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Especialista? nem tanto!

Ouvir histórias de empresas e empresários já é um hábito, muitas vezes transformado em livros, alguns dos quais best sellers. Quando ouvimos histórias de empresas relatadas pelos próprios fundadores, temos a vantagem de sentir a vibração do narrador nas riquezas de detalhes, de lembranças, das comparações do ontem e do hoje. Mesmo que estes não tenham a retórica, a linguagem rebuscada dos textos preparados por escritores e revisados por marketeiros, a sensação de se ouvir em viva voz sempre é muito prazerosa.
No último fim de semana tive o prazer de ouvir um bom empresário do ramo de distribuição de produtos contar parte da história da empresa a seus colaboradores. Ao comparar, o ontem ao hoje, o empresário lembrou do seu orgulho em ostentar, na década de 1960 um diploma de datilógrafo. Também se disse orgulhoso de ter sido aprovado como motorista fazendo um teste num caminhão Chevrolet, câmbio não sincronizado (a temida caixa seca onde a grande arte consistia em trocar de marcha sem “arranhar” nas engrenagens). Depois, veio o título universitário, que era um passaporte para grandes empregos ou um canudo de confiança do mercado para a montagem da própria empresa.
Tempos bons aqueles em que não se pedia escolaridade ao candidato a emprego em armazém ou à motorista. O trabalhador em armazém tinha que ter saúde e vontade de trabalhar, além da força física. Do motorista era exigido que tivesse habilitação, de ser habilidoso, de ter conhecimento de mecânica, pois se houvessem problemas na estrada, ele deveria saber fazer o conserto e trazer o caminhão de volta para a empresa. Ajudava muito se ele conhecesse todas as manhas da estrada para desviar guardas, balanças e evitasse multas.
Hoje, a máquina de escrever, maravilhosa invenção do século passado, está num canto curtindo o papel que teve na história. Talvez gozando dos digitadores de computadores que voltam no texto, deletam, corrigem palavras e invertem ordens de parágrafos inteiros. Ah! se esses digitadores voltassem no tempo e se submetessem a testes com máquinas de teclado trocado, para evitar que o datilógrafo lesse as teclas. Onde não se permitia rebatidas porque isso borrava o texto.
O motorista do caminhão de hoje deve dirigir e saber lidar com o recebedor da mercadoria que ele vai entregar. A habilidade no volante, apesar de continuar necessária, tornou-se um acessório nas inúmeras tarefas que um motorista deve cumprir. O caminhão com problemas? Chame a especializada, porque só ela sabe lidar com a parafernália eletrônica que compõe o veículo moderno.
O título universitário se tornou lugar comum. Se ontem o ajudante do caminhão podia ser analfabeto, hoje, exige-se que tenha segundo grau completo. Um administrador não pode, simplesmente, se ater somente a sua função. Se ele só entender de números não terá grande futuro numa empresa. Deve saber circular no meio do emaranhado de leis que regem as atividades de qualquer empresa. Além dos modismos legais que pretendem reger o meio ambiente, por exemplo. Enfim, precisa estar atualizado. Embora seja conhecedor de um assunto específico, deve estar aberto a aprender diariamente sobre tudo e sobre pessoas. Podemos ser especialistas? Com certeza, sim. Podemos nos permitir a ser somente especialistas? Com certeza, não.

Luiz Lauschner é escritor e empresário. E-mail: [email protected] – www.luizlauschner.prosaeveso.net

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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