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Empresários do Amazonas dividem-se sobre novo decreto

A nova formatação do toque de recolher e as novas medidas anunciadas nesta sexta (5), pelo governador Wilson Lima, dividiram opiniões entre o empresariado amazonense. A indústria comemorou. Em linhas gerais, a restrição à circulação de pessoas volta a vigorar apenas entre 19h e 6h, a partir da próxima segunda (8), e o setor passa a poder funcionar 24 horas diárias, desde que ajuste seus turnos para não haver deslocamentos nessa faixa de horário.

O comércio, por sua vez, considerou que as mudanças foram um primeiro passo para a reabertura, em um caminho que sinaliza ser longo, dado que o Amazonas segue na fase roxa, a mais crítica da pandemia. Com as medidas, a atividade seguirá funcionando apenas para vendas remotas, com entregas permitidas entre 8h e 17h, embora todos os segmentos não essenciais já estejam incluídos nesta nova fase. Na avaliação dos comerciantes, contudo, nem todas as empresas conseguirão trabalhar no formato delivery a contento.

Lojas de conveniência funcionarão até as 18h, sem consumo no local, enquanto bares e restaurantes poderão funcionar entre 6h e 22h para delivery e de 6h às 18h para drive-thru. A assistência técnica de aparelhos de linha branca e ar-condicionado, assim como de celulares será realizada apenas a domicílio. Todas as medidas anunciadas pelo governador terão validade de setes dias, a contar de segunda (8), quando deve ser publicado o novo decreto.

O presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas), Antonio Silva, avalia que as medidas atendem aos interesses de todos os empresários. No entendimento do dirigente, as mudanças vão preservar os cuidados para minimizar a possibilidade de contaminação, ao mesmo tempo em que possibilita às atividades essenciais serem exercidas sem comprometimento das medidas de segurança. A indústria, segundo Silva, terá mais um fôlego para que sua produção seja normalizada em parte.

“A nossa gratidão e satisfação também ao Secretário Jório Veiga pelo seu empenho em conciliar as necessidades de todas as partes envolvidas, fazendo com que as medidas tomadas pelo governador atendesse também às demandas da indústria, tão afetada neste período de restrições impostas pelos resultados preocupantes da pandemia. A coerência das medidas e o diálogo entre as partes termina por exigir de cada um de nós o compromisso de cumpri-las. Parabéns ao governador e ao secretário Veiga pelo acerto nas decisões tomadas”, enfatizou.

O presidente da Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos), Jose Jorge do Nascimento,  diz que a busca do equilíbrio do enfrentamento da crise sanitária e a retomada aos poucos das atividades econômica é fundamental e lembra que, no momento em que foi preciso parar, ninguém do setor produtivo amazonense negou, por entender a complexidade da situação. 

“A indústria sempre esteve ao lado das medidas de contenção e sempre colaborou com os governos. Quando foi preciso parar, isso foi feito. Claro que há uma particularidade no PIM, porque atendemos não só o Amazonas, mas todo o Brasil. O governo foi sensível em entender que tinha que ter um mínimo de operações para evitar desabastecimento. Agora, retornando a uma atividade maior, voltamos à possibilidade de retomarmos uma produção significativa, como antes, sem por em risco a vida do trabalhador. Isso é o principal. O governo acertou na medida e foi coerente”, comemorou.

“Medidas tímidas”

O presidente da FCDL-AM (Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Amazonas), Ezra Azury, considerou que as medidas anunciadas pelo governador ainda são tímidas e não vão ajudar muito o comércio, no atual momento de dificuldades. No entendimento do dirigente, a modalidade delivery é até positiva, mas acaba tendo alcance limitado, dado que nem todas as atividades conseguem operar bem com ela. 

“Com isso, acreditamos que esta semana ainda será um período difícil para o setor. Entendemos que é um dia de cada vez, e que ainda estamos muito impactados com o número de mortes e com a questão dos leitos. Vamos ter essa semana, agora, para avaliar. Em seguida, devemos voltar novamente aos pedidos para que o varejo já comece a operar com portas abertas a partir de 15 de fevereiro”, asseverou.   

“Vendas em risco”

Na mesma linha, o presidente da ACA (Associação Comercial do Estado do Amazonas), Jorge de Souza Lima, também considerou que o novo decreto trouxe mudanças apenas cosméticas que não vão gerar impactos significativos e necessários para o varejo. O comerciante também reforça que determinadas atividades especializadas e seus produtos não conseguem sustentar vendas pelo meio eletrônico, em virtude de suas características específicas.

“O toque de recolher não é mais 24 horas, passando a valer apenas para a noite e madrugada. A indústria, que já não contamina muito e é muito rigorosa com seus controles, foi liberada. A venda eletrônica amplia um pouquinho mais, só que alguns segmentos têm dificuldades mesmo, como o da venda de pneus. E o empresário ainda corre o risco de perder essa venda, porque não pode atender na loja, enquanto supermercados, que estão liberados, também vendem pneus. Vamos aguardar a queda dos números, para a gente ver se dá uma aliviada, daqui a 15 dias”, apontou.   

“Primeiro passo”

Em sintonia, o presidente em exercício a Fecomercio-AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), Aderson Frota, também concorda que parte substancial terá dificuldades de operar com vendas remotas, seja pela carência material de parte substancial das empresas em investir nas vendas pelas plataformas online, seja pela cultura consumidora local, que demandaria uma venda acompanhada pelo vendedor, especialmente em produtos mais tradicionais. 

“Entendemos as dificuldades do governador, espremido pelas carências hospitalares e matérias, de um lado, e pressionado por decisões judiciais, de outro. Dessa forma, ele não tem mesmo como atender todos os nossos pleitos. Mas, temos que entender que as medidas não vão atender todo o setor. Fica muito difícil você vender uma calça, ou um sapato por delivery. O cliente quer experimentar o produto. O mesmo acontece quando você quer uma ferramenta, uma serra, por exemplo. Há muitos tamanhos e tipos diferentes e, sem orientação, o consumidor terá dificuldades em escolher”, ponderou.

No entendimento do presidente da Fecomercio-AM, o novo decreto é um primeiro passo, cuja próxima etapa deve ser a flexibilização para drive-thru para todos os segmentos comerciais – o que permitiria maior interlocução do consumidor com vendedores. Em seguida, viria o retorno do atendimento presencial, ainda que em jornadas reduzidas e horários escalonados, para não gerar congestionamentos e ônibus lotados. “Infelizmente, ainda não conseguimos a melhor das soluções, mas esperamos avançar nas próximas etapas”, arrematou. 

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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