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Entre a história e a modernidade da zona Sul de Manaus

Mais de 286 mil pessoas vivem na zona Sul de Manaus. A terceira zona mais populosa soma 18 bairros de características heterogêneas. O aspecto histórico supera as adversidades do tempo e continua sendo um dos atrativos culturais e turísticos mais importantes da vida social nesta parte da cidade.  

A zona Sul de Manaus compreende os bairros Petrópolis, São Francisco, Cachoeirinha, Raiz, Japiim, Distrito Industrial, Betânia, Santa Luzia, Morro da Liberdade, Colônia Oliveira Machado, Crespo, São Lázaro, Vila Buriti, Praça 14 de Janeiro, Centro, Nossa Senhora Aparecida e Presidente Vargas. 

De acordo com o Censo 2010, do IBGE, o bairro mais populoso desta zona é o Japiim, com mais de 53 mil habitantes, seguido do Petrópolis, com mais de 41 mil, e do Centro, com mais de 33 mil moradores. Quando se fala em território, o Distrito Industrial passa à frente com uma área de 1168.59 hectares, logo atrás vem o Japim com 547.63. O menor é o bairro de Santa Luzia com apenas 27.39 hectares.  

O Centro Histórico de Manaus de destaca preservando a tradição de espaços da Belle Époque, como o Teatro Amazonas, que reabriu para visitação após um longo período fechado devido a pandemia de Covid-19, e com o Largo de São Sebastião, que é um dos passeios favoritos de crianças e adultos. 

 O Educandos, primeiro bairro manauara, prova o lado ribeirinho e tradicional dos amazonenses com a Feira da Panair e a Orla do Amarelinho. As compras de peixe na beira do rio é o ponto alto para muitas famílias que garantem o almoço mais barato e fresquinho. 

No entanto, se por um lado, a zona Sul carrega a missão de guardar as memórias amazonenses, por outro respira a modernidade da indústria. O Polo Industrial de Manaus, situado no Distrito Industrial, proporciona o sustento a milhares de famílias e é uma das principais matrizes econômicas do Amazonas, que ainda cambaleia em outros setores. 

Qualidade de Vida 

A qualidade de vida engloba diversos aspectos, como acesso à serviços de saúde preventiva e de urgência e emergência, espaços para prática esportiva e de lazer, educação e cultura, segurança pública e transporte público. A população da Zona Sul enfrenta desafios em alguns aspectos e se destaca em outros. 

A autônoma Nirna Alves Bruço de Lima, 32 anos, moradora do Educandos, participa de um projeto de treino funcional no bairro Santa Luzia há três anos. Ela buscava um espaço onde pudesse praticar atividade física com objetivo de emagrecer. Para ela, a área da zona Sul tem opções de lazer para todos os gostos. 

“No bairro Educandos eu não encontrei um espaço como eu queria, mas aqui no Santa Luzia e Morro da Liberdade tem, e, todos os moradores dessa área conseguem encontrar projetos como este. Cheguei a pesar quase 80kg e precisava de algo para praticar um esporte, aqui eu consigo”, disse. 

Saúde na pandemia

 No ano de pandemia, causado pela Covid-19, a falta de unidades de saúde suficientes para atender a demanda da população causou pânico em quem buscava atendimento médico e internação para familiares e amigos doentes. Na zona Sul não foi diferente. 

A zona Sul conta com duas unidades de pronto atendimento: SPA (Serviço de Pronto Atendimento) da Zona Sul, na Colônia Oliveira Machado; e Hospital e Pronto Socorro da Criança zona Sul, na Cachoeirinha; A Semsa (Secretaria Municipal de Saúde) administra 15 unidades de saúde que oferecem à população o atendimento básico e preventivo. 

A UBS do Morro da Liberdade, localizada na rua São Benedito, possui horário ampliado, com atendimento preferencial para casos de suspeita de Covid-19, dando aos moradores de toda zona Sul uma opção de consulta médica sem a necessidade de buscar por hospitais quase sempre lotados e com risco de contaminação. 

A aposentada Lúcia Silva, moradora do bairro Japiim 1, buscou tratamento da Covid-19 na unidade, em fevereiro deste ano, onde teve acompanhamento médico após o resultado positivo para coronavírus. “Tive um bom atendimento nas duas vezes em que busquei a unidade logo após testar positivo. Lá eu recebi o atendimento com rapidez e não precisei ser internada em hospital, consegui me recuperar da doença com o tratamento receitado na UBS”, ressaltou.

Jiu-Jitsu domina a zona Sul 

Um projeto social de Jiu-Jitsu desenvolvido há mais de 14 anos na zona Sul de Manaus proporciona prática esportiva aliada ao atendimento psicológico a crianças e adolescentes. A iniciativa também oferece aulas de funcional para adultos e assistência social às famílias. 

A estudante Beatriz Yanne, de 13 anos, e a mãe dela, a aposentada Rosilene Abreu, 44, participam das aulas há um ano e relatam os resultados positivos. “Minha filha ficou traumatizada com a minha separação do pai dela, não falava muito e não tinha amigos. Mas ela sempre se interessou por lutas, foi quando eu conheci o projeto e trouxe ela. Hoje, vejo uma Beatriz que conversa, que tem amigos e que não falta uma aula sequer”, disse.

O Projeto Social Ivo Neto funciona em sede própria na rua Leopoldo Neves, bairro Santa Luzia, de segunda a sexta-feira, em vários horários. A coordenadora Ediane Leão, 25, explica que toda segunda-feira entram alunos novos para fazer aulas experimentais. A mensalidade é 4kg de alimentos não perecíveis, que são doados para famílias pobres da comunidade. 

