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Estátua de Santo Antônio de Borba, pelo olhar do criador

Este ano a estátua religiosa mais alta do Amazonas, a de Santo Antônio de Borba, completará 25 anos no próximo dia 13, dia que o santo português faleceu, em 1.231, na Itália, tão exuberante, com seus 13 metros de altura, além dos dois metros do pedestal, como no dia em que foi inaugurada, em 1997.

“Deu muito trabalho construí-la, porque eu nunca havia feito nada com tamanha magnitude, mas começamos a obra em fevereiro e quando foi no início de junho, ela estava concluída”, recordou Marius Bell, idealizador e construtor da estátua.

Marius Bell é figura conhecida no meio artístico amazonense e também entre os cinéfilos que frequentaram o Cine Chaplin, a partir de 1980. Era ele quem pintava os imensos cartazes anunciando os filmes em exibição na sala, sem falar das figuras em 3D saindo das paredes do cinema, como o meio corpo de um tubarão, quando entrou em cartaz Tubarão 3. Dos dentes da fera pingavam gotículas de sangue.

“Eu tinha pintado uns murais na Imprensa Oficial e quando o Jones Carrer assumiu a presidência daquele órgão, em 1995, ficou conhecendo o meu trabalho”, contou.

“Prefeito de Borba, em 1997, durante sua posse, Jones disse que sua primeira obra seria a construção de uma estátua de Santo Antônio, sonho que ele tinha desde criança. Eu estava em Borba, nesse dia, e disse que faria a estátua. Ele concordou. Seria uma estátua de cinco metros de altura. Eu já tinha feito outras estátuas, mas no máximo com um metro. Ainda assim aquilo não me intimidou nem um pouco, ao contrário, era um desafio que eu queria vencer”, disse.

A partir de uma estatueta

Certa manhã Marius Bell contemplava o rio Madeira quando um rapaz, numa voadeira, o chamou para ir ver jacarés do outro lado do rio. Ele foi e a estátua de cinco metros de altura sofreu uma alteração.

“Do meio do rio eu vi que a caixa d’água da cidade sumia. Conclui que a estátua deveria ser mais alta do que a caixa d’água, para que pudesse ser vista de longe. Falei para o Jones, ele ficou receoso, disse que ia gastar muito dinheiro, eu falei que a estátua deveria ter 13 metros, o dia do santo, e que por isso, tudo daria certo. Ele concordou”, falou.

Dom José Afonso Ribeiro, bispo de Borba, junto com o frei Geraldo King, pároco da cidade, ajudaram Marius. Este último lhe cedeu livros sobre Santo Antônio, que o artista plástico leu em pouco tempo e ficou sabendo tudo sobre o jovem de família nobre e rica, que resolveu deixar a riqueza para trás e se tornar religioso da ordem agostiniana, depois virou franciscano, quando veio a conhecer pessoalmente Francisco de Assis. Quando morreu e se tornou santo, Antônio passou a ser considerado o protetor dos casamentos, dos pobres e das coisas perdidas.

A partir de uma estatueta, Marius Bell usou de escala métrica para projetar a estátua de 13 metros de altura.

“Ela é oca, montada com ferro amarrado com arame recozido, como a coluna de uma casa, depois revestida com concreto. Fizemos primeiro a bacia, com dez metros de diâmetro que, originalmente, era para ser um chafariz, depois o pedestal, com dois metros de altura e 3 x 3m de largura. No fundo da terra toda a estrutura tem uma base de três metros de profundidade”, explicou.

Alguns engenheiros, que estavam trabalhando no aeroporto de Borba, viram a construção da estátua e criticaram, dizendo que não daria certo. Pediram para ver a planta da obra, que não passava de rabiscos feitos por Marius, e não entenderam nada.

Ainda perfeita

O menino Jesus e a cabeça de Santo Antônio foram esculpidos e moldados no chão, dentro de grandes peças de isopor, tipo a injeção plástica usada na indústria, e são maciços. Depois de prontos, foram içados para seus lugares.

“Um mestre de obras, um pedreiro e um marceneiro estiveram junto comigo na linha de frente e nós discutíamos como deveríamos fazer para as coisas irem dando certo, e tudo foi dando certo. Era um trabalho gigantesco que nunca nenhum de nós havia feito”, lembrou.

Marius informou que mais de 90 pessoas trabalharam na obra. No dia 1º de junho de 1997 ela estava pronta.

“Então foi tirada a caixaria de madeira, toda a estátua foi lixada para corrigir as imperfeições e finalmente pintada. Minha emoção ao vê-la pronta foi inimaginável. Agradeci a Deus e a Santo Antônio porque durante os quatro meses de trabalho árduo e algumas vezes pesado, não houve um único acidente com os trabalhadores”, revelou.

Marius Bell comemora 25 anos depois a estátua continuar tão perfeita como no dia em que foi inaugurada, mesmo engenheiros dizendo que sua construção não iria adiante. Tanto na cheia quanto na vazante do Madeira a estátua pode ser vista de longe, por quem chega de barco à cidade.

Iniciada em 1756, por iniciativa de padres jesuítas, a festa em honra de Santo Antônio de Borba é uma das manifestações religiosas mais antigas da Amazônia. As comemorações começam no dia 1º e seguem até 13 de junho e atraem milhares de fiéis.

Assim como Michelangelo pintou o teto da Capela Sistina, Marius Bell também pintou o teto da catedral de Santo Antônio de Borba, agora Santuário Amazonense, mas essa é outra história.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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