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Empréstimos voltam a ficar mais caros nos bancos em julho

Os juros dos financiamentos bancários escalaram pelo oitavo mês consecutivo, em julho. Diferente dos meses anteriores, o crédito direcionado às pessoas físicas puxou a nova alta, embora o aperto também tenha sido significativo para as pessoas jurídicas, segundo a Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade). As estatísticas mais recentes do Banco Central, por outro lado, indicam que o novo reajuste foi precedido por recuo nas taxas de inadimplência e aumento nas concessões, nas operações de crédito do SFN (Sistema Financeiro Nacional).

De acordo com a Anefac, o acréscimo no custo de dinheiro pesou mais sobre as pessoas físicas, que amargaram reforço de 1,01% no custo do dinheiro, reposicionando a taxa do empréstimo de 5,93% para 5,99% mensais – o patamar mais elevado desde dezembro de 2019. Para as pessoas jurídicas, o incremento foi de 0,95%, passando de 3,17% (junho) para 3,20% (julho) ao mês – o maior valor desde novembro de 2019. Com a nova correção, as respectivas taxas anuais ficaram em 100,99% e 45,93%.

Vale notar que o aumento segue em ritmo mais acelerado do que o dos juros básicos da economia. A Anefac informa que, considerando todas as elevações e reduções da taxa Selic (5,25% ao ano) promovidas pelo Banco Central desde março/2013, a taxa básica de juros caiu 27,59%, em mais de oito anos. No mesmo período, o custo médio do dinheiro para pessoas jurídicas ficou 5,39% mais caro. Para as pessoas físicas, a elevação chegou a 14,80%.

A linha de crédito com maior aumento mensal para as pessoas físicas, desta vez, foi o cartão de crédito (+1,65%), que passou de 12,10% para 12,30% ao mês e segue com a maior taxa do ranking. Foi seguida pelo CDC para financiamentos de automóveis (+1,30%), que foi de 1,54% para 1,56% mensais. Na sequência vieram o empréstimo pessoal em bancos (+1,19%), os juros do comércio (+0,83%), o empréstimo pessoal em financeiras (+0,78%) e o cheque especial (+0,41%) – que se situaram em 3,40%, 4,84%, 6,48% e 7,38% mensais, respectivamente. 

Do lado das pessoas jurídicas, o maior reajuste ocorrido entre junho (1,23% por mês) e julho (1,26%) se deu no crédito para capital de giro, que ficou 2,44% mais caro. O financiamento para desconto de duplicatas, que havia liderado o ranking nos meses anteriores, foi para o segundo lugar, com taxa mensal de 1,40% e incremento de 1,45% ante o levantamento anterior. Embora tenha registrado o menor acréscimo (+0,72%), a conta garantida também segue como a modalidade mais onerosa ao mês (6,95%), para esse tipo de público.

Inadimplência e Selic

Em material divulgado pela assessoria de imprensa da Anefac, o vice-presidente de estudos e pesquisas da entidade, Miguel José Ribeiro de Oliveira, reforçou que as novas elevações das taxas no crédito bancário podem ser atribuídas ao aumento dos juros futuros no mercado financeiro e às expectativas de mais aumentos da Selic frente ao comportamento da inflação. Pressionado novamente pelo aumento do preço da energia elétrica, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo subiu 0,96%, em julho, sendo o maior resultado para o mês, desde 2002.

Outros fatores citados são a elevação da alíquota de CSLL (Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido) para instituições financeiras e uma “provável” nova elevação nos índices de inadimplência – favorecida pelo fim das carências nos empréstimos, “desemprego elevado”, redução dos benefícios do auxílio emergencial, aumento da inflação e maior seletividade dos bancos para emprestar. Diante do maior risco ao crédito e das incertezas da economia, Oliveira avalia que a tendência dos próximos meses é que as taxas de juros devem prosseguir e trajetória de expansão. 

O BC ainda não divulgou os dados de julho, mas sabe-se que a inadimplência nas operações de crédito com recursos livres do SFN, interrompeu uma sequência de três altas mensais seguidas, no mês anterior. Para as pessoas jurídicas, ela caiu de 1,72% para 1,61%, além de fica aquém da marca de junho de 2020 (1,96%) – ainda afetada pelos impactos da primeira onda da pandemia. O mesmo se deu para as pessoas física, onde a taxa recuou de 4,18% para 4,12%, além de encolher também relação ao patamar de 12 meses atrás (5,30%). 

O mesmo BC indica que o saldo brasileiro das operações de crédito do SFN voltou a crescer em junho, pelo segundo mês seguido. Para as pessoas físicas junho (R$ 189,306 bilhões) foi 0,89% melhor do que maio de 2021 (R$ 187,628 bilhões) e 33,87% superior ao do sexto mês de 2020 (R$ 141,406 bilhões). Para as jurídicas (R$ 188,027 bilhões) ficou 9,43% acima da marca do mês anterior (R$ 171,829 bilhões) e avançou 31,29% em relação ao mesmo mês do ano passado (R$ 143,217 bilhões). 

Risco maior

O presidente do Sindecon-AM (Sindicato dos Economistas do Estado do Amazonas) e consultor empresarial, Marcus Evangelista, reforça que toda operação de crédito tem seus juros impactados pela variação da Selic e, como estamos em viés de alta, a tendência será de alta a cada mês. Para o economista, o fato de o aumento se concentrar mais nas pessoas físicas, está ligado a uma percepção de risco de inadimplência também mais elevado para esse público.

“A taxa é maior para compensar pelos tomadores que não pagam. Por outro lado, nas pessoas jurídicas, o aumento também é percebido. Há uma tendência de que, após a contenção da inflação, provavelmente a Selic e a taxa de juros voltem a recuar. Basta lembrar que já chegamos a um juro básico de 14%, com taxas altíssimas nos bancos. Em outro período, tivemos a Selic a 2%. Há uma variância muito grande, porque faz parte da estratégia do governo federal usar a Selic para conter o consumo e, consequentemente, a inflação”, ponderou.

Na mesma linha, o conselheiro do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Estado do Amazonas), professor universitário e consultor empresarial, Francisco de Assis Mourão Junior, concorda que a elevação do risco é um fator preponderante para altas mais severas no setor bancário. “Neste momento de inflação e desemprego altos, os bancos percebem que o risco aumentou. Mais uma vez, a economia é impactada pela pandemia. Apesar de já estarmos com uma boa parte da população vacinada, os dados ainda demonstram que a economia ainda não entrou em trajetória de recuperação. Há apenas uma pequena luz no final do túnel”, concluiu.

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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