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Empreendedorismo jovem volta a crescer, mas ainda está abaixo do patamar pré-pandemia

As dificuldades para os jovens no mercado de trabalho já são conhecidas, dada a pouca experiência profissional e a baixa qualificação. Dados do IBGE apontam que a taxa de desemprego entre os brasileiros de 18 a 24 anos ficou em 29,5% no segundo trimestre deste ano, mais do que o dobro da média no país (14,1%). Os jovens, por outro lado, também são minoria entre os donos do próprio negócio, sendo que apenas 6,8% dos empreendedores brasileiros (ou 1,94 milhão de pessoas) estavam nessa faixa etária, no mesmo período.

A boa notícia é que houve um crescimento de 30,20% em relação ao segundo trimestre de 2020 (5,8% do total, ou 1,49 milhão) – período de ensaio de retomada pós-primeira onda. A má é que a expansão não foi suficiente para repor os cortes impostos pela pandemia. Na verdade, antes mesmo da crise sanitária, já vinha ocorrendo uma queda da participação dos jovens no empreendedorismo. Em 2016, eles correspondiam a 7,2% dos empreendedores. 

É o que mostra o estudo Empreendedorismo Jovem no Brasil, realizado pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e à Pequena Empresas), no segundo trimestre de 2021. Conforme observado nas demais faixas etárias, os jovens proprietários de MPEs (micro e pequenas empresas) estão predominantemente concentrados nas atividades do setor terciário. Serviços (46%) e comércio (22%) ocupam os primeiros lugares, sendo seguidos de longe por construção (14%), agropecuária (12%) e indústria em geral (6%). 

Segundo o estudo, que se apoiou na base de dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua do IBGE, a maior parte dos empreendedores de até 24 anos de idade está no Sudeste (38%). O Nordeste (28%), o Sul (14%), o Centro-Oeste (12%) e o Norte (8%) ocupando as posições seguintes. Na divisão por unidades federativas, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro concentram a maior parte dessas fatias. O Amazonas 2,9% do total, o equivalente a 56.292 pessoas. Na região Norte, perde apenas para o Pará (5,2%).

Perfil dos empreendedores

O levantamento detectou ainda que os donos de negócios com até 24 anos são os menos formalizados. Enquanto nas outras faixas etárias a formalização gira em torno de 30% a 35%, entre os jovens apenas 16% têm CNPJ. Também são os que menos contribuem para a Previdência Social (17%) e que apresentam a maior proporção dos que ganham menos. Pelo menos 66% têm renda até um salário-mínimo, fatia significativamente maior do que os 52% detectados entre os que tem mais de 65 anos – a faixa etária melhor remunerada. 

Entre os jovens empreendedores, 35% são mulheres. É um percentual superior à média geral (34%), mas fica aquém das fatias verificadas nas faixas de 25 a 34 anos (39%) e entre 35 e 44 anos (37%). O grupo também apresenta, de longe, a maior proporção de pessoas que se classificam como “negras”, “pretas” ou “pardas” (59%). Nos segmentos de idade seguintes, o percentual vai declinando, até chegar aos 38%, entre aqueles que estão com mais de 65 anos. Em sentido inverso, os “brancos” vão aumentando gradativamente sua participação do grupo mais jovem (40%) até chegar ao mais idoso (60%).

Os empreendedores mais jovens são também os que têm maior proporção de ensino médio (49%), resultado que, segundo o Sebrae, vem crescendo nas últimas duas décadas. Em contraste, também apresentam a menor parcela de pessoas com nível superior. São os que mais se dedicam a um único trabalho (98,5%) e também os que mais trabalham por conta própria (95%), já que apenas 5% têm algum funcionário – sendo que 80% desse grupo empregam no máximo quatro pessoas. Em termos de posição familiar, os jovens são prioritariamente filhos (56%) e minoritariamente “chefes de domicílio” (20%).

“Educação empreendedora”

Em texto postado no site Agência de Notícias Sebrae, o presidente da instituição, Carlos Melles, informou que o a pandemia fez o país perder em torno de 464 mil empreendedores jovens, no segundo trimestre de 2020. O dirigente acrescentou que a melhora do cenário, por meio da intensificação do processo de imunização, as flexibilizações dos decretos de isolamento social, e a maior circulação de pessoas, fez com que aproximadamente 446 mil pessoas desse grupo começassem a empreender ou retornassem à atividade que haviam largado.

O presidente do Sebrae reforça também que, além da baixa participação dos jovens no empreendedorismo, estes também são os que mais sofrem com a falta de emprego. Segundo o dirigente, entre os brasileiros com 18 a 24 anos, a taxa de desemprego é historicamente duas a três vezes superior à média do país, e na pandemia superou a marca dos 31%. “A falta de experiência e capacitação são dois fatores que influenciam fortemente o resultado, seja porque isso dificulta a obtenção de um emprego ou porque eles não foram preparados para investir em um negócio próprio”, salientou. 

Melles destaca que o levantamento revela a necessidade de implementação da educação empreendedora nas escolas e a criação de políticas públicas que incentivem e apoiem os jovens para serem donos de seus próprios negócios. “Sabemos que a educação empreendedora pode melhorar muito esses indicadores e, por isso, temos trabalhado em parcerias com o Ministério da Educação, governos estaduais e municipais e entidades ligadas à educação”, ressaltou. 

“Fuga de conhecimento”

Em entrevista à reportagem do Jornal do Commercio, a gerente da unidade de Gestão e Estratégia do Sebrae-AM, Socorro Correa, avaliou que a temática da sondagem é “importante” e lamentou que o modelo de empregabilidade no país ainda leve em consideração apenas a experiência e não a potencialidade do profissional. “Com isso, jovens altamente capacitados concorrem com profissionais qualificados e experientes. Por falta de emprego, o capital humano jovem está saindo do país. Fuga de conhecimento. O empreendedorismo tem de ser mostrado aos jovens como algo factível para todas as áreas do conhecimento”, afiançou.

Indagada sobre o perfil do jovem amazonense que procura atuar no empreendedorismo e se este pertenceria a um estrato social que permitiria viagens internacionais, a executiva disse que o Sebrae Amazonas não tem dados locais, mas destacou que é notório o número de jovens em busca de emprego e/ou de condições para empreender, em âmbito local. Ela recomenda aos interessados que estes procurem se informar sobre o segmento em que desejam atuar. “É preciso buscar informações sobre o segmento que ele ou ela vai atuar, os produtos, mercado abastecedor, clientela, obrigações de uma empresa, custos, retorno, entre outros dados”, encerrou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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