“Temos mais duas filiais nos bairros Educandos e Morro da Liberdade, outra está sendo montada na Colônia Oliveira Machado. São mais de 100 alunos no total. Realizamos rifas para ajudar os atletas a participarem de campeonatos e, além disso, oferecemos atendimento psicológico e uma assistente social faz o acompanhamento com as famílias. Não focamos apenas no esporte, mas em dar a esses atletas um acompanhamento completo”, ressaltou. 

Pacientes pós-Covid recebem tratamento na Policlínica Codajás 

A Covid-19 comprometeu a qualidade de vida de inúmeros manauaras, deixando sequelas físicas e emocionais nos sobreviventes. Pacientes que conseguiram vencer a doença ficaram com problemas pulmonares, dificuldades nos movimentos dos membros e traumas psicológicos. 

É o caso de Maria Gracilene Nascimento da Silva, de 56 anos. Ela é uma entre os mil pacientes que estão sendo acompanhados pelo Projeto Respirar, uma iniciativa pioneira em todo Brasil, que está sendo desenvolvida em Manaus, focado na reabilitação de pacientes pós-Covid. 

Maria ficou com sequelas da Covid-19 e passa por reabilitação – Foto: Divulgação

A dona de casa pegou a doença através dos netos que contraíram o coronavírus na escola. A família inteira ficou doente, exceto o marido dela. Mesmo tendo tomado as duas doses da vacina, ela precisou ficar 12 dias internada no Hospital de Referência Delphina Aziz, na zona Norte, sendo quatro dias na UTI para tratar o pulmão, que chegou a ficar 75% comprometido. 

Ao receber alta do hospital, Maria iniciou imediatamente o tratamento das sequelas deixadas pela doença nos membros superiores e inferiores. Moradora do bairro Betânia, na zona Sul, ela foi encaminhada para a Policlínica Codajás, situada na Cachoeirinha, onde funciona uma das bases do Projeto Respirar.

“Fiquei com dificuldade para andar, com as pernas trêmulas, e as mãos também, até para pegar uma colher doía muito. Vai fazer um mês que peguei a Covid, de tratamento aqui são duas semanas. Faço trabalho com pesos, bicicleta e esteira três vezes na semana e já me sinto melhor. Só tenho a agradecer porque a gente tem as coisas pra fazer em casa, precisa andar direito e conseguir seguir a vida depois da Covid”, disse. 

Pacientes de todas as idades chegam ao local para iniciar o tratamento, como ressalta a fisioterapeuta Priscila Ribeiro. “Alguns chegam bem debilitados, com dor nas costas, sem conseguir andar um metro sem ficar cansado e nós trabalhamos conforme a queixa do paciente. Eles sempre vêm com uma patologia associada, como diabetes por exemplo, como é o caso da Maria, e fazem todo acompanhamento conosco”, reforça. 

“O Respirar é pioneiro e traz uma característica inédita que é unir fisioterapia com atividade física. Outros estados têm contactado o Governo do Amazonas para conhecer mais sobre o projeto e municípios do interior também sinalizam que querem ter o projeto para oferecer a população”, contou o coordenador do projeto Respirar, Neibe Araújo. 

Maria é paciente do projeto Respirar e Neibe Araújo, que faz parte da iniciativa – Foto: Divulgação

A Policlínica Codajás está em obras para aumentar a capacidade de atendimento. O diretor da unidade, Rainer Figueiredo, revelou que o objetivo é inaugurar o novo espaço de fisioterapia até novembro deste ano, ampliando o setor que recebe os pacientes gerais e de tratamento pós-Covid.

 Alfabetização de Adultos e Idosos eleva qualidade de vida na zona Sul 

A qualidade de vida também passa pela alfabetização. Entretanto, esse processo que, normalmente, acontece na infância não foi possível para muitas pessoas, que cresceram sem saber ler e escrever. Alguns deles, já na fase adulta e outros na terceira idade, buscam vencer mais este desafio. 

A professora Simoni Medeiros trabalha no Cemeapi (Centro Municipal de Escolarização de Adultos e da Pessoa Idosa), lecionando para uma turma de 21 estudantes, sendo adultos e idosos, de nacionalidade brasileira e venezuelana, que funciona no Clube de Mães do bairro Aparecida. Ela conta que já trabalhou em todos os segmentos da educação básica, mas este desperta nela o sentimento de plena realização profissional. 

“Nessa turma, eles já estão lendo, produzindo texto, interpretando, fazendo cálculos. É um trabalho muito gratificante e muito prazeroso, você poder contribuir com a aprendizagem de pessoas que têm histórias de vida muito difíceis. A gente incentiva para eles não desistirem, pois faltam recursos até para comprar o passe estudantil. Eu estou organizando com eles uma visita ao cinema, temos alunos brasileiros que nunca tiveram a oportunidade e recurso para ir, vamos visitar pontos turísticos também para eles conhecerem”, contou. 

A dona de casa Anunciada Maria Silva de Souza, 58, é uma das alunas de Simoni. Ela precisou parar os estudos ainda criança para poder tomar conta dos irmãos mais novos enquanto a mãe trabalhava. Hoje, ela está focada em terminar o ensino básico e seguir para uma faculdade. 

“Senti a necessidade de voltar a estudar, estava muito fechada, queria abrir minha mente, minha memória, estou reaprendendo e voltando ao convívio das pessoas na sala de aula. Tem sido uma experiência boa demais. Eu não pretendo mais parar, quero fazer uma faculdade de engenharia de pesca para usar meus conhecimentos em um sítio e poder ganhar um dinheiro na velhice”, concluiu. 

Foto/Destaque: Divulgação
Reportagem de Rita Ferreira

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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