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Empregos crescem no interior com a força da agroindústria e serviços

O interior do Amazonas emendou um segundo mês consecutivo de saldo positivo de empregos formais, em março. As contratações (+1.469) superaram as demissões (-1.184), gerando acréscimo de 285 postos de trabalho com carteira assinada e alta de 0,06% sobre o estoque anterior. Foi um resultado pouco superior ao de fevereiro de 2022 (+265) e ainda melhor do que o de patamar de 12 meses atrás (+223) –período em que o Estado ainda emergia da segunda onda da pandemia. Os municípios também conseguiram se manter no azul no trimestre (+457) e no acumulado de 12 meses (+2.890).

A alta dos municípios foi sustentada por agroindústria e serviços, sendo seguidos de longe pelo comércio e pela construção. Mas, a agropecuária extinguiu vagas. Os melhores resultados vieram de Manacapuru e Boca do Acre. Mas, em sintonia com o aumento dos custos dos insumos agropecuários, e com as incertezas no polo de concentrados em decorrência da crise do IPI, Presidente Figueiredo concentrou a maior parte dos cortes, especialmente nas lavouras temporárias. É o que revelam os dados do ‘Novo’ Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).

Em março, 29 dos 61 municípios tiveram mais admissões do que desligamentos, 11 pontuaram estabilidade e 21 extinguiram empregos. O volume de vagas geradas na maioria das cidades ainda foi irrisório. O melhor resultado veio de Manacapuru (+103 e +3,55%), sendo seguido por Boca do Acre (+74 e +4,76%), Iranduba (+30 e +1,27%) e Manicoré (+22% e -3,13%). A maior variação veio de Japurá (+27,78%), que criou apenas 5 postos de trabalho. Foram registrados apenas dois resultados negativos de dois dígitos: Presidente Figueiredo (-33 e -1,06%), Tabatinga (-23 e -0,81%) e Codajás (-11 e -7,48%).

No trimestre, 33 prefeituras geraram empregos, três ficaram na mesma e 25 amargaram cortes. Boca do Acre (+140 e +9,40%), Manacapuru (+117 e +4,05%), Itacoatiara (+84 e +1,31%) e Parintins (+81 e +2,96%) encabeçaram a lista. Presidente Figueiredo (-234 e -7,04%) foi novamente o único a amargar cortes de três dígitos. Em 12 meses, o rol de municípios com empregabilidade no azul sobe para 50. Só um estancou e dez fecharam no vermelho. Iranduba (+314 e +15,05%) e Codajás (-22 e -13,92%) ficaram nos extremos.

Estoques e atividades

Os números de março confirmaram ainda que a geração de empregos no interior segue concentrada. O somatório dos estoques de empregos –que é a quantidade total de vínculos celetistas ativos –dos seis maiores municípios do Amazonas –excluída a capital – respondeu por mais da metade de todo o volume de postos de trabalho com carteira assinada contabilizados em todo o interior do Estado (38.410). A lista inclui Itacoatiara (6.518), Presidente Figueiredo (3.090), Manacapuru (3.007), Parintins (2.818), Tabatinga (2.817) e Iranduba (2.401). 

Apenas três dos cinco setores econômicos listados pelo “Novo Caged” conseguiram saldos positivos no Amazonas, na passagem de fevereiro para março de 2022. No interior foram quatro, sendo que a maior parte das contratações veio da indústria (+169), que seguiu trajetória inversa na capital (-398). Motor de empregos no Estado e no Brasil, os serviços (+78) ficaram na segunda posição. Na sequência estão o comércio (+66) e a construção (+38) –que saiu do campo negativo.

Dinâmica semelhante se deu no trimestre, com a agropecuária (-298) eliminando empregos e a construção (+34) esboçando tímida recuperação. O destaque ainda é o comércio (+275), seguido por indústria (+224) e serviços (+222). Em 12 meses, só a construção (-14) segue no vermelho, puxada por obras de infraestrutura. O comércio (+1.549) é o setor que mais gera vagas, seguido por serviços (+1.008), indústria (+210) e agropecuária (+137).

Destaque na comparação mensal de março, tanto Manacapuru, quanto Boca do Acre, tiveram suas contratações sustentadas principalmente pela indústria de transformação (+44 e +60 vagas, respectivamente). Na outra ponta, o setor econômico que mais extinguiu postos de trabalhos formais em Presidente Figueiredo, foi a agropecuária (-87), nos segmentos de lavouras temporárias e de horti e floricultura. 

“Ajustes momentâneos”

O consultor econômico, coordenador regional da Abed (Associação Brasileira de Economistas pela Democracia) no Amazonas e ex-supervisor técnico do antigo escritório regional do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), Inaldo Seixas, ressalta que, embora os números do Novo Caged sejam positivos, a geração de empregos formais não é significativa, sendo fruto de “ajustes momentâneos”.

“A economia está “muito volátil” e os dados ainda são de março. A guerra na Ucrânia, por exemplo, ainda estava começando e os analistas apontavam que o conflito seria curto, o que não aconteceu. Temos também a pandemia na China, que impacta nas cadeias produtivas e já está gerando férias coletivas em fábricas no Brasil. O cenário é incerto e a situação econômica tende a ser pior, com apreciação do dólar e do petróleo, com repasses na inflação e aumentos de juros. Isso nos leva a crer que teremos um crescimento pequeno e insuficiente para gerar empregos formais”, resumiu.

Seixas lembra que, embora conte com algumas poucas indústrias, o interior tem sua economia lastreada por pequenos estabelecimentos de comércio e serviços e, por isso, acaba sendo muito “atrelado à capital”. “Por conta dos decretos de IPI, temos empregos afetados no polo de concentrados, com impactos em Presidente Figueiredo, Maués e outros municípios. Infelizmente, a situação atual não é favorável aos empregos. Podemos ter alguma data comemorativa que aponte alta momentânea no comércio e nos serviços. Mas, nada suficiente para modificar tendências. Tudo vai depender de políticas públicas e econômicas”, lamentou, acrescentando que a quantidade de pessoas que dependem do Auxílio Brasil no interior já superou seu estoque de postos de trabalho formais.

“Pé no freio”

Na mesma linha, o economista, advogado e administrador e consultor, Farid Mendonça, avalia que os números mostram uma recuperação, após os impactos da pandemia nos municípios, mas salienta que também há efeitos de sazonalidades. “A indústria mostra um número um pouco maior, mas talvez em decorrência dos projetos aprovados de agroindústrias. Em alguns municípios, há incentivos fiscais, pelo Codam. Mas vejo muito mais um andar de lado do que um crescimento forte”, ponderou.

O economista concorda que o panorama apresenta entraves globais, mas destacou que o fato de o ano ser político mantém os agentes econômicos na expectativa –especialmente diante do impasse em torno da crise do IPI e do contencioso do Amazonas com São Paulo sobre os créditos presumidos de ICMS. “Acho que a gente já está sentindo o impacto dos decretos, apesar da liminar. O investidor fica esperando para ver se ela vai virar decisão de mérito ou não. E o interior acaba pegando a rebarba da capital e sente o pé no freio dos investimentos. Digo isso porque a pauta da última reunião do Conselho de Desenvolvimento do Estado já veio com menos aportes”, encerrou.

Acionados por intermédio de suas respectivas assessorias de imprensa, o titular da Sedecti (Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação), Angelus Figueira, e o presidente da AAM (Associação Amazonense de Municípios) e prefeito de Manaquiri, Jair Souto, não retornaram as perguntas da reportagem do Jornal do Commercio até o fechamento desta edição.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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