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Escassos e mais caros, insumos afetam cadeia produtiva do PIM

Os preços da indústria nacional ficaram 4,78% mais caros na passagem de fevereiro para março, na segunda maior alta desde 2014, superando de longe a inflação oficial do IPCA (+0,93%), conforme o IPP (Índice de Preços ao Produtor), calculado pelo IBGE. Na análise do órgão federal de pesquisa, o número reflete a alta das commodities e o impacto da queda livre do real diante do dólar e seus efeitos nos preços dos insumos importados, gerando um “efeito em cascata nas diversas cadeias produtivas industriais”. 

Lideranças do PIM ouvidas pela reportagem do Jornal do Commercio concordam, ao ressaltar que parte significativa dos insumos fabris utilizados nos produtos de alta tecnologia do parque fabril de Manaus usam partes e peças importados e precificados em dólar. Segundo os Indicadores da Suframa mais recentes, 70,66% dos insumos empregados nas linhas de produção locais, no primeiro bimestre de 2021, eram de procedência estrangeira.

O dólar se valorizou em 10,36%, do primeiro dia útil de janeiro (R$ 5,1620) até o último dia útil de março deste ano (R$ 5,6967), conforme a base de dados do Banco Central. Em 12 meses, a moeda americana ganhou terreno sobre a nacional por uma margem não inferior a 33,44%. Já as cotações das commodities atravessam período de boom, graças à recuperação das economias chinesa e norte americana e o Índice de Commodities da Refinitiv – que mede 19 matérias-primas – chegou a seu maior valor em três anos.

A inflação do IPP mede a variação dos custos dos produtos na “porta da fábrica”, excluídos impostos e frete. Embora tenha experimentado desaceleração ante janeiro (+5,16%), o indicador do IBGE já acumula altas de dois dígitos recordes, tanto no primeiro trimestre (+14,09%), quanto no aglutinado dos últimos 12 meses (+33,52%). Para efeito de comparação, as respectivos variações do IPCA foram +2,05% e +6,10%.

Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o aumento de preços fabris apresentado em março foi o 20º consecutivo do IPP, na comparação mês a mês do indicador, em uma escalada iniciada em agosto de 2019. As variações positivas se disseminaram em 23 das 24 atividades do setor, incluindo indústrias extrativas e da transformação, em uma repetição do desempenho apresentado nos meses de fevereiro e janeiro deste ano.

Efeito sistêmico

O aumento reflete especialmente a elevação dos preços nas atividades de refino de petróleo e produtos de álcool (+16,77%), outros produtos químicos (+8,79%), madeira (+7,73%) e papel e celulose (+7,18%). As maiores influências vieram de refino de petróleo e produtos de álcool (+1,53 pontos percentuais), outros produtos químicos (+0,74 p.p.), alimentos (+0,58 p.p.) e metalurgia (+0,41 p.p.).

Em texto postado no site da Agência de Notícias IBGE, o gerente de análise e metodologia da Coordenação de Indústria, Alexandre Brandão, reforça o efeito sistêmico da inflação nas cadeias produtivas da indústria. Ele coloca como exemplo o aumento do preço do óleo bruto de petróleo e suas consequências no mercado de derivados e lembra ainda que, se a nafta sofre majoração de preços, o mesmo ocorre com produtos químicos que a usam a matéria prima gerando impactos também no setor de plásticos. 

“O mesmo é válido em relação ao preço do minério, que tem impacto na metalurgia e, num segundo momento, em indústrias como a automotiva ou a produtora de eletrodomésticos. (…) Outro fator que contribuiu para a elevação de preços no mês de março foi o aumento da demanda internacional, especialmente da China, impactando o preço das commodities”, apontou, acrescentando que a pressão é maior nos produtos agrícolas, mas inclui também produtos siderúrgicos e de celulose.

Impacto nos eletroeletrônicos

Matéria veiculada recentemente pelo portal UOL, mostra que a pressão inflacionaria já é visível nos preços finais dos eletroeletrônicos – onde os insumos importados respondem por 80,78%, segundo a Suframa. Os valores cobrados ao consumidor por televisores, equipamentos de som e itens de informática, por exemplo, acumulam alta de quase 23% em 12 meses, segundo o IPCA, bem acima do número geral do indicador do IBGE (6,1%).

No mesmo texto, o presidente da Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos), Jose Jorge do Nascimento, justificou o repasse explicando que as indústrias não têm mais condições de absorver a alta dos passivos fabris. O dirigente ressaltou, em contrapartida, que o subsetor eletroeletrônico ainda não cogita ajustes de produção, nem cortes de empregos. A justificativa é que, apesar do ambiente de demanda fraca e preços fortes, as empresas aguardam recuperação do consumo no segundo semestre, mediante avanço na vacinação. 

“Posição limiar”

Indagado sobre os números do IBGE e sua dinâmica no PIM, o presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas), Antonio Silva, concorda que um dos fatores responsáveis pela alta crescente da inflação no setor vem justamente da escalada na apreciação do câmbio e seu impacto no custo dos insumos industriais, que decorre na consequente pressão pela precificação para cima nos bens finais.

“A nossa economia é muito suscetível às variações cambiais, e o nosso Polo Industrial de Manaus, em particular, sofre o impacto sobremaneira dessas oscilações. Além de termos uma escassez de insumos no mercado mundial, o que, por si só, já eleva seus preços, a alta do dólar também contribui para este indicador, que, inevitavelmente, encarece os custos totais da nossa operação”, comentou.

Embora ressalte que ainda não há como afirmar se a tendência de reajustes de custos e preços para a indústria vai se sustentar nos próximos meses, em decorrência do panorama agudo da pandemia em outros Estados, o dirigente concorda que a situação é preocupante para a indústria, que vê suas margens de lucro caírem em um ambiente de confiança do consumidor em baixa e pouco espaço para reajustes. 

“Há uma clara demanda represada pelos produtos da Zona Franca de Manaus. Porém, ao mesmo tempo, a estimativa de inflação foi reajustada pela quarta vez consecutiva, de 5,01% para 5,04%. Esses aspectos antinômicos nos colocam em uma posição limiar para os próximos meses, na qual ficamos extremamente vulneráveis a quaisquer oscilações do mercado nacional”, arrematou. 

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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