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Epopéia das calçadas

Em um determinado momento da história da humanidade, o ser humano passou a construir caminhos pavimentados de pedra destinados aos transeuntes. Essas partes laterais existentes ao longo das ruas direcionadas ao trânsito dos pedestres, convencionou-se chamar de calçada para os falantes do português, “sidewalk” para os saxões, pavimentazione para os italianos, entre outras variadas maneiras de se denominar o passeio público.
Nos primórdios das civilizações como os Nabateus operaram milagres arquitetônicos no deserto, sem esquecer das calçadas por onde os peregrinos acessavam as frontarias incrustradas nas montanhas de petra. Calçadas bem pavimentadas eram também marca registrada da Roma antiga. Cidades como Herculano e Pompéia permitiam que as famílias se deslocasem com segurança pelas vias comerciais que compreendiam padarias, saunas, anfiteatros, posteriormente destruídas em 79 da nossa era pelo vulcão Vesúvio.
No Brasil colonial cidades como São Luiz do Maranhão tinham suascalçadas sutitilizadas para mercantilizar os mais variados itens que incluiam das saborosas frutas a deplorável venda de escravos empilhados como mercadoria aos olhos públicos. Nessas mesmas calçadas os afro-brasileiros violentamente incorporados a sociedade local desfilavam com os seus penicos carregados da identidade intestinal de seus senhores, que educadamente não utilizavam do ritual da “água vai”. Remonta à essa época singulares vias da capital maranhense, dentre as quais o beco da bosta.
Muitas gerações se passarame a calçada continuou a exercer seu fascínio com o “Footing” glamuroso em cidades como Beverly Hills, e do luxo incontido de capitais mundiais como Paris.Novo transcurso dos anos e as calçadas antes reservadas ao literal desfile de moda das metrópoles européias, passaram a aceitar uma miriade de novos ocupantes dispondo variadas tendências de comportamento e vestuário. O trottoir das meninas boas das famílias más, foi e ainda é marca registrada dos calçadões, de locais como a praia deIracema em Fortaleza e Copacabana no Rio de Janeiro. No caminhar dessas jovens, algumas não tão revestidas de juventude, bolsas em guarda, a calçada assume seu lado sensual e até depravado na visão carola e pudicade alguns cidadões. Em meio a essa nova corrente de empresariais do corpo, outros ocupantes desse tão importante mas renegado espaço começam a ocupar esses locais comercializando substâncias proibidas, revistas dinamarquesas contendo aspectos inusitados da reprodução humana entre outros produtos socialmente questionáveis.
Mais um pulo no tempo.A cidade-luz agora pontifica rebeliões de imigrante,e as calçadas francesas encontram-se repletas de caca de “chien”, demandando um serviço de coleta especial com motoqueiros.A calçada da Fama do Hollywood Boulevard, com as pegadas dos atores mais famosos do cinema, definitivamente perderam espaço para outros eventos mais coetaneos a era dos mp4. As calçadas certamente perderam um pouco do seu charme, outrora ostentado pelas elegantes madames ricamente vestidas.
No século 21 as calçadas da cidade de Manaus, teoricamente servidões públicas, destinadas a permitir a socialização dos espaços públicos, o deslocamento ordeiro do pagador de impostos, parecem um zona de guerra.O assédio irritante dos vendedores de DVDs, a presença de bancas obrigando o pedestre a dirigir-se para o meio da rua são apenas detalhes de uma paisagem absurda aos olhos de quem clama minimamente por respeito.Os maus empresários dispondo sua mercadoria na calçada, as guloseimas sendo ali mesmo comercializadas empesteando a passagem dos pedestres com odor e restos de frutas, legumes e até peixes.
Tudo isso é pouco diante das calçadas que terminam abruptamente ou que encontram-se em diferentes alturas, cheias de depressões ou mesmo sem revestimento. Calçadas para aqueles que teimam em permanecer inertes aos conceitos de cidadania são feitas unicamente para pisar em cima. Na verdade uma cidade com calçadas corretamente ordenadas pe

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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