Muita gente já tem tudo organizado, o que não é meu caso. Vai depender disso para saber até se vale a pena produzir ou não”, lamentou.

“Momento ameaçador”

O titular da Sepror (Secretaria de Produção Rural do Amazonas), Petrucio Magalhães Júnior, diz que o momento é “ameaçador” para a agropecuária brasileira e avalia que o prolongamento da guerra vai gerar instabilidade geopolítica global e possível desabastecimento de alimentos, ameaçando a segurança alimentar mundial. 

O secretário estadual cita a Embrapa para lembrar que o Brasil é o quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo, ficando atrás apenas de China, Índia e Estados Unidos, mas é o maior importador mundial desses insumos. A soja, por sua vez, seria a principal cultura consumidora de fertilizantes no país e, somada ao milho, cana-de-açúcar e algodão, absorveria mais de 90% do fertilizante produzido ou importado pelo Brasil.

“Em linhas gerais, a Rússia responde por 23% de nossas importações. A eventual falta de potássio é a que mais preocupa o setor e analistas dizem que certamente vai haver desabastecimento mundial. Portanto, o cenário de oferta e preços dos insumos é algo incerto. Contudo, o Ministério da Agricultura tranquilizou à população quanto à produção deste ano, pois boa parte dos produtores rurais já haviam comprado os fertilizantes, o que vem garantindo uma boa safra, conforme os dados apresentados pela Conab”, ponderou.

“Contenção de desperdícios”

Em sintonia, o presidente da Faea (Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas), Muni Lourenço, reforça que o setor vive um momento de incerteza, já que três dos maiores fornecedores mundiais de fertilizantes estão envolvidos na guerra. O dirigente, que também é vice-presidente da CNA (Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária), informa que o Mapa também vem buscando incentivar a análise de solo nas áreas de produção, para racionalizar o uso de insumos e evitar desperdícios.  

“Alguns produtores vinham usando os fertilizantes em quantidade padrão, mas essa técnica revela que isso nem sempre é necessário. Não tem como definir nada, porque ninguém sabe quando vai acabar esse conflito. Os fornecedores estão esperando pelo andamento dessa situação e esperamos que isso se encerre o quanto antes. Espera-se mais aumentos de preços, mas os cenários sombrios apontam para a falta do produto em si. A Europa até começou a flexibilizar legislações ambientais, com receio do desabastecimento”, analisou.

Sobre a atual safra, Muni Lourenço assinala que os números da Conab confirmam que o desempenho do Estado vem seguindo trajetória de crescimento gradual. “Temos observado, inclusive, uma substituição dos campos de pastagem pelo plantio. Isso ocorre pela maior rentabilidade do grão, em detrimento da carne bovina no mercado, além do fato de a atividade contar com menos restrições ambientais do que a pecuária”, comparou. 

Licenciamento e crédito

Embora concorde que a situação dos fertilizantes inspira preocupações, o ex-superintendente da Conab e administrador com especialização na gestão de informação ao agronegócio familiar e empresarial, Thomaz Meirelles, prefere não falar sobre o assunto. Segundo o especialista, a confirmação do crescimento no Amazonas é uma boa notícia, especialmente por vir de “órgão oficial e isento”. O especialista diz, contudo, que não pode admitir “apenas” 2,6% de alta para o Estado, em face das ações do setor rural local. 

“O Amazonas teve, nos últimos três anos, dois planos safras com bons programas e políticas. Mas, infelizmente, há lentidão na regularização fundiária e licenciamento ambiental. Isso trava o acesso ao crédito. Nosso acesso não chega a 1% do total aplicado no Brasil. Esse travamento tem levado o Amazonas a um alto grau de insegurança alimentar e nutricional, complicando nossa soberania alimentar”, finalizou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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