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Era uma vez o petróleo que jorrou na Amazônia

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Em março de 1955 o Amazonas ficou em polvorosa quando, numa localidade a 134 km de Manaus, em linha reta, o seringal Nova Olinda, jorrou petróleo. Seria a redenção econômica do Estado após a débâcle da borracha?

Plínio Ramos Coelho (1955/1959), o governador de então, empossado naquele mês de março, aproveitou para fazer marketing pessoal e do Estado aparecendo em fotos nos principais jornais do país com o terno de linho branco manchado com o petróleo amazônico.

Lojas, em Manaus, passaram a vender vidrinhos com o petróleo trazido daquelas terras. Pessoas de vários lugares começaram a rumar para o lugar, em embarcações, em busca de, sem saber como, ganhar dinheiro com o ouro negro. Dois presidentes, Café Filho (1954/1955), em 1955, e Juscelino Kubitschek (1956/1961), em 1957, foram ver os poços de petróleo in loco.

Neste último ano, no entanto, a Petrobras começou a dizer que o petróleo amazônico não era comercial. Em pouco tempo os poços foram fechados e era uma vez a riqueza amazônica que nem chegou a existir. Especulou-se até que os americanos haviam mandado fechar os poços para que o Brasil não desfrutasse e usufruísse dessa riqueza.

Passados mais de 60 anos do fato histórico, a pedagoga e psicóloga Gezyneida Cunha Nogueira está realizando um trabalho de pesquisa em documentos, e com pessoas que vivenciaram aquele momento, para tentar descobrir o que realmente aconteceu com o petróleo daquela localidade que, após o acontecido, se transformou na cidade de Nova Olinda do Norte.

Café Filho e Kubitschek     

“O primeiro episódio do jorro do petróleo ocorreu quando a broca atingiu a profundidade de 2.713 metros, no dia 13 de março de 1955. Com a divulgação desse acontecimento, a notícia se espalhou rapidamente”, contou Gezyneida.

Em Olinda, Plínio Coelho com amostra do petróleo
 

“O terreno era na fazenda Nova Olinda, pertencente ao Sr. Arnaldo Pinheiro e onde ele criava 100 cabeças de gado”, falou.

“Em dezembro daquele ano, empolgado com a repercussão que o caso atingira, o governador Plínio Coelho, após reunir e consultar os moradores daquela localidade, criou o município de Nova Olinda do Norte, através da Lei nº 096, de 19 de dezembro de 1955”, lembrou.

“Ele pediu sugestão de nomes e vieram Primor, Canaã, Sobradinho e Nova Olinda. Óbvio que Nova Olinda foi o escolhido e Plínio Coelho se encarregou de acrescentar o ‘do Norte’, para ficar claro que a cidade ficava no Amazonas”, destacou.

As pesquisas em torno do óleo surgido na fazenda Nova Olinda começaram em abril de 1953, através do Conselho Nacional do Petróleo. A Petrobras foi criada em outubro daquele ano, mas em agosto os técnicos da futura empresa chegaram a Nova Olinda com os equipamentos para montar as torres. Compraram terras, montaram sua base e iniciaram os trabalhos.

Dois anos depois pesquisas atestavam que ‘não resta a menor dúvida de que o óleo é da melhor qualidade, classificado por nós como tipo Pensilvânia’ ou, ‘num ensaio de destilação sem ‘cracking’, acusou 35 a 40% de gasolina, o que constitui um índice excepcional’.

“Em 1957, um segundo jorro de petróleo se deu na ilha do Maraca, em frente à já cidade de Nova Olinda do Norte o que ocasionou a vinda de um segundo presidente ao local, Juscelino Kubitschek, em 16 de março”, explicou.

Naquele ano, porém, a euforia com o petróleo amazônico começou a esmaecer.

Óleo a apenas três metros

A Petrobras, de acordo com o geólogo americano Walter Link, alegou que o hidrocarboneto da região não tinha valor comercial e determinou o fechamento dos poços. Link era um alto funcionário da Petrobras e contrariou tanto o desejo de Janary Nunes, presidente da Petrobras, quanto do próprio presidente Kubitschek, que queriam investir na Amazônia como região petrolífera, o que o geólogo desaconselhava comparando os altos gastos de prospecção com o tamanho insuficiente da empresa. Estranhamente a opinião do americano foi acatada e os poços lacrados.

Até hoje, 62 anos depois, o poço pioneiro (o que restou dele) permanece na frente da cidade, como um símbolo. No seu entorno a cidade cresceu e surgiu o bairro de Base.

“A Petrobras construiu, na época, dez grandes prédios em Nova Olinda, hoje ocupados pela prefeitura, secretaria de Educação, Pestalozzi, Emater, cartório, e Escola N. Sra. de Nazaré. Os demais foram ocupados por invasores”, falou.

“Se andarmos pela região, nas matas, encontramos muitos equipamentos abandonados pela Petrobras”, informou.

Prédios abandonados formam parte do cenário encontrado em Nova Olinda
 

“Em 19 dezembro, aniversário da cidade, lanço o meu livro ‘A verdadeira história de Nova Olinda do Norte’, no qual mostro que, desde então nada mais se explorou economicamente nesta região, no entanto, aqui próximo, no rio Curupira, numa fazenda, existe um poço de apenas três metros de profundidade do qual até hoje o pessoal retira óleo para abastecer suas embarcações, e ele foi aberto pela Petrobras, naquele período”, concluiu.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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